Morreu Jiri Menzel, o realizador de 'Comboios Rigorosamente Vigiados'
O cineasta checo Jiri Menzel, vencedor de um Óscar pelo filme 'Comboios Rigorosamente Vigiados', morreu no sábado, aos 82 anos, noticiou hoje a Rádio Praga, citando a mulher do realizador.
© Lusa
País Praga
Pioneiro da chamada Nova Vaga do cinema checo, na década de 1960, Jiri Menzel morreu em Praga, onde nascera, rodeado pela família, no termo de uma longa doença, segundo a mensagem da família.
Nascido em 23 de fevereiro de 1938, Menzel dirigiu mais de três dezenas de filmes, como 'Andorinhas por Um Fio' (1969), 'Os Fabulosos Homens da Manivela' (1979) e 'My Sweet Little Village' (1985).
Trabalhou de perto com o escritor checo Bohumil Hrabal (1914-1997), nomeadamente nas primeiras curtas-metragens, do início da década de 1960, e na adaptação da sua novela 'Comboios Rigorosamente Vigiados', que lhe deu o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 1967, quando tinha apenas 29 anos.
A obra, uma comédia dramática que decorre no final da II Guerra Mundial, perante a violência e a decadência das forças nazis de ocupação, centra-se num incauto jovem que as circunstâncias transformam em herói.
O encontro com o escritor aconteceria também em 'Andorinhas por Um Fio', a longa-metragem de 1969, apreendida pelas autoridades da antiga Checoslováquia, que o proibiram de filmar até 1974. O filme viria a ganhar o Urso de Ouro de Berlim, quando chegou aos ecrãs, em 1990.
Outros filmes de Menzel sobre textos de Bohumil Hrabal são 'My Sweet Little Village', da década de 1980, e o mais recente 'Eu que Servi o Rei de Inglaterra', de 2006.
À semelhança do romance, que se encontra publicado em Portugal, o filme persegue a realidade do país de Menzel, desde o final da Grande Guerra de 1914-18, até aos mais duros anos sob o domínio de Moscovo e à impossibilidade de qualquer primavera em Praga.
Em 2017, numa entrevista à agência espanhola Efe, pouco antes de se afastar da vida pública, Menzel atribuiu o sucesso da sua primeira longa-metragem, 'Comboios Rigorosamente Vigiados', com a geração de cineastas checos da época, como Jan Kadar e Elmar Klos, também distinguidos em Hollywood, e depois com Milos Forman, que viria a fixar-se no Ocidente e a fazer filmes como 'Voando Sobre Um Ninho de Cucos' e 'Amadeus'.
Menzel recordou porém cineastas que se mantiveram para lá do Muro que então dividia a Europa, como Vera Chytilova, Jan Nimec, Ivan Passer, Jaromil Jires ou Evaldo Schorm, revelados em festivais como os de Cannes e Berlim.
"Eu não teria tido sucesso se não fosse por nomes como Forman, Chytilova ou Nimec, que deram ao cinema checo um brilho insuspeito", e tinham em comum uma "reação natural à desonestidade de filmes ideológicos", da corrente dominante, afirmou.
Esses filmes, no entanto, foram feitos "por bons autores que tiveram de se acomodar ao que os líderes bolcheviques queriam", ressalvou Menzel à Efe.
Em agosto de 1968, a invasão da antiga Checoslováquia, pelas tropas soviéticas, pôs fim à chamada Primavera de Praga e ao clima de liberdade artística que a sociedade experimentara nos meses anteriores.
Além de dirigir, Menzel foi também ator e professor da Academia de Cinema de Praga. O realizador sérvio Emir Kusturica foi um de seus discípulos.
'Pearls of the Deep', produção de 1965, que articula cinco curtas-metragens de Menzel, Nemec, Schorm e Chytilova, inspiradas em contos de Hrabal, teve exibição portuguesa em 2017, no âmbito do festival DocLisboa.
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