O eucalipto e, em algumas zonas, a acácia, são dominantes na paisagem afetada pelo grande incêndio de junho de 2017, tendo muitos regenerado livremente em terrenos onde é visível um claro estado de abandono.
Apesar de as faixas de gestão hoje serem mais ou menos cumpridas nas principais estradas da região, o mesmo já não acontece em estradas secundárias, e as marcas do incêndio ainda se mantêm por todo o território, com muitas árvores queimadas a persistirem, de pé, passados quatro anos.
Para o engenheiro florestal e presidente da Acréscimo - Associação de Promoção ao Investimento Florestal, o território "está em verdadeiro colapso", apelidando o extenso mar de eucaliptal abandonado de "epidemia".
Hoje, há "uma carga de muito maior risco" do que havia em junho de 2017, face à combinação da regeneração natural, do aumento do abandono das terras e do material queimado que persiste nos terrenos, disse à agência Lusa Paulo Pimenta de Castro.
Para o especialista, os últimos quatro anos, no que toca à área florestal, foram marcados por um "imobilismo".
"Um dos problemas de quando se fica mais velho é que se vão perdendo as expectativas. Já tinha poucas expectativas depois dos incêndios de 2003 e de 2005 e poucas também em relação aos de 2017. Para serem criadas expectativas, não basta o anúncio de milhões de euros para o território. É preciso um corpo técnico que apoie os agricultores e os proprietários na alteração da paisagem", frisou.
Segundo Paulo Pimenta de Castro, o próprio modelo económico daquela região tem de ser alterado, apostando em culturas "que deixem riqueza nas regiões".
"Eu não vou questionar do ponto de vista ambiental [o investimento nos eucaliptos]. Eu ponho isto do ponto de vista do investidor. Qual a ideia de quem gasta dinheiro em replantações quando vemos ao redor uma epidemia? Não é por ter uma área bem gerida que se escapa à fúria do fogo", notou, recordando que as celuloses perderam mais de 10 mil hectares em 2017 em terrenos que seriam bem geridos.
De acordo com o especialista, o território precisa de "um exército no terreno" capaz de dar apoio técnico e comercial na intervenção na floresta e de uma aposta noutras culturas.
"Tem de haver um plano integrado, mas também um exército que o execute no terreno, porque estamos a falar uma população envelhecida, com pouca apetência para a mudança e sem acompanhamento de proximidade a tendência é de manter a inércia e a inércia impede que outros se acerquem desse território", afirmou o presidente da Acréscimo.
O incêndio que deflagrou ao início da tarde de 17 de junho de 2017, há quatro anos, no concelho de Pedrógão Grande, distrito de Leiria, provocou a morte a 66 pessoas e 253 feridos, sete dos quais graves, e destruiu cerca de meio milhar de casas e 50 empresas.
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