Morte natural de Ihor desmentida por autópsia. Médico pediu investigação
O médico que realizou a autópsia, e que já não trabalha no Instituto de Medicina Legal, desmentiu a versão do médico do INEM que prestou socorro a Ihor Homeniuk, que alegou causas naturais.
© Global Imagens
País Ihor Homeniuk
A equipa de emergência pré-hospitalar do INEM que socorreu Ihor Homeniuk, no dia 12 de março, atestou que o ucraniano morreu de causas naturais, por paragem cardiorrespiratória. Esta foi, porém, uma tese desmentida pelo relatório da autópsia feito por um médico que, aliás, já não trabalha no Instituto de Medicina Legal.
A RTP teve acesso ao relatório que o médico do INEM, que foi chamado às instalações do SEF no aeroporto de Lisboa, preencheu e onde declarou que encontrou o corpo em situação de paragem cardiorrespiratória.
Ouvido pelo meio de comunicação, Duarte Nuno Vieira, ex-presidente do Instituto de Medicina Legal, acredita que o médico do INEM em causa alega ter feito "manobras de reanimação cardiopulmonar", mas aponta falhas à atuação do colega.
"Tendo constatado as condições em que aquele corpo se encontrava, que são atentatórias da dignidade da pessoa humana, tratando-se de alguém que estava sob custódia, e havendo manifestações objetivas de lesões traumáticas na superfície corporal, ele deveria ter sido um bocadinho mais cuidadoso e deveria ter assinalado isso na verificação do óbito. É isso que se ensina nas faculdades de Medicina".O corpo de Ihor seguiu para autópsia e o médico Carlos Durão desconstruiu a teoria de morte natural. Num documento em que a RTP também teve acesso, e onde revela que constam "fotografias chocantes", são descritas minuciosamente múltiplas equimoses dispersas pela face, fratura de arcos costais, equimoses no tronco, abdómen, braço, antebraço, coxa e perna.
O médico defende, no final do relatório do autópsia, que o corpo do ucraniano de 40 anos apresentava lesões traumáticas compatíveis com agressão e que não havia sinais de manobras de reanimação. Por fim, concluiu que a causa da morte foi asfixia mecânica
Dois dias depois da morte, o mesmo médico que realizou a autópsia comunicou ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa que tudo apontava para uma "morte por homicídio por asfixia mecânica", apelando por isso ao "esclarecimento pela autoridade policial competente".
Carlos Durão deixou, entretanto, de trabalhar do Instituto de Medicina Legal, o que o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forense (INMLCF) justifica pelo facto de o médico ter publicado um artigo científico com fotografias de um cadáver autopsiado no INMLCF, com fotos da face. Esta conduta viola o regulamento interno da instituição e, por isso, Carlos Durão "rescindiu o contrato".
O cidadão ucraniano terá sido vítima do crime de homicídio por parte de três inspetores do SEF, já acusados pelo Ministério Público, com a alegada cumplicidade de outros 12 inspetores. O julgamento deste caso terá início em 20 de janeiro.
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