Três mortes desde reabertura das discotecas. Como conter a violência?
O caso de Fábio Guerra, agente da Polícia de Segurança Pública, ecoa e levantam-se vozes sobre a violência que se vive na noite. Associação Discotecas Nacional (ADN) e Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP) pedem mais intervenção às autoridades governamentais.
© Global Imagens
País Fábio Guerra
O agente Fábio Guerra, de 26 anos, morreu na sequência de lesões cerebrais causadas por fortes agressões de que foi vítima na madrugada deste sábado, dia 19, cerca das 6h30, em Lisboa, junto à discoteca Mome.
O caso de Fábio, da Polícia de Segurança Pública (PSP), ecoa e levantam-se vozes sobre a violência que se vive na noite, bem como agressões à polícia. Desde a reabertura das discotecas em outubro de 2021 - após 19 meses de medidas pandémicas - já morreram três pessoas em desacatos.
Fábio perdeu a vida às mãos de três homens, de 24, 22 e 21 anos, que são agora suspeitos do homicídio do agente da PSP e agressões a outros quatro.
Só este ano - as discotecas reabriram a 14 de janeiro após medidas para acautelar aumento de casos durante as festividades - morreram duas pessoas. No início do mês, a 8 de março, morreu um jovem de 21 anos brutalmente espancado à porta de uma discoteca, em Vale S. Cosme, Famalicão. O homem “foi atingido com um paralelo ou com uma garrafa” e a Polícia Judiciária está a investigar o caso.
Em outubro, um jovem de 23 anos, morreu depois de ser agredido na noite do Porto. O caso ocorreu na zona de Passos Manuel, na Baixa do Porto. O jovem português estava internado no Hospital de Santo António, no Porto, em estado crítico, mas acabou por morrer.
O que corre mal e por que se registam tantos casos destes? 19 meses de discotecas fechadas e medidas pandémicas ajudam na escalada de violência?
Para o presidente da Associação Discotecas Nacional (ADN), o caso de Fábio Guerra vem reforçar a necessidade da presença de forças policiais nas zonas de diversão noturna. "Onde este acidente aconteceu... Estamos a falar de quatro discotecas no mesmo quarteirão. Uma presença policial de dois elementos fardados é o suficiente para uma ação dissuasora", reiterou José Gouveia, que diz que a pandemia não explica estes casos e que as discotecas são espaços de "euforia" e de "álcool".
Segundo o empresário, para o efeito, "cerca de uma dúzia de agentes seria suficiente". Lembrando a justificação de não haver polícia suficiente, exemplifica com as operações stop feitas na zona da 24 de julho, em Lisboa, a mesma zona onde muitos estabelecimentos de diversão noturna se encontram.
"Das docas de Santo Amaro de Alcântara até ao Cais do Sodré, de carro ou de mota são cerca de quatro ou cinco minutos. Se tivermos um veículo de um lado para o outro, a noite toda, significa que de cinco em cinco minutos teremos um agente a passar em frente a estas discotecas", disse ao Notícias ao Minuto, reiterando que esta foi uma das soluções apresentadas pela associação ao Ministério da Segurança Interna. Posto isto, a Associação regozija-se com a criação do programa de proximidade 'Fábio Guerra'.
Para José Gouveia, vive-se em Portugal uma cultura de violência, não havendo diferenças entre a noite e o dia, dando como exemplo as cenas de violência que vemos em jogos de futebol.
Desta forma, considerou, Portugal necessita de uma polícia "ativa e não passiva", e que os crimes de violência têm de ser "devidamente sancionados". Deixando a responsabilidade da estratégia para as autoridades, diz que as discotecas mais nada podem , sendo que "muita coisa já é feita".
"Aqui o Governo tem um papel um pouco hipócrita, porque a exigência que remete para as discotecas no seu interior com corpo de segurança, sistema de vigilância, detetores de metais e etc, coloca as discotecas em investimentos avultados que contrastam com uma saída da discoteca com uma total ausência de segurança por parte das forças de segurança", reiterou.
Em conversa com o Notícias ao Minuto, o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP), partilha da visão de que a prevenção destes casos passa pelo reforço policial, mas que não existem pessoas para destacar. "Não há capacidade operacional para estarmos em todo o lado".
Paulo Santos garante que há um "conjunto de especificidades que se passam na movida noturna" - bem como no futebol - que devem ser acautelados. Aqui, considerou, a presença policial não será suficiente, devendo apostar-se na fiscalização dos estabelecimentos, iluminação das estradas, segurança privada, legislação sobre álcool, entre outras legislações, sendo que "aqui o Governo está a falhar"
"Nós não conseguimos dar conta do recado quando o recado é grande"
"A noite já ensinou aos polícias que tem muitas outras situações associadas e temos alertado para a escalada do grau da violência praticada na noite", revelou.
Lembrando que há polícias agredidos todos os dias, "reina uma impunidade nestes casos". Aqui, garante que o estatuto do polícia é desrespeitado, ajudando a que a figura de autoridade também o seja.
"O fraco estatuto profissional, o subsídio de risco, o salário de 800 euros que não empurram pessoas mais interessantes para reforçar esta instituição, o constante enxovalho e agressões por dia- que são cerca de quatro entre GNR e PSP", são exemplos dados por Paulo Santos para explicar a falta de pessoas na profissão bem como o envelhecimento dos seus profissionais, que querem seguir para a reforma e não lhes é permitido.
Para o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP), a morte de Fábio Guerra deverá ser o mote para uma reflexão profunda sobre o papel da polícia em Portugal.
Em Portugal, 83% das pessoas dizem que se sentem seguras andando sozinhas à noite, acima da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) de 74%.
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