Há 20 anos arrancava o maior escândalo de abusos sexuais. A uma sexta-feira, uma notícia da jornalista Felícia Cabrita no Expresso e na SIC dava conta de que um motorista da Casa Pia de Lisboa, Carlos Silvino da Silva, conhecido pela alcunha de "Bibi", foi abusado como aluno da instituição e mais tarde veio a abusar de alunos.
A reportagem relacionava ainda Silvino com figuras de destaque da sociedade portuguesa, desde a política à televisão, incluindo o apresentador Carlos Cruz, a maior personalidade pública envolvida no processo.
O julgamento acabou com sete arguidos, durou cerca de cinco anos e oito meses, teve 461 audiências, 980 testemunhas e mais de 70 mil documentos.
Vinte anos depois, o processo Casa Pia continua pendente na justiça portuguesa.
2002
23 de novembro - Semanário Expresso publica uma reportagem sobre abusos de menores na Casa Pia de Lisboa.
25 de novembro - Motorista da instituição e principal arguido, Carlos Silvino, é detido.
2003
31 de janeiro - Arguidos Carlos Cruz, Hugo Marçal e Ferreira Diniz são detidos. Apenas Marçal sai com caução no dia seguinte, os outros ficam em prisão preventiva.
22 de fevereiro - Gertrudes Nunes, dona da casa de Elvas onde alegadamente ocorreram abusos, é constituída arguida.
1 de abril - Ex-provedor adjunto da Casa Pia, Manuel Abrantes, é detido.
5 de maio - Hugo Marçal, advogado, fica em prisão preventiva.
20 de maio - Embaixador Jorge Ritto é preso preventivamente.
22 de maio - Paulo Pedroso, ex-ministro socialista, é preso preventivamente.
30 de maio - Humorista Herman José ouvido pela PJ e constituído arguido.
8 de outubro - Paulo Pedroso sai em liberdade.
17 de outubro - Hugo Marçal sai em liberdade com termo de identidade e residência.
29 de dezembro - No fim da fase de inquérito, Ministério Público deduz acusação contra 10 de 13 arguidos iniciais.
31 de dezembro - Ferreira Diniz, médico, em prisão domiciliária.
2004
2 de abril - Jorge Ritto regressa a casa com obrigação de apresentações periódicas às autoridades.
4 de maio - Carlos Cruz, apresentador, em prisão domiciliária.
7 de maio - Manuel Abrantes em prisão domiciliária.
31 de maio - Despacho de pronúncia inclui Carlos Silvino, Carlos Cruz, Jorge Ritto, Ferreira Diniz, Manuel Abrantes, Hugo Marçal e Gertrudes Nunes. Paulo Pedroso, Herman José e o arqueólogo Francisco Alves não irão a julgamento. O arqueólogo acaba por ser julgado em processo autónomo por posse de arma ilegal.
25 de novembro - Julgamento inicia-se no Tribunal da Boa Hora, em Lisboa.
2 de dezembro - Segunda sessão realiza-se no Tribunal de Monsanto, depois de juízes pedirem transferência devido à falta de espaço na Boa Hora.
16 de dezembro - Carlos Silvino começa a depor, implica os outros arguidos.
2005
Janeiro - Julgamento muda-se para Tribunal Militar de Santa Clara.
14 de fevereiro - Carlos Cruz começa a depor.
3 de novembro - Tribunal faz perícias em casa de Elvas onde alegadamente ocorreram abusos.
25 de novembro - Carlos Silvino sai em liberdade.
2006
24 de fevereiro - Defesa de Carlos Silvino, pelo advogado José Maria Martins, suscita incidente de recusa de juiz por duvidar de imparcialidade.
1 de março - Julgamento prossegue.
8 de março - Juíza presidente do coletivo, Ana Peres, acelera ritmo e marca sessões todos os dias.
10 de março - Sessões são reabertas a jornalistas, depois de ouvidas as alegadas vítimas.
29 de março - Tribunal Arbitral decide que Estado pagará dois milhões de euros em indemnizações a 40 das alegadas vítimas.
2007
Junho - Processo em "férias de Verão" pela terceira vez, com mais de 600 testemunhas ouvidas e com queixas de forças políticas e agentes judiciais sobre morosidade.
15 de setembro - Reforma penal entra em vigor. Ministro da Justiça, Alberto Costa, admitiu dias antes em entrevista ao Diário de Notícias que processo Casa Pia guiou alterações.
05 de outubro - Ex-provedora da Casa Pia Catalina Pestana afirma em entrevista ao "Sol" que abusos na instituição continuam.
10 de outubro - Provedora Joaquina Madeira nega ter indícios de novos abusos.
14 de novembro - Paulo Pedroso ouvido como testemunha, nega pressões para ser beneficiado.
20 de dezembro - Ex-secretário geral do PS, Ferro Rodrigues, ouvido como testemunha.
2008
28 de maio - Carlos Cruz volta a depor em tribunal.
02 de junho - Ferreira Diniz fala pela primeira vez desde o início do julgamento.
02 de setembro - Paulo Pedroso ganha ação contra Estado por prisão ilegal.
22 de outubro - Juíza Ana Peres marca início das alegações finais para daí a um mês no tribunal de Monsanto, "faça sol, faça chuva ou chovam picaretas".
24 de novembro - Procurador do Ministério Público, João Aibéo, começa alegações finais.
10 de dezembro - João Aibéo pede penas superiores a cinco anos para todos os sete arguidos em julgamento.
11 de dezembro - Miguel Matias, advogado das vítimas e da Casa Pia, pede indemnizações aos arguidos e condenação de todos.
16 de dezembro - Defesa de Carlos Silvino pede pena suspensa.
2009
6 de janeiro - Em alegações finais, defesa de Manuel Abrantes pede absolvição e critica "borrão impercetível" do despacho de pronúncia.
7 de janeiro - Defesa de Jorge Ritto pede absolvição.
14 de janeiro - Depois de quatro sessões de alegações finais, defesa de Carlos Cruz pede absolvição.
21 de janeiro - Defesa de Ferreira Diniz pede absolvição.
22 de janeiro - Defesa de Hugo Marçal pede absolvição.
26 de janeiro - Defesa de Gertrudes Nunes pede absolvição.
28 de janeiro - Procurador João Aibéo nega existência de "pacto" para reduzir a pena a Carlos Silvino se este colaborasse, como alegou a defesa do arguido.
5 de fevereiro - Ministério Público entrega ao tribunal proposta com mais de 40 alterações não substanciais de factos do despacho de pronúncia.
8 de maio - Julgamento regressa à Boa Hora.
19 de julho - Primeira sessão do julgamento no Campus da Justiça.
2 de novembro - Arguidos reafirmam inocência, Carlos Silvino não fala.
6 de novembro - Tribunal aceita alterações de factos relativos a acusação a Carlos Silvino.
23 de novembro - Tribunal aceita sete alterações de factos para crimes imputados a Carlos Silvino, Manuel Abrantes, Jorge Ritto e Ferreira Diniz.
14 de dezembro - Coletivo anuncia mais quatro alterações a factos imputados a Carlos Silvino, defesa de Carlos Cruz insurge-se contra "falta de fundamentação ou justificação razoável".
2010
11 de janeiro - Defesa de Carlos Cruz anuncia que vai pedir "aceleração do processo" ao Conselho Superior da Magistratura.
26 de fevereiro - Mais de quinhentas novas inquirições de testemunhas pedidas pelas defesas, os juízes aceitaram apenas 20 aos arguidos Ferreira Diniz e Jorge Ritto, que acabam por prescindir das mesmas.
19 de abril - Defesa de Carlos Cruz admite possíveis condenações, pede para juízes não decidirem com "preconceito" ou "irracionalidade".
23 de abril - Tribunal ouve últimas declarações finais de arguidos e marca leitura de acórdão para 09 de julho.
17 de junho - Relação de Lisboa recusa pagamento de indemnização a Paulo Pedroso, depois de Ministério Público ter recorrido da decisão de 2009.
3 de setembro - Leitura do acórdão. Seis dos sete arguidos condenados. A única absolvida foi Gertrudes Nunes.
2011
Janeiro - Entrega dos recursos ao Tribunal da Relação de Lisboa
2012
9 de fevereiro - Tribunal da Relação começou a julgar os recursos.
23 de fevereiro - Tribunal da Relação decide manter cinco das seis condenações e manda repetir parte do julgamento no que se refere aos crimes alegadamente cometidos na casa de Elvas.
11 de julho - Início da repetição do julgamento dos crimes da casa de Elvas, com quatro arguidos: Carlos Cruz, Hugo Marçal, Carlos Silvino e Gertrudes Duarte.
28 de agosto - Carlos Cruz apresenta queixa no Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
22 de setembro - Carlos Silvino recorre para o Tribunal Constitucional da pena de 15 anos de prisão, mas recurso está pendente de fundamentação.
22 de outubro - Tribunal decide aceitar que uma das vítimas, Ilídio Marques, constituído também assistente, volte a depor.
9 de novembro - Carlos Silvino alterou declarações à PJ e disse que não levou qualquer menor à casa de Elvas. O antigo motorista pediu desculpa aos arguidos e afirmou que estava a dizer a verdade agora.
16 de novembro - Ilídio Marques disse que a indicação de nomes não passou "de brincadeira" entre as vítimas e que foram induzidos pela PJ a indicarem nomes.
2013
3 de janeiro - Início das alegações finais da repetição do julgamento dos crimes da casa de Elvas.
16 de janeiro - Carlos Silvino é detido para cumprir resto da pena (de 15 anos) a que está condenado.
8 de fevereiro - Tribunal Constitucional rejeita recursos interpostos por Carlos Cruz, Manuel Abrantes, Jorge Ritto e João Ferreira Dinis, relativamente às questões de constitucionalidade no processo.
21 de fevereiro - Ferreira Diniz pede aclaração de acórdão do Tribunal Constitucional o que suspende execução da pena dos quatro arguidos.
25 de março - Carlos Cruz, Carlos Silvino, Hugo Marçal e Gertrudes Nunes são absolvidos na repetição parcial do julgamento, relativa aos crimes sexuais na casa de Elvas. Advogado da Casa Pia admite recorrer da decisão.
2 de abril - Carlos Cruz entregou-se às autoridades, no Estabelecimento Prisional da Carregueira, para cumprir resto da pena.
4 de abril - Manuel Abrantes e Jorge Ritto entregam-se às autoridades, para cumprimento da pena, no Estabelecimento Prisional da Carregueira.
4 de abril - João Ferreira Diniz é detido pela Polícia Judiciária, para cumprimento da pena de prisão.
11 de abril - Ministério Público recorre da absolvição dos arguidos nos crimes da casa de Elvas.
7 de novembro - Ministério Público apresenta recurso da absolvição dos crimes de Elvas.
2014
13 de fevereiro - João Ferreira Diniz abandona Estabelecimento Prisional da Carregueira, em Sintra, para cumprir em casa o resto da pena.
24 de abril - Tribunal da Relação confirma decisão de absolver arguidos dos crimes de Elvas.
2015
14 de fevereiro - Tribunal de Execução de Penas recusa pedido de liberdade condicional de Manuel Abrantes, feito quando cumpriu metade da pena a que foi condenado.
23 de dezembro - Carlos Cruz sai do Estabelecimento Prisional da Carregueira, para passar o Natal em casa, em regime de licença precária.
2016
4 de março - Tribunal de Execução de Penas autoriza nova saída precária a Carlos Cruz, para festejar o seu aniversário, a 24 de março, fora da prisão.
11 de março - Tribunal de Execução de Penas recusa liberdade condicional a Carlos Cruz, advogado diz que vai recorrer da decisão para o Tribunal da Relação de Lisboa
16 de março - Tribunal da Relação de Lisboa rejeita recurso do embaixador Jorge Ritto, para obter a liberdade condicional, confirmando decisão do juiz de execução de penas.
22 de março - Carlos Cruz, em regime de licença precária, apresenta, num hotel de Lisboa, a sua autobiografia, "Uma vida", recém-editada.
7 de julho - Carlos Cruz sai em liberdade condicional do Estabelecimento Prisional da Carregueira, no mesmo dia em que o Tribunal da Relação de Lisboa aceita o seu recurso, contra a decisão do Tribunal de Execução de Penas, que recusara pedido de liberdade condicional.
2017
17 de março - Manuel Abrantes libertado da prisão da Carregueira
2022
17 de julho - Carlos Silvino libertado após cumprir 12 dos 15 anos a que acabou condenado
15 de setembro -- Relação de Lisboa condena Carlos Cruz ao pagamento de uma indemnização a duas vítimas no valor de 25 mil euros cada e a defesa anuncia recurso para o Supremo Tribunal de Justiça.
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