A deputada socialista Joana Sá Pereira considerou, esta quinta-feira, que a confirmar-se que mais de 500 agentes de segurança estão a publicar mensagens de ódio nas redes sociais, essa é uma questão "muito preocupante".
Quando questionada por jornalistas sobre a possibilidade de a imagem das forças de segurança ficar 'manchada' com esta reportagem, a socialista deixou um alerta: "Não mancham. A confirmarem-se podem pôr em causa a confiança dos cidadãos nas forças de segurança [...]. Naturalmente, esperamos pelo inquérito para apurar".
A responsável afirmou ainda que o partido recebeu o requerimento para que o ministro da Administração Interna seja ouvido no Parlamento, por forma a dar explicações sobre esta situação. O Bloco de Esquerda, que esta manhã entregou um pedido para ouvir José Luís Carneiro, defendeu já que, a confirmarem-se as declarações racistas, "é importante que o Governo tenha tolerância zero".
"Tudo aquilo que for de apurar, apurar-se-á em momento oportuno", afirmou, sublinhando que o próprio ministro da Administração Interna tinha, de imediato, dado 'luz verde' para o um inquérito pelo Inspeção Geral da Administração Interna.
Sobre as eventuais consequências da reportagem, emitida na quarta-feira, a deputada socialista disse que não se deveria por em causa o setor. "O pior contributo que podemos dar é pormos em causa a força", notou Joana Sá Pereira.
Quando questionada também sobre as declarações do líder do Chega, André Ventura, que disse que as forças de segurança estavam a ser "demasiado criticados", a socialista não hesitou em responder: "São lamentáveis. Num quadro do Estado de Direito nenhum cidadão pode achar que está acima da lei. Há a investigação aberta, esperaremos pelos resultados. Achar que há cidadãos acima da lei, acho que não é correto. Todos nós estamos sujeitos à lei", acusou.
O que dizem os outros partidos?
Para além do PS e do Bloco de Esquerda, também o Partido Comunista Português reagiu a estes dados, considerando que o conteúdo das mensagens - e "ameaças" - eram "gravíssimas".
Já o presidente do Chega, André Ventura, acusou, esta quarta-feira, o Governo de ter uma "atitude persecutória" e de "humilhação" dos polícias e afirmou vai denunciar o caso à Comissão Europeia.
No rescaldo de 'Quando o ódio veste a farda'
Após a emissão da reportagem 'Quando o ódio veste farda' na SIC, em parceria com o Público, o Expresso e o Setenta e Quatro, o ministro da Administração Interna determinou, na quarta-feira, a abertura de um inquérito sobre a alegada publicação, por agentes das Forças de Segurança, de mensagens nas redes sociais com conteúdo discriminatório.
Em comunicado, José Luís Carneiro referiu que determinou à Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI) a abertura de um inquérito "imediato" para apuramento "da veracidade dos indícios contidos nas notícias de ontem sobre a alegada publicação, por agentes das Forças de Segurança, de mensagens nas redes sociais com conteúdo discriminatório, incitadoras de ódio e violência contra determinadas pessoas".
"Estas alegadas mensagens, que incluem juízos ofensivos da honra ou consideração de determinadas pessoas, são de extrema gravidade e justificam o caráter prioritário do inquérito agora determinado à IGAI", acrescentou a tutela.
A Direção Nacional da Polícia de Segurança Pública garantiu que sempre que tem conhecimento de algum caso comunica-o às entidades judiciais competentes.
O presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia afirmou, esta quarta-feira, estranhar o contexto em que foi divulgada a reportagem sobre frases discriminatórias atribuídas às forças de seguranças, mas diz que vai aguardar pelo resultado dos inquéritos entretanto abertos.
[Notícia atualizada às 13h54]
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