"Da parte da Câmara Municipal de Lisboa foi e está assumido o investimento total até 35 milhões de euros na exigente criação de condições para os diferentes eventos", afirmou a autarquia, em comunicado, defendendo que os compromissos do Estado devem ser "no mínimo paritários" com o esforço da autarquia, lembrando que em outros grandes eventos em Portugal "os apoios do Governo foram claros".
Esse compromisso foi comunicado pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas (PSD), numa missiva enviada ao primeiro-ministro, António Costa (PS), em que refere a base daquilo que iria ser assumido pela autarquia para garantir a realização do evento Jornada Mundial da Juventude 2023 (JMJLisboa2023) e a estimativa dos custos suportados pelo município.
"A CML assumiu as suas responsabilidades. Continuamos à espera de resposta do Governo que, até ao momento, ainda não assumiu as suas", expôs a autarquia.
Ainda esta semana, a CML assegurou "um reforço de despesas" para a JMJLisboa2023, com a aprovação das propostas do executivo camarário de aditamentos ao contrato-programa da empresa municipal Lisboa Ocidental SRU -- Sociedade de Reabilitação Urbana por parte da Assembleia Municipal de Lisboa, após o grupo municipal do PSD ter alterado o sentido de voto para aprovar as mesmas propostas que na semana passada decidiu inviabilizar, passando de abstenção para voto a favor.
As despesas para o evento "passam agora a estar dotadas em 21 milhões de euros, praticamente o dobro do que encontrámos no início do mandato", apontou a CML, presidida pelo social-democrata Carlos Moedas, que tomou posse em 18 de outubro de 2021, que governa sem maioria absoluta.
"Quando este executivo tomou posse, sobre este tema em concreto, não existia um documento oficial sobre as responsabilidades e competências de cada um dos envolvidos no processo", lê-se no comunicado da CML, acrescentando que a atual liderança da câmara "assumiu desde sempre com empenho e dedicação a realização do importante evento da Jornada Mundial da Juventude".
A autarquia reforçou que, apesar da ausência de qualquer formalização quanto ao envolvimento da CML no processo, foram "desde cedo" dados passos junto de todas as entidades envolvidas para uma clara definição de responsabilidades na preparação da JMJLisboa2023.
"Tal como em anteriores eventos - desportivos e outros - de escala global e organizados em Portugal, os apoios do Governo foram claros. Consideramos também que nas JMJ os compromissos assumidos pelo Estado, direta e indiretamente, sejam, no mínimo paritários com o esforço feito pela autarquia de Lisboa", defendeu a CML.
Neste sentido, o município de Lisboa considerou que é fundamental "uma clarificação concreta e um assumir de responsabilidades de todos os envolvidos", para garantir o sucesso de uma exigente operação que trará a Portugal jovens provenientes de todo o mundo.
Entretanto, em declarações na quinta-feira à agência Lusa, o coordenador do grupo de projeto da Jornada Mundial da Juventude, José Sá Fernandes, manifestou-se "apreensivo" com as tomadas de posição do executivo de Carlos Moedas e instou a Câmara Municipal de Lisboa a "cumprir os compromissos que tinha assumido relativamente à realização do evento".
"A única coisa que eu tenho apreensão é nos equipamentos e nas coisas que Lisboa se responsabilizou desde sempre, mais especificamente e por escrito, em abril, e que têm de andar mais depressa, como casas de banho e ecrãs", apontou.
Questionado sobre os pedidos de financiamento por parte da Câmara Municipal de Lisboa à tutela, José Sá Fernandes considerou que o Governo se tem portado "com alta categoria".
"Eu acho que o Governo nesta fase já assumiu muitas coisas, como a Saúde, os hospitais de campanha, que estavam para ser assumidas pela Câmara de Lisboa", observou.
Na quarta-feira, no âmbito da reunião pública da câmara, o presidente Carlos Moedas disse que já tinha comunicado ao Governo o que o município está disposto a fazer na organização da JMJLisboa2023, referindo que esse acordo será apresentado ao restante executivo municipal "no princípio de setembro".
Ressalvando que a Câmara de Lisboa "não é o promotor do evento", o social-democrata reforçou a necessidade de colaboração por parte do Governo, nomeadamente para as torres multimédia e para as estruturas das casas de banho no terreno, uma vez que a construção do palco está a ser tratada pela empresa municipal SRU.
Carlos Moedas assegurou que a câmara vai conseguir cumprir o previsto na organização do evento, admitindo que "os prazos são curtos", mas, a partir de setembro, os trabalhos vão ser acelerados.
"Temos a certeza que não vamos falhar", frisou.
Sobre a alteração na equipa de preparação da JMJLisboa2023, o presidente da Câmara de Lisboa assegurou que a vereadora Laurinda Alves continuará a ser o "pilar fundamental" da organização do evento, justificando a passagem da coordenação para o vice-presidente, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), que tem o pelouro das Finanças, com a formação de "uma equipa multidisciplinar".
A JMJLisboa2023 vai decorrer de 01 a 06 de agosto do próximo ano na zona do Parque das Nações, em Lisboa, abrangendo também parte de território do concelho de Loures, num evento que conta com a presença do Papa Francisco e no qual são esperados mais de um milhão de jovens de todo o mundo.
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