"Não há contacto humano, afetivo, emocional. Mas, apesar de todas as limitações, as aulas 'online' são um bom escape, sobretudo em confinamento", esclarece Lia Fernandes, em declarações à agência Lusa.
Na universidade sénior de Campolide, em Lisboa, todas as aulas práticas tiveram de ser suspensas, mantendo-se em regime 'online' as restantes disciplinas, como o clube de leitura, expressão dramática, canto, psicodrama, inteligência emocional e escrita criativa.
O número de alunos inscritos desceu de 80 para 14 devido às aptidões e condições dos alunos em casa, mas também porque "o que os fazia participar nas aulas era saírem de casa e ir até à Junta [de Freguesia], o convívio entre todos", explica Inês Brito, uma das coordenadoras da universidade.
Foi o medo de parar depois da reforma que levou Dina Patrícia a inscrever-se nesta universidade em 2015, e ter obtido um "número muito grande de relacionamentos" no decorrer do processo, incluindo com professores, faz com que agradeça ter dado de caras com a instituição.
A vice-presidente da Ordem dos Psicólogos Portugueses Renata Benavente revela que "o contexto laboral é uma das áreas das nossas vidas que nos permitem a socialização e o estabelecimento de redes com os nossos pares, sendo a universidade sénior uma boa opção para quem está perdido na pós-reforma porque as pessoas acabam por construir relações de amizade e encontrar-se fora dela".
Dina, de 67 anos, confirma que a transição do regime presencial para o ensino à distância "foi um desafio" porque as pessoas não estavam habituadas e o convívio não é o mesmo, mas acrescenta que foi ótimo ver que "tudo se pode fazer de outras maneiras".
"As aulas ['online'] têm ajudado muita gente porque quebram a monotonia para quem não tem mais nada e fazem companhia. Há pessoas que não têm um telefonema, família... Já ouvi uma pessoa dizer que 10 a 15 minutos antes das aulas ficava muito mais contente porque sabia que nos íamos juntar", frisa.
A aluna diz que não se tem ressentido da mudança porque tem muitas atividades e conversa com muita gente, mas reconhece que não sabe "como é que algumas pessoas estariam se não tivessem esta convivência".
Quem trabalha na universidade tem noção dos desafios trazidos pelo ensino à distância e tenta arranjar soluções.
Inês Brito conta que os professores falam muito das queixas dos alunos, para os quais "o confinamento foi uma situação muito negativa por estarem longe das famílias e amigos".
Por essa razão, "grande parte do tempo de algumas aulas foi para eles [alunos] desabafarem uns com os outros", o que, acredita, pode ajudá-los "a gerirem melhor esta situação, colmatando às vezes a ausência física".
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