"As matérias relativas às forças e serviços de segurança não estavam no âmbito e no núcleo da informação que tem vindo a público. Aquilo que está em causa pode ser matéria de proteção de dados, que cabe na Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), ou de espionagem, sendo espionagem também não é matéria das forças e serviços de segurança", disse José Luís Carneiro aos deputados da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos Liberdades e Garantias.
Numa audição no parlamento a propósito do caso do acolhimento de refugiados da guerra na Ucrânia na Câmara de Setúbal alegadamente por apoiantes do regime russo, o governante sustentou que "não compete ao ministro da Administração Interna pronunciar-se porque não é da sua competência e das suas atribuições".
José Luís Carneiro sublinhou também que o ministro da Administração só recebe informações que tenham a ver com "ordem e segurança públicas".
"No que respeita às forças e serviços de segurança, que dependem do ministro da Administração Interna, terá que ser informação que tenha que ver com ordem pública e com a segurança pública. Só nesses termos é que o ministro da Administração Interna tem efetivamente o dever", precisou.
No entanto, frisou o ministro, o que até agora está em causa "é a proteção de dados pessoais" e essa matéria está a ser investigado para efeitos de determinação de responsabilidade.
"Está a atuar a CNPD, a Inspeção-Geral de Finanças, em relação aos procedimentos da câmara municipal, e a Polícia Judiciária para apuramento de eventuais indícios criminais", afirmou.
Sobre a natureza das informações do Sistema de Segurança Interna, o ministro referiu que os deputados ouviram o órgão eleito pelo parlamento que é o Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa.
Embora não seja da "competência" do Ministério da Administração Interna, o ministro garantiu ter procurado junto das entidades responsáveis dar o "apoio indispensável" para a fiscalização da autarquia de Setúbal.
O ministro considerou também que, caso se confirme o que está a ser noticiado na comunicação social, "trata-se de uma violação grave dos direitos essenciais", realçando que todos os cidadãos têm direito à "intimidade, privacidade" e salvaguarda dos seus dados pessoais.
O ministro disse ainda que se deve ter "a serenidade de olhar para estes temas com sentido de Estado" e "evitar uma caça às bruxas", lembrando que há muitos cidadãos russos bem integrados em Portugal.
O Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa também foi ouvido na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos Liberdades e Garantias, mas à porta fechada.
Nos serviços de apoio a refugiados da Câmara Municipal de Setúbal alguns ucranianos sentiram-se ameaçados por terem sido recebidos por responsáveis de uma associação pró-Rússia, Igor Khashin, antigo presidente da Casa da Rússia e do Conselho de Coordenação dos Compatriotas Russos, e pela mulher, Yulia Khashin, funcionária do município setubalense.
Igor Khashin, líder da Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo), subsidiada desde 2005 até março passado pela Câmara de Setúbal, e a mulher terão alegadamente fotocopiado documentos de identificação dos refugiados ucranianos, no âmbito da Linha de Apoio aos Refugiados da Câmara Municipal de Setúbal, bem como questionado sobre familiares que ficaram na Ucrânia.
O Expresso noticiou no sábado que Igor Khashin já é monitorizado pelo Serviço de Informações e Segurança (SIS) há alguns anos.
Leia Também: Portugal em destaque na imprensa ucraniana devido ao caso de Setúbal