Guerra "faz parte de movimento de autocratização", diz investigador

O especialista em relações internacionais Álvaro Vasconcelos considera que na Ucrânia se trava "uma guerra contra a democracia que faz parte de um movimento de autocratização" e defende uma União Europeia mais democrática como alternativa.

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© Chris McGrath/Getty Images

Lusa
21/04/2022 17:20 ‧ 21/04/2022 por Lusa

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Ucrânia

"A guerra na Ucrânia é uma guerra contra a democracia que faz parte de um movimento de autocratização que se está a passar no mundo. A tendência é de que haja mais ditaduras, ao contrário do que aconteceu com o 25 de Abril [de 1974], em que houve uma vaga democrática, a que se seguiu a democratização da Espanha, Grécia, América Latina, Europa Central e de Leste", disse, em entrevista à Lusa.

O investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares (CEIS20) da Universidade de Coimbra participa hoje na abertura do Festival Bienal das Alternativas Europeias Transeuropa, que se realiza até segunda-feira, no Porto e em Valongo, uma iniciativa europeia com conferências, debates, oficinas, exposições e performances sobre o tema "descolonizar, descarbonizar, democratizar".

Segundo o diretor-fundador do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais (IEEI) de Lisboa, "uma União Europeia mais democrática seria uma alternativa necessária e imprescindível a esta vaga autocrática".

"Para a enfrentarmos, precisamos de reforçar as nossas democracias nacionais, e que correspondem às aspirações dos cidadãos, mas também precisamos de responder a nível da UE", prosseguiu.

O caminho, defende, "é uma União que tenha estruturas supranacionais democráticas e em que os cidadãos europeus tenham uma voz na política europeia, sejam capazes de influenciar as decisões de forma direta, e não indireta, apenas através dos Estados-membro".

Sobre a resistência a um aprofundamento da União, face ao crescimento das forças eurocéticas, Álvaro Vasconcelos acredita que "muitos europeus já perceberam que a União Europeia corre riscos graves" e perceberam a sua relevância "depois da pandemia [de covid-19] e da guerra na Ucrânia".

Há, no entanto, um fator essencial, que se desenrola já no próximo domingo -- "as eleições francesas vão ser muito importantes e decisivas deste ponto de vista, porque, se [Marine] Le Pen ganhar, tudo isto que conversamos perde o sentido".

"Se ela perder as eleições, acho que se vai aprofundar a reflexão sobre o futuro da União Europeia e sobre a necessidade de dar um salto mais plural e democrático", vinca.

O especialista, coordenador do livro "Utopias Europeias: o Poder da Imaginação e os Imperativos do Futuro", esclarece: "utopia é um horizonte, indica-nos um caminho -- não é algo que vamos, necessariamente, concretizar, mas precisamos de dar passos nesse sentido".

Sobre a crise de refugiados criada pela guerra na Ucrânia, Álvaro Vasconcelos afirma que "a hospitalidade é um imperativo ético, é um imperativo universal", para além de ser "uma obrigação jurídica, porque os Estados assinaram convenções de refugiados e as pessoas que fogem à guerra, à perseguição, que podem ser vítimas por causa da sua situação política específica, têm direito ao refúgio".

Álvaro Vasconcelos é investigador do CEIS20 da Universidade de Coimbra e coordenador do Forum Demos. Dirigiu o Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia/EUISS, entre 2007 e 2012, e o Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais de Lisboa, desde a sua fundação, em 1980, até 2007.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.

A ofensiva militar causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas, mais de 5 milhões das quais para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU - a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Leia Também: "Os russos mataram para se divertir. Estamos a lutar pela sobrevivência"

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