Oceanos: Conferência falhou na inclusão, dizem várias associações
A Conferência dos Oceanos da ONU (UNOC), que hoje terminou em Lisboa, pecou por falta de inclusividade, e as ações anunciadas por Portugal pecaram por falta de ambição, consideram em comunicado as organizações ambientalistas Zero, Oikos e Sciaena.
© Lusa
"Devemos dizer que não foi uma conferência propriamente muito participada e inclusiva e essa é uma das questões que temos de explorar, nos próximos eventos desta natureza, porque quem verdadeiramente lida com os oceanos, as comunidades piscatórias, quem está ligado a muito do que é a sobrevivência à custa dos oceanos, e sofre com as consequências de um ecossistema cada vez mais debilitado, nomeadamente por causa do clima, não teve aqui a sua voz", disse à Lusa Francisco Ferreira, presidente da Zero.
Num balanço sobre a UNOC, que hoje terminou em Lisboa, Francisco Ferreira disse que o evento foi importante, até pelo destaque que recebeu nacional e internacionalmente, alertando para os problemas e a necessidade de ação nos oceanos.
Mas acrescentou que "no caminho a seguir, soluções e compromissos a adotar, tem de se chegar mais próximo de quem tem a vivência direta nos oceanos".
De positivo também, destacou Francisco Ferreira, a ligação sempre presente na conferência ente oceanos e clima. E é realmente crucial, acrescentou, que se consiga uma mudança "no que respeita ao acabar com a exploração de petróleo e gás ou impedir a mineração em mar profundo, ou proteger as espécies marinhas, acabar com a sobrepesca e eliminar a poluição por plásticos".
E Portugal, além de avaliado positivamente pela organização e presença na UNOC, também o foi em questões como ter 100% dos stocks de pesca dentro dos limites biológicos sustentáveis, mas as associações subscritoras do comunicado pedem mais clareza, porque falta "elencar as medidas específicas", como disse Francisco Ferreira.
No que Portugal ficou "mais longe do desejável" foi em relação à "falta de apoio claro" à moratória à mineração em mar profundo, um tema em destaque na conferência depois da aliança dos governos de Palau, Samoa e Fiji nesse sentido.
Zero, Sciaena e Oikos juntaram-se, com mais cerca de 30 organizações, numa petição para reivindicar a adoção de uma moratória para a mineração em mar profundo por parte do governo Português.
Francisco Ferreira notou nas declarações à Lusa que França já deu um primeiro passo nesse sentido, algo que "Portugal tem também de assumir como aspeto crucial na salvaguarda da biodiversidade e da proteção dos oceanos".
No comunicado as três associações pedem também aos decisores políticos para passarem das palavras à ação na defesa dos oceanos, e consideram a declaração final da conferência "um tanto ou quanto inócua", embora valorizem "o ênfase que foi colocado no caminho a seguir e nas soluções e compromissos a adotar".
"É crucial destacar o protagonismo e papel fundamental do oceano na luta contra as alterações climáticas e, como tal, esta edição da UNOC foi fundamental para trazer esta ligação indivisível para o centro da discussão", reconhecem também as associações.
E insistem que Portugal e os compromissos que assumiu "deu passos na direção certa, mas ainda ficou aquém do nível de ambição necessária".
"É urgente agir para proteger e restaurar o oceano que nos une: falhar em passar das palavras à ação é permitir e perpetuar o declínio do oceano e, com ele, fracassar em dar resposta à maior crise deste século", avisam.
A UNOC, coorganizada por Portugal e Quénia, começou na segunda-feira e terminou hoje, visando impulsionar esforços globais para a preservação dos oceanos e seguiu-se à de Nova Iorque, nos Estados Unidos, em 2017. A próxima será em França, em 2025
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