Visitas a casa de amigos ou familiares duplicaram entre março e maio
Um inquérito do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) sobre a adaptação à covid-19 concluiu que de 23 de março a 10 de maio duplicaram as visitas a casa de familiares ou amigos, foi hoje anunciado.
© Reuters
País Saúde pública
Os dados divulgados hoje no relatório "Diários de uma Pandemia", uma iniciativa desenvolvida pelo ISPUP e pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), no Porto, analisaram a evolução do trabalho fora de casa e teletrabalho, contactos presenciais e à distância, saídas para estabelecimentos comerciais e o risco de infeção.
De 23 de março a 10 de maio, inscreveram-se no estudo 13.517 pessoas, com idades entre os 16 e 89 anos.
O documento, a que a Lusa teve hoje acesso, mostra que ao longo das sete semanas "duplicaram as idas a casa de amigos ou familiares", passando de 8% para 16%, sendo que estas visitas foram "mais reportadas" pelos residentes nas zonas Norte, Centro e Alentejo.
"Este aumento observou-se em todas as idades, embora as visitas tenham sido sempre mais frequentemente feitas pelas pessoas mais jovens", refere o relatório, adiantando que nas pessoas com menos de 40 anos a frequência passou de 7% para 18% e nas pessoas com mais de 60 anos de 6% para 10%.
Paralelamente, a percentagem de pessoas que diariamente tiveram contacto presencial com cinco ou mais pessoas fora do agregado familiar "quase duplicou", passando de 16% para 30%.
Dos inquiridos, os profissionais de saúde foram os que mais referiram ter tido contactos (48% em maio), seguindo-se os profissionais dos setores primários (43% em maio) e secundários (39% em maio).
O relatório indica que este aumento de contactos presenciais diários "possivelmente" reflete o regresso à atividade profissional que, de 23 de março a 10 de maio, aumentou "perto de 50%".
"O aumento foi gradual, mas era já nítido antes do fim do estado de emergência", lê-se no documento, que adianta que as saídas foram mais frequentes nos profissionais de saúde, nos profissionais dos setores primário e secundário, bem como "nas pessoas com um menor grau de escolaridade".
"O que sugere um desconfinamento seletivo dos trabalhadores das profissões manuais ou não especializadas, em que o teletrabalho também decresceu mais", refere o relatório.
Por outro lado, as saídas diárias para supermercados, hipermercados ou mercearias "decresceram" durante o mês de abril e "voltaram a aumentar" em maio para valores semelhantes aos registados no final do mês de março.
Já as deslocações a outros estabelecimentos, excluindo supermercados e farmácias, "duplicaram" ao longo das sete semanas, passando de 8% para 16%, embora o relatório sublinhe que as mesmas já tinham aumentado "para 12% na última semana do estado de emergência".
No que concerne ao risco de infeção, o relatório indica que a percentagem de pessoas que referiram ter contactos recentes com casos suspeitos ou confirmados de covid-19 desceu "para menos de metade", passando de 5,5% para 2,4%.
"Estes resultados sugerem que o desconfinamento poderá estar mais relacionado com a necessidade profissional, bem como com a aceitação e gestão do risco, do que com uma mudança na perceção desse risco pelos cidadãos", conclui o documento.
"Os Diários de uma Pandemia", também desenvolvidos em colaboração com o jornal Público, visam, com base em dados sobre as rotinas diárias da população, compreender a adaptação à covid-19.
Portugal contabiliza 1.247 mortos associados à covid-19 em 29.432 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.
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