O arranque do projeto, que vai ser desenvolvido pela Fábrica de Água de Beirolas, situada no Parque das Nações, ocorreu na data em que se assinala o Dia Mundial da Água e permite, numa primeira fase, que sejam regados cerca de 30 hectares de espaços verdes da zona norte desta freguesia lisboeta.
A importância do aproveitamento das águas residuais para a rega dos jardins foi sublinhada numa cerimónia que contou com presença virtual do ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Matos Fernandes (por videoconferência) e física do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, da presidente da Águas do Tejo e Atlântico, Alexandra Serra, do presidente do Conselho de Administração da Águas de Portugal, José Furtado, e do vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), José Pimenta Machado.
Na cerimónia foram também entregues as licenças de produção e consumo e assinado um protocolo de colaboração técnica para a aplicação de medidas de combate à seca, entre a APA, a Câmara Municipal de Lisboa e a Águas do Tejo e Atântico.
Numa curta declaração por videoconferência, o ministro do Ambiente, que se encontra no Senegal para participar no 9.º Fórum Mundial da Água realçou que o projeto que se inicia hoje em Lisboa "é fundamental para dar resposta a problemas como a seca e as alterações climáticas".
"Hoje é um dia feliz. Eu não tenho dúvidas de que é tempo de agir. É preciso melhorar a eficiência dos recursos hídricos, diminuir o consumo e reduzir as perdas urbanas", apontou João Matos Fernandes.
Segundo o ministro, o objetivo da tutela é que até 2030 as 50 maiores Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) do país reutilizem 20% da sua água.
No final da cerimónia, em declarações à agência Lusa, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, destacou o impacto que a medida terá para a sustentabilidade ambiental na cidade.
"Isto é um sistema de poupança de água. Em vez de utilizarmos água potável para regar o jardim podemos utilizar a água aqui das Estações de Tratamento, que não tem o mesmo nível e nem precisa. É um desperdício estarmos a utilizar água de tão boa qualidade para coisas que não necessitam dessa qualidade", argumentou.
Segundo indicou o autarca, o município de Lisboa gasta anualmente cerca de quatro milhões de metros cúbico de água, proveniente da EPAL, sendo que 75% destina-se à rega e para fins que não o de consumo.
"Aquilo que nós estamos aqui a fazer é utilizar água desta Estação de Tratamento para regar o Parque Tejo Norte, que são quase 30 hectares. Este é o futuro", sublinhou.
Carlos Moedas disse ainda pretender que a medida venha a ser replicada noutras zonas da cidade de Lisboa e alargado o uso de água reutilizável a outros fins, como a lavagem de ruas, mas ressalvou que ainda "não existe uma estimativa temporal".
"Este é o primeiro exemplo. Deverá ser replicado noutras zonas da cidade e noutras cidades. É uma das prioridades para o futuro. Vamos ver tecnicamente. É preciso ter os canos para levar para os sítios certos", apontou.
No mesmo sentido, a presidente do Conselho de Administração da Águas do Tejo e Atlântico, Alexandra Serra, destacou à Lusa a importância da poupança de água, numa altura em que se torna "um bem cada vez mais escasso".
"Estamos no caminho da sustentabilidade. Cada vez mais a água é um recurso mais escasso e nas nossas Fábricas de Água temos a capacidade de transformar as águas residuais numa água que pode ser utilizada para fins compatíveis", referiu.
Alexandra Serra adiantou ainda que, à semelhança deste projeto em Lisboa, existem projetos em curso em outros municípios abrangidos pela empresa, nomeadamente Mafra (previsto iniciar ainda este ano), Oeiras, Óbidos e Cascais (numa fase mais preliminar).
"Há uma grande motivação dos municípios para usar este potencial", sublinhou.
A empresa Águas do Tejo e do Atlântico é responsável pela recolha, tratamento e a rejeição de efluentes domésticos e urbanos provenientes dos municípios de Alcobaça, Alenquer, Amadora, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Cascais, Lisboa, Loures, Lourinhã, Mafra, Nazaré, Óbidos, Odivelas, Oeiras, Peniche, Rio Maior, Sintra, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Franca de Xira.
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