Numa audição na comissão de Defesa Nacional, que decorre na Assembleia da República, o ministro João Gomes Cravinho respondeu a algumas das críticas que foram feitas por ex-militares à Lusa sobre a reforma da estrutura de comando das FA, que alarga as competências do Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.
"Efetivamente houve algumas reações, eu diria também reações algo, enfim, excessivamente precoces, na medida em que os próprios não conhecem o enunciado daquilo que se propõe, não conhecem aquilo que são as propostas concretas", respondeu o governante depois de ter sido questionado sobre estas críticas pelo deputado comunista António Filipe.
O ministro vincou que não se estão a viver "guerras passadas" e que, apesar de "todo o respeito e consideração" que tem pelos militares citados, estes "travaram grandes batalhas para preservar a autonomia dos seus próprios ramos quando eram chefes".
E acrescentou que, com a reforma prevista, "não se pretende, de uma penada, resolver tudo aquilo que há a resolver nas Forças Armadas".
Para Gomes Cravinho, "de algum modo se está a desviar a atenção para outra matéria" quando se diz "pode-se fazer uma reforma mas isso não resolve o problema da falta de equipamento".
"Não sei exatamente qual é o equipamento que os chefes queriam ver aumentado, eventualmente vindo eles de três ramos talvez fossem equipamentos diferentes", ironizou, vincando que "isto é desviar a atenção da essência".
O governante reconheceu que existem falta de recursos, mas salientou que está "em curso o maior programa de investimento nas FA desde o 25 de abril, que é a Lei de Programação Militar".
"Eu devo dizer que não estou a pensar no que se passou em 2009" -, continuou o governante, fazendo referência a uma outra reforma feita nesse ano -, "estou a pensar nos desafios de 2020 e 2030 e portanto estou muitíssimo interessado nas reações, nas ideias, dos oficiais que estão no ativo, dos oficiais superiores, dos oficiais subalternos, daqueles que vão ser das FA do futuro".
"Não desprezo de forma alguma a experiência do passado, mas penso que tem que deve ser equilibrada também com o que vem para o futuro", rematou.
Em entrevista à Lusa, na passada semana, Gomes Cravinho tinha adiantado a intenção de alargar as competências do Chefe do Estado-Maior das FA (CEMGFA) para que este tenha "à sua disposição, a qualquer momento, as forças de que precisa para executar as suas missões" e favorecer uma "visão de conjunto" sobre as necessidades e processos de investimento das Forças Armadas".
"Este é um objetivo enquadrado pelo programa do Governo, visando adaptar as FA para responderem a missões cada vez mais complexas, empregando eficientemente os recursos públicos e no sentido de melhorarmos significativamente a nossa capacidade de pensar as FA como um conjunto, e não apenas uma soma de três ramos", defendeu hoje o ministro, na Assembleia da República.
A ideia já mereceu críticas de três antigos chefes militares: o general piloto-aviador Luís Araújo, CEMGFA entre 2011 e 2014, o almirante Melo Gomes, antigo Chefe do Estado-Maior da Armada (Marinha) e o general Pinto Ramalho, ex-Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME).
Por seu lado, o general Valença Pinto, ex-CEME, manifestou-se favorável ao modelo proposto.
Ouvidos pela Lusa, deputados da Comissão de Defesa Nacional de PSD e CDS-PP demonstraram na semana passada recetividade para o reforço de poderes do CEMGFA, mas reservaram uma posição definitiva para quando a legislação for conhecida, enquanto bloquistas e comunistas não se quiseram pronunciar para já.