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20 anos de Nariz Vermelho. Missão? Fazer sorrir crianças hospitalizadas

Do crescimento "sólido" à formação de doutores palhaços, o Notícias ao Minuto falou com o diretor artístico da Operação Nariz Vermelho, Fernando Escrich, que nos contou como a associação se organiza e como evoluiu ao longo das últimas duas décadas.

20 anos de Nariz Vermelho. Missão? Fazer sorrir crianças hospitalizadas

A 1 de junho de 2002, no mesmo dia em que se comemora do Dia da Criança, nascia há 20 anos a associação Operação Nariz Vermelho (ONV). A missão era a seguinte: dar sorrisos e alegrias a crianças hospitalizadas que passavam por momentos mais difíceis. 

Duas décadas volvidas, a Operação Nariz Vermelho celebra o 20.º aniversário e o Notícias ao Minuto foi descobrir como funciona os bastidores desta associação falando com o diretor artístico, Fernando Escrich.

Desde o início, ao crescimento "sólido", passando pela formação de doutores palhaços e pela sua relação com os profissionais de saúde, são 20 anos de "aprendizagem" e ambição de fazer mais e melhor. 

O sonho é chegar a todas as pediatrias e a todas as crianças, e é para isso que trabalhamos.

A Operação Nariz Vermelho nasceu há 20 anos. Como avalia estes anos?

Foram anos de crescimento sólido, de aprendizagem e de superação de desafios. De hospital em hospital, fomos alargando o programa de visitas e, hoje em dia, já visitamos mais de 100 serviços pediátricos em 17 hospitais na Grande Lisboa, Grande Porto, Braga e Coimbra. Acreditamos que a parceria que estabelecemos com cada hospital onde chegamos será para sempre, por isso antes de pensarmos em chegar a outros temos de garantir, todos os anos, que mantemos as visitas àqueles que já fazem parte do nosso programa. Mas o sonho é chegar a todas as pediatrias e a todas as crianças, e é para isso que trabalhamos. Ao longo destes 20 anos aumentámos a equipa – atualmente são 33 Doutores Palhaços –, explorámos novas áreas de angariação de fundos para assegurar a sustentabilidade da nossa missão e procurámos novos modelos, como foi o caso do “Palhaços na Linha”, o sistema de visitas virtuais por Zoom que criámos durante a pandemia, para chegar cada vez a mais hospitais.

O que destaca na evolução da instituição ao longo destas duas décadas?

Há vários pontos a destacar, entre eles a profissionalização da nossa equipa e o reforço dos laços com os profissionais de saúde. Quanto ao primeiro ponto, a ONV percebeu desde cedo que para alcançar o profissionalismo e rigor artístico e técnico do trabalho que oferecemos aos hospitais, não podia contar com voluntários. Têm de ser artistas que se comprometam e estejam na equipa de forma permanente, para assegurar o calendário de residências nos hospitais. Contando com voluntários, talvez não pudéssemos garantir, sempre que fosse preciso, elementos suficientes disponíveis. E esta vontade de garantir um compromisso efetivo à nossa causa também levou à aposta na profissionalização da restante equipa, que, no escritório, trabalha áreas como angariação de fundos, organização de eventos, comunicação, redes sociais, relação hospitalar e investigação científica, através do Centro de Investigação e Pesquisa. Só assim conseguimos oferecer um trabalho constante e sólido, em prol do bem-estar das crianças e adolescentes hospitalizados, dos seus familiares e acompanhantes e dos profissionais do hospital.

A chegada de palhaços ao hospital [em 2002] era vista com alguma curiosidade.Quanto à relação com estes últimos [profissionais dos hospitais], a evolução nestas duas décadas é notória. No início da ONV, em 2002, a chegada de palhaços ao hospital era vista com alguma curiosidade, mas hoje em dia já estamos plenamente integrados nas equipas hospitalares. Colaboramos de forma muito próxima com as administrações e os médicos, enfermeiros, educadores, auxiliares e restantes profissionais. Eles veem em tempo real o resultado do encontro entre os Doutores Palhaços e as crianças e os seus acompanhantes e percebem que podem usar a nossa presença como um elemento de conexão mais leve e calma com os seus pacientes.

Como se desenrola todo o processo até chegar aos hospitais e espalhar a alegria dos Doutores Palhaços?

Um dia normal de trabalho para a dupla de Doutores Palhaços começa com a chegada ao hospital, o vestir do figurino, a maquilhagem e o aquecimento físico e vocal. Depois, reúnem com as enfermeiras e/ou educadoras de serviço para a Transmissão. Este é um momento fulcral no nosso trabalho, pois é nele que os artistas conhecem os nomes das crianças e adolescentes que irão visitar e também os seus estados físicos e emocionais, os motivos para estarem no hospital, se foram ter uma consulta de rotina, se vão realizar algum exame, se estão num internamento mais prolongado, em isolamento, etc. A Transmissão é essencial para a dupla começar o dia de visita de forma consciente, escuta ativa, olhar atento com o auxílio de música, jogos e brincadeiras que se constroem a partir do encontro com cada criança e as suas necessidades específicas.

A interação tem algumas linhas-mestras, que são definidas neste momento com as equipas de saúde.

Apesar de ter por base o improviso, a interação tem algumas linhas-mestras, que são definidas neste momento com as equipas de saúde. Depois começa a ronda pelo hospital, que, dependendo do número de crianças e adolescentes a visitar, pode durar uma manhã ou tarde ou o dia todo. No final do dia, os artistas escrevem um diário de bordo, que posteriormente partilham com a equipa e a Direção Artística em forma de relatório mensal e que permite uma profunda reflexão sobre o trabalho e lhes permite continuar a evoluir com qualidade artística.

Como nasce um 'Doutor Palhaço'? Como se realiza a formação destas pessoas?

A ONV abre periodicamente audições para novos artistas. Uma vez passada essa audição, há um período de testes e workshops em sala de treino e dentro do hospital. Se o artista passar todas as fases, é integrado numa dupla ou trio e no calendário de residências nos hospitais com que colaboramos. É nesta fase que o artista começa a investigar e definir o imaginário do seu Doutor Palhaço, quer a nível de identidade, quer de figurino, repertório musical, habilidades e características físicas e emocionais."

Notícias ao Minuto Doutora Aurora Benvinda, Filipa Mendes© D.R.  

Quais os pontos-chave que têm de ter em mente na formação?

Alta capacidade de adaptação da linguagem do Palhaço ao ambiente hospitalar, onde é necessário muita delicadeza e permeabilidade. Foco na linha artística da ONV, que privilegia o encontro de qualidade entre o Palhaço e a criança, baseado no olhar, escuta e perceção, antes de irem para o jogo ou brincadeira. A profunda investigação e interesse na relação e no jogo em dupla, sempre com foco na criança. O compromisso, dedicação e presença nos encontros artísticos e treinos. E, por fim, a curiosidade e proatividade para aprender a tocar instrumentos musicais e desenvolver outras habilidades artísticas.

Que retorno sentem do trabalho que executam?

Chegar a mais um dia de visita e ouvir que fizemos falta no dia em que não pudemos estar lá. Receber um desenho colorido feito por uma criança especialmente para nós. Quando nos pedem para não irmos embora ainda ou nos perguntam quando voltaremos. Mas o melhor retorno de todos, e que podemos ver em tempo real, é quando, em alguns momentos, podemos somente observar as crianças, os seus pais, irmãos e profissionais do hospital ligados por uma música parva ou brincadeira só porque nós estávamos ali a provocá-los a aceitarem, mesmo dentro de um hospital, a experiência da graça e a beleza da alegria.

De que forma a pandemia foi desafiante para a equipa?

O maior desafio foi descobrir uma forma de estar dentro dos hospitais sem estar lá ao vivo. O nosso trabalho acontece no encontro real e presencial com a criança. O nosso olhar é o nosso ponto de partida para tudo que vem a seguir.

 A pandemia forçou-nos a criar formas de estarmos conectados e presentes nos hospitais mesmo sem poder entrar.

Neste sentido, a pandemia forçou-nos a criar formas de estarmos conectados e presentes nos hospitais mesmo sem poder entrar. Fomos obrigados a aprender uma nova linguagem artística, o Doutor Palhaço no ecrã, que acreditávamos não ter como existir sem o encontro real. Estávamos enganados! No nosso canal do YouTube, criámos a TV ONV, onde estreávamos dois vídeos inéditos por dia com conteúdo criados, filmados e editados pelos palhaços nas suas casas e que falavam diretamente com a câmara como se falassem olhos-nos-olhos com as crianças. Foi um desafio aceite por toda equipa da ONV, criado e realizado por muitas mãos de forma caseira e amadora, porém com o mesmo rigor e compromisso com que levávamos o programa de visitas aos hospitais.

O que falta fazer para ajudar mais? Como imagina a ONV daqui a 20 anos?

O nosso objetivo na ONV é conseguir, um dia, visitar todos os serviços de pediatria dos hospitais em Portugal e todas as crianças e adolescentes que neles se encontram. Daqui a 20 anos, gostávamos de já estar em várias cidades e regiões do país onde ainda não conseguimos chegar, como o Alentejo, o Algarve ou as ilhas da Madeira e dos Açores. E, para alcançarmos esse sonho, precisamos de contratar mais artistas, mas ainda existe falta, no mercado, de profissionais formados nesta especialidade de Palhaço de Hospital.

Outro dos nossos objetivos é criar uma Escola de Palhaços onde vamos poder formar artistas.

É por isso que outro dos nossos objetivos é criar uma Escola de Palhaços onde vamos poder formar artistas e dar-lhes competências específicas para atuarem em contexto hospitalar. Também precisamos de continuar a diversificar os nossos métodos de angariação de fundos, seja através da aposta na comunicação da consignação do IRS, a que cada vez mais portugueses aderem e que representa uma fatia tão importante do nosso orçamento anual, seja através do aumento do número de doadores particulares e empresas, da venda de produtos da nossa Lojinha ou de outros modelos de parcerias, que assegurem a sustentabilidade do trabalho que já desenvolvemos e nos permitam expandi-lo a mais serviços e hospitais.

A associação Operação Nariz Vermelho (ONV) apresenta esta quarta-feira, 1 de junho, no Hospital D. Estefânia, em Lisboa, um musical e uma exposição sobre os doutores palhaços que alegram há vinte anos crianças hospitalizadas.

Leia Também: Consignação do IRS tem aumentado, mas 43% ainda não o faz

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