Tiago Oliveira - que lidera também a Comissão Nacional para a Gestão Integrada de Fogos Rurais, à qual irá caber a investigação dos grandes incêndios deste ano em Portugal -- reconheceu que o verão "muito seco" constitui um obstáculo difícil e levantou questões para o trabalho que vai ser desenvolvido pelas diferentes entidades envolvidas e pelos especialistas académicos que vão ser consultados neste processo.
"No caso da serra da Estrela, havia muita prevenção e a pergunta aqui é porque é que ela não foi toda aproveitada. Essa é uma reflexão que tem de ser feita por esta comissão, mas no combate também há melhorias, oportunidades, tempos de resposta a melhorar, a aplicação das técnicas mais corretas... Não está tudo bem, o sistema podia estar a produzir outros resultados, mas, infelizmente, há debilidades estruturais, e outras conjunturais, que atrasam a adoção das melhores práticas", disse à Lusa o presidente da AGIF.
Embora admita os danos "muito difíceis para as populações afetadas", Tiago Oliveira procurou passar uma mensagem de tranquilidade, ao destacar a ausência de vítimas civis e a retirada atempada de pessoas das habitações ameaçadas pelo fogo.
"Há uma destruição muito significativa do património florestal, mas Roma e Pavia não se fizeram num dia. Há muito trabalho a fazer ainda, não só na prevenção", observou.
O presidente da AGIF questionou se poderia ter havido maior utilidade no trabalho de prevenção realizado para esta área, onde 12 meios aéreos e mais de 1.250 operacionais estiveram hoje à tarde a combater o incêndio.
"Houve circunstâncias meteorológicas que impediram essas oportunidades? Há formas de fazer as coisas diferentes para haver menos reacendimentos? O que é que está a falhar aqui? São reflexões que importa colocar em cima da mesa para termos um sistema melhor no curto e médio prazo. O nosso papel enquanto agência é promover a avaliação, a monitorização e ver como é que se conseguem melhores resultados com os recursos em cima da mesa", frisou.
O incêndio na serra da Estrela deflagrou no dia 06 de agosto em Garrocho, no concelho da Covilhã, e foi dado como dominado no sábado, dia 13, mas sofreu uma reativação na segunda-feira. Até hoje, registaram-se 19 feridos ligeiros e três feridos graves, nenhum dos quais em risco de vida, e danos em duas casas de primeira e segunda habitação.
Além de atingir o concelho da Covilhã, o fogo chegou a Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira, no vizinho distrito da Guarda, queimando um total superior a 14 mil hectares, segundo dados provisórios. Em causa está uma área de parque natural classificada.
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