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Filho acusa lar de não deixar falar com pai que sofre de demência e Covid

Sindicato dos jornalistas já escreveu às ministras do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e da Saúde a questionar a atuação do lar CBESQ, em Queluz.

Filho acusa lar de não deixar falar com pai que sofre de demência e Covid
Notícias ao Minuto

10:26 - 28/05/20 por Notícias Ao Minuto

País Covid-19

O filho do ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas e preso político por dirigir esta instituição acusa o lar onde o pai está institucionalizado, com demência e Covid-19, de não deixar a família contactar com ele, nem por “telefone nem via internet”.

A denúncia foi publicada no blog Manifesto 74 e é tocante. “Nos piores momentos, o meu pai, de 89 anos, estava tão confuso que achava que estava no forte de Peniche. Eu tentava explicar-lhe que não estava preso, mas era em vão […]. E eu, a chorar, garantia-lhe que não, papá, que já estás livre, porra, que fizeste o 25 de Abril”, começa o texto, assinado pelo filho de António Santos, que partilha o nome com o pai.

De seguida, António Santos relata o que está a acontecer. “Quando o meu pai testou positivo para a Covid-19, o lar decidiu que a família não pode contactá-lo. Nem por telefone, nem via internet. Nem quando o meu pai foi preso político, encarcerado por presidir ao Sindicato dos Jornalistas, esteve completamente incomunicado. Até os fascistas permitiam que os presos, de vez em quando, falassem com a família”, lê-se na nota.

Além de não poder falar nem com a mulher, nem com os filhos, o idoso está, segundo o filho, “confuso, sozinho num quarto, 24 horas por dia” e um “estado de saúde precário” a que se junta a infeção pelo novo coronavírus que “não dá expetativas animadoras”.

“Explicámos ao CBESQ, um lar para os lados de Queluz, que se nos privarem do direito de falar com ele enquanto estiver infetado, podemos nunca mais falar com ele. Insistimos que não há quaisquer razões sanitárias para não introduzir permanentemente um tablet no quarto dele, mas a direção do lar não concorda”, lamenta António Santos, lembrando que “em Portugal ninguém pode ser provado no direito a contactar a família”.

“Nem aos perpetradores dos crimes mais hediondos é negada essa chamada telefónica. Mas dentro de incontactáveis lares de idosos deste país não impera a lei da república, mas a lei do mais forte. O que a direção decide é lei: podem transformar recomendações em obrigações; podem virar do avesso direitos e chamar-lhes proibições; podem até mudar de opinião arbitrariamente e dizer o contrário e o oposto… Podem fazer quase tudo, que ninguém se atreve a protestar porque, afinal de contas, são eles que têm os nossos familiares como reféns”, denuncia ainda.

E o Estado? “O Estado retirou-se das suas obrigações sociais com a terceira idade, lavou as mãos como Pilates e passou a bola a milhares de pequenos tiranetes privados, que dão a cruz a beijar aos utentes com a mesma facilidade que proíbem os familiares de se aproximarem mais do que quatro metros sobre uma piscina de lixívia”, diz António Santos, recordando que este não é um problema apenas do seu pai.

“Este é um problema de milhares de idosos sequestrados em lares a que a Covid-19 veio partir a espinha. As faltas já lá estavam todas: de recursos humanos, de salários dignos, de formação, de licenciamento, de transparência, de higiene, de estímulo intelectual, de qualidade. A Covid só veio dar o golpe de misericórdia”, atira.

Antes de terminar, António revela que participou à PSP que os “direitos humanos” do pai estão a ser atropelados e que um agente, “educadíssimo”, relembrou-lhe que “agora estamos em estado de calamidade” e que o pai tem Covid-19.

Perante esta denúncia e “estando em causa os direitos cívicos, que cabe também ao jornalismo defender”, o Sindicato dos Jornalistas escreveu às ministras do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e da Saúde, “questionando a atuação do referido lar”.

A mesma instituição apela “à intervenção urgente das autoridades competentes para assegurar o respeito por direitos humanos fundamentais, que não foram suspensos em contextos de pandemia”.

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