"Tenho dito que não basta recuperar, é preciso reconstruir. Recuperar é voltar onde estávamos em fevereiro de 2020. E aí estávamos num país muito desigual, num Portugal com países e territórios muito diferentes entre si", afirmou, numa intervenção no final de uma iniciativa para assinalar o Dia Mundial de Teatro, em Belém.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, nessa altura, o país tinha já "fragilidades que vieram à superfície com a pandemia".
"Raspado o verniz que as cobria, as fragilidades estavam lá. Temos de converter as fragilidades em hipóteses de futuro", afirmou.
Depois de assistir a uma curta representação a cargo das Comédias do Minho, o chefe de Estado estabeleceu uma relação entre as fragilidades do país e a sua desigualdade territorial, e deixou um aviso.
"Descentralizar não é apenas fazer leis a dizer que se dá mais poderes, é dar mais meios para se exercerem esses poderes. Não é apenas reconhecer o papel das Câmaras Municipais e das Juntas de Freguesia, é permitir que se unam, que ganhem força, que tenham massa crítica para poderem levar mais longe a descentralização", disse, apontando este como um "desafio dos próximos tempos".
Na sua curta intervenção, o Presidente da República considerou que a cultura "foi talvez a atividade mais sacrificada pela pandemia" de covid-19.
"Mais do que o turismo, mais do que a hotelaria, mais do que a restauração, mais do que o comércio, mais do que a escola, porque parou", defendeu, salientando que as atividades culturais ficaram no "grau zero" desde março do ano passado e apenas desconfinaram por uns "meses curtos".
No Dia Mundial do Teatro, Marcelo Rebelo de Sousa fez questão de o assinalar com uma pequena representação presencial, com dois atores da companhia Comédias do Minho - Luís Filipe Silva e Joana Magalhães - num palco montado no jardim de Belém, e uma curta plateia com cadeiras espaçadas.
"Quando falámos sobre o que vamos fazer no Dia Mundial do Teatro, disse que era óbvio, vamos ao teatro. Mas ainda não se podia, ainda não cabe nesta fase do plano de desconfinamento", contou.
Agradecendo às Comédias do Minho terem vindo a Belém - já está prometida a devolução da visita, dentro de algumas semanas, se a pandemia permitir -, Marcelo Rebelo de Sousa destacou o exemplo desta companhia de teatro, que nasceu do investimento e da colaboração dos municípios de Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença e Vila Nova de Cerveira.
"Descentralizar é preciso, com mais meios: para fazer cultura, para fazer escolas, para fazer economia, longe dos sítios onde normalmente isso é feito, mas perto dos sítios onde queremos que as pessoas possam continuar a viver. Se não, uma parte do país fica desertificada", alertou.
Marcelo Rebelo de Sousa evocou as suas raízes minhotas, mas logo disse que também as tinha beirãs, o que considerou ser comum a muitos portugueses.
"Todos nós temos raízes de todo o mundo, não há nenhum português puro, não há um minhoto puro, um beirão puro, um alentejano puro, somos todos impuros, graças a Deus", disse.
Mas, lembrando ser Presidente de um Estado não confessional, logo corrigiu: "Graças àquilo que cada um entender como sua providência, seu acaso ou seu destino".
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