Manuel Carmo Gomes foi o entrevistado de Vítor Gonçalves, esta quarta-feira, no programa 'Grande Entrevista', da RTP3, e, como seria de esperar, a pandemia da Covid-19 e a realidade nacional foram os temas centrais na conversa. O epidemiologista começou por referir que "é um pouco cedo para falar em quarta vaga" em Lisboa, tendo em conta os (elevados) números de novos casos que a região tem acumulado nos últimos dias, mas "a incidência está a aumentar no país, lentamente". 

"Tivemos um aumento desde há, pelo menos, um mês, que corresponde ao valor do Rt acima de 1, e é, essencialmente, na região de Lisboa e Vale do Tejo e, em particular no concelho de Lisboa que estamos a observar esse aumento maior", acrescentou o especialista. 

Perspetivando onde estamos, Manuel Carmo Gomes disse ser "indubitável" que Portugal, desde março, "é um país com bastante sucesso no controlo da epidemia". E a 'chave' do sucesso? É que "aprendemos com as lições do passado", considerou. 

"No início deste ano percebemos que não podíamos deixar que voltasse a acontecer aquilo a que assistimos em janeiro e precisávamos de orientações que nos guiassem e que nos colocassem metas que não podíamos ultrapassar. Esse trabalho foi feito em fevereiro e resultou num documento que foi apresentado ao Governo no início de março", recordou Carmo Gomes, falando acerca do já famoso 'Relatório das Linhas Vermelhas'. 

Para o epidemiologista, "Portugal demonstrou que é possível manter a epidemia sob controlo, desde que haja duas coisas". Primeiro, que "a incidência não seja muito alta" e, em segundo, "desde que tenhamos um programa de testagem muito forte". 

Lisboa vai chegar aos 240 casos por 100 mil habitantes? "Sim"

Questionado se o concelho de Lisboa poderá chegar aos 240 casos por 100 mil habitantes nas próximas duas semanas, Manuel Carmo Gomes foi taxativo: "Sim. É completamente possível".

"Não sei se não estaremos já lá. Mas, podemos resolver o problema e não precisamos de inventar a roda. Aquilo que nos fez ter sucesso desde março pode continuar a ser usado em Lisboa, ou seja, testagem em grande escala e, neste caso, dirigida em grupos particulares, os que mais socializam e estão a causar este aumento", completou. 

Já sobre a inversão da tendência da Covid-19 que se vinha a verificar em Lisboa - antes descendente e agora ascendente - o epidemiologista frisou que "atendendo às idades que estão a provocar este aumento da incidência, posso atribuir isso a um maior relaxamento das práticas de distanciamento, de cuidados, desses grupos mais jovens". 

"Se está ou não associado ao evento do Sporting... a DGS referiu, em comunicado, que já tinha identificado 20 pessoas que tinham contraído a infeção naquele contexto. Agora, isso não é, provavelmente, a única razão", considerou. 

Contudo, "poucos dias depois do evento [os festejos da conquista do campeonato], nós já estávamos a ver um aumento". "Não consigo demonstrar que existe uma associação inequívoca causa/efeito", terminou o especialista.

Recorde-se que Portugal não registou mortes associadas à Covid-19 nas últimas 24 horas, mas contabilizou 890 novos casos de infeção pelo novo coronavírus, mais de metade em Lisboa e Vale do Tejo, segundo a Direção-Geral da Saúde.

De acordo com o boletim epidemiológico de hoje, a região de Lisboa e Vale do Tejo registou 591 novos casos nas últimas 24 horas, o que representa 66,4 por cento do total nacional.

Já se encontra disponível o Relatório de Situação de hoje, 09 de junho. Consulte o relatório completo em https://t.co/GoTLqOwIOA #Saúde #SNS #DGS #UmconselhodaDGS #COVID19PT #estamoson @DGSaude @govpt pic.twitter.com/AcpNyScizU

— SNS_Portugal (@SNS_Portugal) June 9, 2021

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