Coimbra Martins, "uma vida ancorada nos valores mais nobres da liberdade"
A ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentou hoje a morte de António Coimbra Martins, "reconhecido intelectual, escritor, diplomata e político", defensor dos "valores mais nobres da liberdade", que considera "um dos grandes responsáveis pela projeção da cultura portuguesa".
© Rita Franca/NurPhoto via Getty Images
País Óbito
António Coimbra Martins, antigo ministro da Cultura, ex-embaixador de Portugal em Paris, nome chave na criação do Centro Cultural Português na capital francesa, através da Fundação Calouste Gulbenkian, morreu nesta cidade, aos 94 anos, anunciou na quarta-feira o Partido Socialista, do qual foi um dos fundadores.
Graça Fonseca recorda hoje o percurso de António Coimbra Martins, desde o nascimento, em Lisboa, no primeiro mês de 1927, ao seu afastamento da vida pública, já na viragem para os anos 2000.
"Foi um ilustre humanista e sonhador, um cidadão convicto e implicado com o seu tempo, que fez da cultura, do ensino e da política o seu modo de estar no mundo, num exemplar trajeto de vida sempre ancorado nos valores mais nobres da liberdade e do respeito pelo outro", escreve a ministra.
Formado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras Universidade de Lisboa, especialista em literatura portuguesa e francesa, tradutor de Jean-Paul Sartre, foi professor e leitor de português em várias universidades francesas como as de Montpellier, Aix, Marselha e Paris. Por ocasião do 25 de Abril era encarregado de conferências da École Pratique des Hautes Études de Paris, e mestre assistente associado da Sorbonne.
Em Portugal lecionou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde regeu a cadeira de literatura francesa.
Em Paris criou o Centro Cultural Português, em 1965, através da Fundação Calouste Gulbenkian, recorda ainda Graça Fonseca.
"Dividiria a sua vida entre Portugal e França, espraiando o seu talento e sabedoria, e revelando-se um dos grandes responsáveis pela projeção da cultura portuguesa além-fronteiras", escreve a ministra da Cultura.
No plano político, seria designado responsável pelos trabalhos da delegação portuguesa encarregada, em 1974, de preparar a reinserção de Portugal na organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Entre 1983 e 1985, desempenhou o cargo de ministro da Cultura no IX Governo Constitucional, liderado por Mário Soares.
Membro da Ação Socialista desde 1964, esteve na criação do Partido Socialista, em 1973.
"Perante este reconhecido percurso, não lhe faltariam vários agraciamentos oficiais dos governos português e francês", conclui a ministra da Cultura.
Entre os principais trabalhos do percurso intelectual de António Coimbra Martins destacam-se os "Ensaios Queirosianos" (1967) e "De Castilho a Pessoa: Achegas para Uma Poética Histórica Portuguesa" (1969), a par de investigações de caráter histórico como as reunidas em "Correia, Castanheda e as Diferenças da Índia" (1983) e "Em Torno de Diogo do Couto" (1985).
Na década de 1980, reuniu ainda "críticas, sátiras, discursos e depoimentos", em "Esperanças de Abril".
Foi o tradutor das obras de Jean-Paul Sartre ainda publicadas em Portugal na década de 1960 ("A Náusea", "As Mãos Sujas", "Os Sequestrados de Altona") e de outros títulos que a censura proibiu, como "Sem Saída", do pioneiro do Existencialismo, e "Jean de la lune", do dramaturgo francês Marcel Achard.
Com a aposentação, continuou o seu trabalho de investigação, frequentando regularmente a Biblioteca e participando nas atividades da delegação da Fundação Calouste Gulbenkian, em França.
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