Greve de professores marca manhã no Porto, mas há que "desenrascar"
Dos miúdos "desenrascados" que até ficam em casa sozinhos aos pais apanhados desprevenidos que ponderam levar os filhos para o trabalho, a greve de professores marca hoje a manhã de várias escolas do Porto.
© Global Imagens
País Escolas
Eram cerca das 9h quando Maria João Pereira, mãe de um menino de 4 anos, surpreendida pelos portões da Escola Básica Augusto Lessa, em Paranhos, no Porto, estarem fechados gritou: "Bom dia, toco à campainha?".
Do pátio, a voz e uma auxiliar que varria a folhagem, criou-lhe uma ruga na testa. Ainda entrou para perceber o que se passava, mas na saída e com o filho pela mão contou à agência Lusa que a professora tinha faltado e não o poderia deixar na escola.
"Pensei que para os pequeninos isto não acontecia. Isto causa-me muito transtorno. Vou ligar para o trabalho para saber se me deixam levá-lo ou se me deixam trabalhar de casa. Não estava a contar com isto", referiu a assistente de 'backoffice'.
Este cenário contrastava com o espírito que se vivia ainda antes, cerca das 08:00, junto à Escola Artística Soares dos Reis, um estabelecimento de ensino frequentado por mais de 1.000 alunos dos 10.º, 11.º e 12.º anos.
André Orlandim, brasileiro, motorista de Uber e pai de uma menina que frequenta o 12.º ano, é "apoiante da greve" e não alterou os planos de hoje por causa a paralisação dos professores até porque, caso fosse necessário, deixaria a filha em casa "entretida com os livros e o computador".
"Se não tivesse aulas, ia levá-la a casa e continuava a minha vida. Estou há três anos em Portugal e já passei por muitas greves cá. Façam-nas. É necessário porque o custo de vida está medonho e os salários são muito baixos", disse à Lusa.
Rosário Jacob, mãe de Francisca, aluna do 12.º ano, também não alterou os planos de hoje. É professora, levou a filha à escola e está igualmente em greve como milhares de colegas por todo o país.
"Já sabia que a escola podia estar sem aulas e tinha alternativa nesse caso. Responsabilizar os professores é que não o faria, porque percebo e concordo com esta greve. As condições de trabalho nesta área estão cada vez piores e a insegurança nas escolas está a crescer", afirmou.
Já Carina Silva, que levou a filha de 16 anos e uma colega à escola, respirou de alívio por os portões estarem abertos: "Não é tanto por mim que consigo gerir bem o trabalho, mas dou boleia a esta menina e ia ter e ver o que fazer se não houvesse aulas. E elas têm teste agora, a professora não vai faltar e ainda bem porque não podem ficar para trás na matéria", analisou.
Os professores realizam hoje uma greve nacional contra o Orçamento do Estado para 2023 e o que consideram ser a falta de investimento na Educação, no dia em que o ministro é ouvido no parlamento sobre a proposta.
A greve foi convocada por sete organizações sindicais, incluindo a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) e a Federação Nacional da Educação (FNE), que exigem a valorização da carreira docente, o combate à precariedade e a necessidade de promover o rejuvenescimento do setor.
A greve coincide com a ida do ministro da Educação, João Costa, ao parlamento para ser ouvido no âmbito da discussão na especialidade do OE2023, que prevê 6,9 mil milhões de euros para o ensino básico e secundário e administração escolar.
Em declarações à agência Lusa, ainda no Porto, e a minutos de embarcar num dos autocarros que o levará com mais de 100 pessoas da Praça Cervantes a Lisboa, o secretário-geral da Fenprof, Francisco Gonçalves, garantiu ter "boas expectativas" quanto à adesão á greve, isto depois deter tomado o pulso aos professores em vários plenários e reuniões.
"Notámos existir bastante descontentamento e razoável mobilização para a greve. Teremos escolas encerradas no 1.º ciclo com certeza e muitos casos de turmas sem professores. Este é um processo longo e os problemas agravam-se. Mesmo os aumentos anunciados são insuficientes face à inflação", resumiu.
Além da greve, a Fenprof convocou para o mesmo dia uma concentração em frente à Assembleia da República a partir das 15:00, uma hora antes do início da audição de João Costa.
Há duas semanas, o ministro da Educação disse, a propósito da greve, que cabe aos sindicatos o papel de reivindicar e ao Governo compete "continuar o investimento na educação", assegurando que Portugal tem registado um crescimento continuado e consolidado nas despesas com o setor.
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