Crise política? "Capacidade de resposta do OE é que vai determinar"
O candidato do PCP às eleições presidenciais de 2021, João Ferreira, foi entrevistado, esta segunda-feira, na SIC Notícias.
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Durante a sua intervenção, a propósito das cerimónias do 5 de outubro, o Presidente da República apelou à ética republicana e à convergência, indicando que isso significa colocar o interesse público acima de interesses individuais. O candidato do PCP às eleições presidenciais de 2021, João Ferreira, foi entrevistado esta segunda-feira na SIC Notícias e, quando confrontado sobre o que teria acrescentado [a esse discurso], considerou que "ganhamos, em primeiro lugar, com uma correta identificação dos problemas".
Concordando que a questão do estado de exceção teve um grande ênfase no discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, João Ferreira alertou que "isto não deve ser desacompanhado de uma explicação dos problemas que enfrentamos".
"Não é muito avisado ficarmos com uma declaração vaga de um estado de exceção, mais ainda quando sabemos que, no passado, estados de exceção foram invocados para implementar determinadas soluções que não contribuíram propriamente para ajudar o país a enfrentar o seus problemas", sublinhou.
O candidato do partido comunista concorda que "há questões, sem dúvida, que foram agravadas pela situação da pandemia", mas na "sua esmagadora maioria, já vinham de trás". Problemas esses, continuou, que "resultaram de uma elevadíssima dependência externa, uma subordinação até do ponto de vista económico, mas também do ponto de vista político do país, que limita a capacidade de resposta a problemas".
"Creio que à cabeça, não há como não identificar a necessária validação dos trabalhadores. Isto está ligado com outro problema que temos no país: a injusta distribuição da riqueza. Continuamos a ter em Portugal pessoas que empobrecem a trabalhar", acrescentou, mencionando ainda que "a debilidade do país no ponto de vista da sua capacidade produtiva", é outro dos problemas.
João Ferreira vincou ainda que só a partir desta identificação de problemas é "que podemos encontrar as respostas e toda a convergência possível nessas respostas".
Confrontado com o recado que Marcelo Rebelo de Sousa tem vindo a dar aos partidos e Governo, de não se acrescentar uma crise política às crises que já temos - a pandémica e económica - e sobre qual a posição do partido comunista face ao Orçamento de Estado para 2021 [OE2021], o candidato às presidenciais demarcou-se dizendo que "seguramente o PCP poderá falar por si".
"O que lhe posso dizer em relação ao Orçamento de Estado, é que estranho, de alguma forma, a postura que tem sido assumida por vários protagonistas, inclusive pelo Presidente da República, de apelar em abstrato à necessidade de um documento que não se conhece", admitiu, sublinhando que, neste momento, "era essencial estarmos a debater, não de que maneira o OE deve ser aprovado, mas o que deve conter".
"É indiscutivelmente necessária a valorização do trabalho"
Questionado sobre de que é que é o PCP não abdica para viabilizar o Orçamento de Estado, João Ferreira voltou a evitar a questão, respondendo com aquilo a que considera necessário que o OE2021 dê resposta.
"É indiscutivelmente necessária a valorização do trabalho, por via do aumento salarial. Não apenas para uma maior justiça social, mas para dinamizar a retoma da atividade económica", vincou, referindo ainda que "toda a gente compreenderá que, olhando hoje para o salário mínimo nacional, não é aumentando uns poucos cêntimos por dia que vamos resolver o problema".
Além da valorização do trabalho, é ainda essencial que o OE2021 dê resposta ao reforço dos serviços públicos em geral, e "fundamentalmente, no que diz respeito à Saúde".
"Temos de perceber de uma vez por todas que o Serviço Nacional de Saúde, que foi aquilo que nos valeu e nos está a valer apesar do sub-financiamento crónico, tem de ser fortalecido. Está aí a capacidade de resposta aos problemas que estamos a enfrentar neste momento no domínio da saúde. Agora, isso exige dar ao SNS os recursos que são imprescindíveis e não desviar recursos do SNS para alimentar o negócio que alguns grupos económicos privados fazem com a doença", disse João Ferreira, apontando ainda que a área da educação e a aposta na produção nacional são também pontos fulcrais.
Em última instância, rematou o candidato do PCP à Presidência da República, "a capacidade que o OE tiver de responder aos problemas concretos hoje sentidos pelas pessoas, pelo país, é que vai determinar se temos mais crise, mais instabilidade ou mais estabilidade".
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