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600 alunos tentam entrar no Conservatório Nacional de Música

Cerca de 600 alunos candidataram-se este ano para entrar na Escola de Música do Conservatório Nacional, em Lisboa, mas poucos vão conseguir realizar o seu sonho.

600 alunos tentam entrar no Conservatório Nacional de Música
Notícias ao Minuto

06:32 - 27/06/20 por Lusa

País Exames

Nestes últimos dias do ano letivo, as salas de aula do Conservatório Nacional, que agora funciona nas Oficinas do Liceu Marquês de Pombal, transformaram-se em estúdios de audição. Tomás Beles tem 10 anos e foi prestar provas para guitarra, enquanto Matilde Santos, de 9, mostrava os seus dotes com o requinta, um clarinete pequeno.

Tomás e Matilde são apenas dois dos cerca de 600 jovens que se inscreveram à procura de um lugar na Escola de Música do Conservatório Nacional, contou à Lusa Lilian Kopke, diretora da escola, que este ano voltou a ficar em primeiro lugar no 'ranking' da Lusa relativo às escolas públicas do 9.º ano.

"Temos muitos candidatos para iniciação e básico e sinto-me mal por mandar tanta gente embora", desabafou, explicando que nas iniciações, destinadas aos alunos do 1.º ciclo, abrem apenas duas turmas de 20 alunos, ou seja, "não entram mais do que 40 alunos" em Lisboa.  

Depois, no 5.º ano, há outras duas turmas com 20 alunos e finalmente uma turma para o ensino secundário e outra para o ensino profissional. São muito poucas vagas para muitos candidatos.

"Acho muito cruel não permitir que as crianças não tenham educação musical", lamentou Lilian Kopke, explicando que só não ficam com mais alunos porque a escola não tem capacidade.

A diretora gostava que Portugal seguisse o exemplo de outros países, onde as escolas públicas têm núcleos ou clubes de música e os alunos aprendem a tocar um instrumento, à semelhança do que acontece no Conservatório Nacional.

A opinião é partilhada pelo pai de Tomé Beles: "O ensino artístico deveria fazer parte do currículo normal dos alunos, que deveria integrar a arte de forma mais consistente", defendeu Edgar Beles, enquanto o filho de 10 anos prestava provas de guitarra.

Tomé, que "estuda música desde bebé", já tinha tentado entrar no conservatório no ano passado. Agora espera conseguir uma vaga no 6.º ano.

Também Miguel Santos, pai de Matilde, admitiu à Lusa que gostava que a filha ficasse na "melhor escola de música do país", acreditando que o ensino artístico "faz a diferença", sendo uma mais-valia em muitas áreas, desde a concentração até no raciocínio matemático.

Matilde prestou provas perante o olhar atento dos dois avaliadores do conservatório e do pai. A sala enorme onde a menina de 9 anos fez a sua exibição encheu-se com o som do requinta e com o orgulho do pai, que mesmo assim teme que possa não ser suficiente. Miguel Santos contou à Lusa que também a irmã da Matilde está inscrita para prestar provas.

Segundo Lilian Kopke, a escola é muito procurada para os anos iniciais de estudo, depois a carga horária complica-se bastante e o mercado de trabalho também não é muito atrativo.

Catarina Álvares é uma dessas alunas. Entrou há nove anos, para o 1.º ano, e agora vai para uma escola secundária tradicional seguir a área de ciências.

Na próxima semana, Catarina terá de entregar o violino, que alugou à escola. Quando quiser matar saudades, terá de usar o seu "violino pequenino para dar uns toques", contou à Lusa.

Já Tomás Pinto que também terminou agora o 9.º ano optou pelo ensino supletivo, ou seja, vai continuar a ter aulas de contrabaixo e, em simultâneo, seguir um curso de ciências num outro liceu.

Tomás Pinto sabe que as instalações atuais da escola não são as melhores, mas quando estavam no edifício secular do Conservatório Nacional, no Bairro Alto, a situação ainda era pior.

Depois de uma guerra para avançar com as obras, a maior escola de música nacional foi transferida para as oficinas do Liceu Marquês de Pombal, onde agora funcionam as aulas sem as condições acústicas apropriadas.

Segundo relatos de professores e alunos, o som dos instrumentos ouve-se, muitas vezes, de uma sala para a outra. Além disso, acrescentou a diretora, as diferenças térmicas - muito calor no verão e muito frio no inverno - degrada os instrumentos e torna o ensino mais difícil.

Apesar das dificuldades, alunos e professores apontam o ambiente familiar da escola onde toda a gente se conhece e trata pelo nome.

Segundo a diretora, cerca de 80% dos alunos dos cursos do ensino secundário e profissional da Escola de Música prosseguem os estudos superiores no estrangeiro e "a maior parte não volta a Portugal".

Lilian Kopke diz que estes alunos acabam por se destacar: "Temos muitos jovens de sucesso que vão para fora e são bons músicos e pessoas reconhecidas, o que também é bom para Portugal".

Os estudantes do 9.º ano da Escola Artística de Música colocaram o Conservatório Nacional em 1.º lugar ao conseguir a melhor média das escolas públicas nos exames nacionais do 9.º ano, (4 valores numa escala de zero a cinco), segundo um 'ranking' da Lusa, que analisou os resultados das provas do ano passado.

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