Sindicato dos Jornalistas solidário com profissionais da Teledifusão
O Sindicato dos Jornalistas (SJ) de Portugal manifestou hoje "enorme preocupação" e "solidariedade" com os jornalistas em língua portuguesa e inglesa da Teledifusão de Macau (TDM), após diretivas proibindo-os de divulgar informações contrárias às políticas da China.
© Lusa
País Macau
Numa nota enviada hoje à agência Lusa, o SJ disse que "acompanha a 'enorme preocupação' manifestada pela AIPIM", a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau, em relação às "novas orientações editoriais a serem implementadas nos serviços em português e inglês da Teledifusão de Macau (...), transmitidas aos jornalistas da TDM numa reunião que teve lugar no dia 10 de março".
Na quarta-feira, os cerca de 40 jornalistas de língua portuguesa e inglesa de emissora pública de Macau, que conta com canais de televisão em português, inglês e chinês, e ainda com rádio em língua portuguesa e chinesa, foram notificados para comparecer numa reunião com a direção de informação, uma informação denunciada por um deputado de Macau e confirmada à Lusa por vários jornalistas da estação.
Os pontos transmitidos verbalmente pela direção de informação incluem diretrizes como "a TDM divulga e promove o patriotismo, o respeito e o amor à pátria e a Macau" e "o pessoal da TDM não divulga informação ou opiniões contrárias às políticas do Governo Central da China".
Na nota enviada à Lusa, o Sindicato dos Jornalistas de Portugal alertou "para as implicações de tais orientações para o livre exercício do jornalismo em Macau, onde trabalha um número significativo de profissionais portugueses".
De acordo com a nota, a presidente da Direção do SJ, Sofia Branco, "já falou ao telefone com o presidente da AIPIM", José Carlos Matias, "tendo este assegurado que existem canais de diálogo internos para tentar resolver a situação reportada".
O SJ expressou igualmente "a sua solidariedade com os profissionais dos serviços em português e inglês da TDM", através da AIPIM.
A AIPIM mostrou-se hoje preocupada com o livre exercício do jornalismo na emissora pública de Macau e pediu esclarecimentos à TDM, "por forma a garantir o pleno exercício da profissão", demonstrando igualmente "solidariedade com os (...) colegas profissionais dos serviços em português e inglês" da estação, "que merecem respeito, consideração e apoio".
Entre os vários pontos transmitidos às redações portuguesa e inglesa na reunião de quarta-feira, a AIPIM demonstrou muita preocupação com "uma indicação de impossibilidade do pessoal da TDM de 'divulgar informação ou opiniões contrárias às políticas do Governo Central da RPC'" e ainda o apoio às medidas adotadas por Macau.
"O ponto em questão é particularmente preocupante na medida em que colide com o pluralismo informativo e a busca do contraditório -- princípios basilares da atividade profissional dos jornalistas", para além de gerar "um clima de incerteza e receio, o qual tem um impacto muito negativo no trabalho do jornalista".
Um jornalista da TDM, que pediu para não ser identificado, disse na quinta-feira à Lusa que pelo menos um editor já colocou o lugar à disposição. O não cumprimento das novas diretrizes dá despedimento por justa causa, adiantou.
"Confirmando-se uma abordagem deste género, julgamos ser algo de injustificável e inaceitável", denunciou na mesma nota a AIPIM.
A emissora pública de televisão e rádio de Macau assumiu hoje que vai manter a atual política editorial, alinhada com o "princípio do patriotismo e do amor por Macau".
"A Teledifusão de Macau (TDM) não irá alterar a sua política atual em matéria de cobertura noticiosa", indicou a emissora, num comunicado em chinês, sem nunca se referir à reunião de quarta-feira onde foi lida a polémica diretiva, confirmada à Lusa por vários jornalistas da empresa e veiculada pelos 'media' locais.
"Enquanto organismo público de radiodifusão, a TDM continuará a cumprir a sua responsabilidade social nos meios de comunicação social e a aderir ao princípio do patriotismo e do amor por Macau", lê-se na mesma nota.
Até agora, o único deputado que criticou as novas diretivas foi o pró-democrata Sulu Sou.
"As mãos das autoridades já esperavam chegar ao mundo português e inglês como [fizeram com] os meios de comunicação chineses há cerca de 8/10 anos", denunciou, em declarações à Lusa.
A transferência da administração de Macau ocorreu no final de 1999, pouco mais de dois anos depois de a China ter recuperado a soberania sobre a antiga colónia britânica de Hong Kong.
Na lei básica de Macau, miniconstituição do território que deverá estar em vigor até 2049, lê-se que "os residentes de Macau gozam da liberdade de expressão, de imprensa, de edição, de associação, de reunião, de desfile e de manifestação".
As duas regiões têm autonomia em todas as áreas, exceto na diplomacia e na defesa.
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