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Jorge Sampaio, "um melómano, homem de afetos e muito culto"

O músico e compositor João Gil lamentou hoje a morte de Jorge Sampaio, "um melómano, homem de afetos e muito culto", lembrando que foi o então Presidente da República que "provocou" o reencontro dos Trovante, em 1999.

Jorge Sampaio, "um melómano, homem de afetos e muito culto"
Notícias ao Minuto

21:36 - 10/09/21 por Lusa

País João Gil

Lisboa, 10 set 2021 (Lusa) - O músico e compositor João Gil lamentou hoje a morte de Jorge Sampaio,"um melómano, homem de afetos e muito culto", lembrando que foi o então Presidente da República que "provocou" o reencontro dos Trovante, em 1999.

"Jorge Sampaio era uma pessoa muito afetiva, um homem de afetos, um presidente, um melómano e um homem muito culto que fez toda a diferença, frisou João Gil em declarações à agência Lusa, numa reação à morte do antigo Presidente, hoje, aos 81 anos.

Lembrou ainda que foi Jorge Sampaio, então Presidente da República que "provocou" os Trovante -- banda que fundara em 1976 com Luís Represas, João Nuno Represas e Manuel Faria e que foi dissolvida em 1991 -- para um concerto, que viria a realizar-se em 1999, no Pavilhão Atlântico, em Lisboa

Foi na altura das comemorações do 25º aniversário do 25 de Abril de 1974 que o Presidente Jorge Sampaio incitou o grupo a reunir-se, oito anos depois de se ter desagregado - para um concerto ao vivo, "movido pela causa de Timor-Leste, por que sempre se bateu", contou João Gil.

"Timor", tema com música deste guitarrista e compositor e letra de João Monge que integrara o último álbum de estúdio da banda antes da extinção, "Um destes dias" (1990), fora o pretexto invocado por Jorge Sampaio para um concerto "de mobilização e de celebração" para a causa daquele território português anexado pela Indonésia desde dezembro de 1975.

"Um momento de celebração coletiva" que o concerto proporcionou -- e ao qual o Presidente assistiu -- que reuniu os portugueses em torno de uma causa que se arrastava há anos e sobre a qual "durante muitos anos, nem a esquerda nem a direita [política] falavam", disse.

O concerto viria a dar origem a um disco duplo ao vivo e um DVD, "Uma noite só", e a uma emissão televisiva.

E na questão de Timor-Leste, "o Presidente Jorge Sampaio também fez toda a diferença. Não apenas nos esforços diplomáticos, nacionais e internacionais, como no contributo para que os portugueses se unissem em torno daquela causa. O esforço e dedicação "cruciais" de Jorge Sampaio não pode também dissociar-se do referendo realizado em 1999 e posterior independência de Timor-Leste.

"Timor", que acabou por deixar os Trovante ligado à causa de Timor-Leste e que durante alguns anos funcionou como uma "senha de mobilização", não era, porém, uma canção nova, contou João Gil.

O tema remonta a finais de 1988 quando o compositor e guitarrista compôs um instrumental para um documentário da irmã Margarida Gil, "Flores amargas", com um coro em tetum, a língua nativa de Timor.

Na altura, achei que a música tinha "ação para os Trovante" e quando estávamos a gravar "Um destes dias", já depois da visita de João Paulo II à Indonésia e a Timor-Leste em que beijou o solo à chegada a Jacarta sem ter feito o mesmo depois quando chegou a Díli, "o João Monge fez a letra", explicou.

A música começou depois a ser tocada nos concertos, para "ajudar a abanarmos as consciências" para uma causa "importantíssima" e "tão pouco falada, disse.

O massacre do cemitério de Santa Cruz em Díli, em 12 de novembro de 1991, que causou mais de 270 mortos no próprios dia a juntar aos mais de 120 que acabaram por morrer em dias posteriores, acabou por impulsionar também o êxito do tema e a reunião dos portugueses em torno da causa.

Desde o concerto de 1999, os Trovante voltaram a atuar em conjunto em 2010, na edição do Rock in Rio Lisboa, que assinalou o 25º aniversário do festival, e na edição de 2011 da Festa do Avante, em que comemoraram os 35 anos de formação do grupo.

Jorge Sampaio era um homem que chorava, que se emocionava, e sempre que os portugueses choram, no sentido de que se emocionam, a mudança acontece", concluiu João Gil.

O antigo Presidente da República Jorge Sampaio morreu hoje aos 81 anos, no hospital de Santa Cruz, em Lisboa.

Antes do 25 de Abril de 1974, foi um dos protagonistas da crise académica do princípio dos anos 60, que gerou um longo e generalizado movimento de contestação estudantil ao Estado Novo, tendo, como advogado, defendido presos políticos durante a ditadura.

Jorge Sampaio foi secretário-geral do PS (1989-1992), presidente da Câmara Municipal de Lisboa (1990-1995) e Presidente da República (1996 e 2006).

Após a passagem pela Presidência da República, foi nomeado em 2006 pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas enviado especial para a Luta contra a Tuberculose e, entre 2007 e 2013, foi alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações.

Atualmente presidia à Plataforma Global para os Estudantes Sírios, fundada por si em 2013 com o objetivo de contribuir para dar resposta à emergência académica que o conflito na Síria criara, deixando milhares de jovens sem acesso à educação.

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