A leiloeira Côrte Real tinha no catálogo do 3.º Leilão de 2021, a decorrer entre hoje e sexta-feira, cinco lotes de chifres de rinoceronte, com valores estimados entre os 4.100 e os 8.600 euros cada.
Questionada pela Lusa sobre porque decidiu retirar da venda os objetos, a leiloeira, sediada no Porto, não quis justificar a decisão, nem porque manteve no catálogo três presas de elefante, que os ativistas ambientalistas também querem que sejam removidos.
Alex Hofford, militante da Wild Aid no Reino Unido, disse à Lusa que "a venda deste tipo de peças estimula a procura e a caça ilegal de animais em extinção", alimentando sobretudo o mercado asiático.
O comércio de marfim ou chifres de rinoceronte não é ilegal em Portugal se as peças tiverem mais de 40 anos, e a leiloeira Côrte Real atribuía a origem dos chifres de rinoceronte aos anos 1940-50.
Devido às restrições previstas na Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES), o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) tem de verificar e certificar as proveniência das peças.
Porém, o ambientalista britânico explicou à Lusa que, muitas vezes, a idade dos objetos não é possível ser confirmada porque os proprietários não autorizam os testes pois estes são invasivos, danificando ligeiramente o objeto.
Desde 2018 que as principais casas de leilões internacionais, Christie's, Sotheby's e Bonham's, se comprometeram a não vender mais chifres de rinoceronte e a venda de marfim também foi proibida no Reino Unido.
Desde esta manhã que a Wild Aid, que tem entre os seus embaixadores o príncipe William, o ator Leonardo di Caprio e o futebolista David Beckham, começou uma campanha nas redes sociais para denunciar o leilão em Portugal, incentivando os apoiantes a escrever à leiloeira.
A organização ambientalista portuguesa ANP/WWF associou-se ao protesto.
A coordenadora de comunicação, Rita Rodrigues, disse à Lusa que é positivo que os chifres de rinoceronte tenham sido retirados do leilão, mas que a organização vai continuar a fazer pressão para que as três peças de marfim também sejam removidas do catálogo.
"É importante que de futuro peças destas nem cheguem a leilão, na medida em que estimulam o tráfico de espécies de vida selvagem, particularmente para países com pouca regulação na matéria, como é o caso do nosso", vincou.
Em 2019, uma leiloeira também no Porto foi alvo de uma operação policial da GNR, que resultou na apreensão de 26 peças de marfim.