"Foram minutos de tirar o fôlego". É assim que descreve o biólogo marinho Dinis Jacob, da empresa Futurismo, o momento em que viu um golfinho a nascer, no dia 4 de novembro, ao largo da ilha de São Miguel, nos Açores.
O barco em que seguia ia cheio de turistas. Parecia que "as nuvens caíam do céu", o que dificultava o trabalho do vigia da empresa de observação de cetáceos. Contudo, isso não serviu de desculpa para tornar a viagem menos emocionante. O biólogo recorreu a um hidrofone, um aparelho que serve para captar sons produzidos debaixo de água e que funciona como um microfone aquático, para encontrar cetáceos e, "graças a esse dispositivo maravilhoso", como o próprio descreve, deu a quem estava a bordo um momento único e inesquecível.
"Todos a bordo tiveram a oportunidade de assistir a um daqueles momentos que acontecem uma vez na vida! No meio de golfinhos pintados do Atlântico, um recém-nascido apareceu à superfície a respirar pela primeira vez fora do útero da mãe! Sem dúvida, que foram minutos de tirar o fôlego!", contou Dinis Jacob, num e-mail enviado ao Notícias ao Minuto.
Antes de se aperceber que se tratava de um nascimento, a equipa da Futurismo reparou que havia um ajuntamento de golfinhos, muito ativos, à superfície. Poucos segundos depois, surgiu o golfinho bebé, "cheio de pequenas rugas no corpo e a cabeça ainda deformada", uma das características dos recém-nascidos.
Outra das características, que prova que tinham acabado de presenciar o nascimento de um golfinho, é a posição da barbatana dorsal e da cauda. "Acredita-se que a barbatana dorsal enrijece em poucas horas e as caudas parecem demorar um pouco mais. Além disso, quando os bebés nascem, eles têm uma espécie de pequenas dobras ao longo do corpo geradas no ventre da mãe, chamadas faixas fetais. A forma como o golfinho nada, também indica que se trata de um recém-nascido. Um golfinho bebé nada numa posição ao lado da mãe chamada posição escalonada. O bebé aproveita os movimentos da mãe e de outras fêmeas, permitindo assim que nade menos para acompanhar a progenitora", explicou ao Notícias ao Minuto a empresa Futurismo no mesmo e-mail.
O momento emocionante ficou registado em vídeo e fotos, como pode ver abaixo e na galeria acima.
Geralmente, os golfinhos pintados do Atlântico são encontrados nos Açores nos meses em que a temperatura do mar começa a aquecer e ficam pelas águas açorianas até ao fim do verão, por vezes, até ao princípio do outono. Contudo, com o aquecimento global, as águas estão a ficar cada vez mais quentes durante mais tempo, influenciando a estadia destes animais pelo arquipélago. Nos últimos anos, as empresas de observação de cetáceos têm avistado esta espécie até janeiro.
Várias curiosidades sobre o nascimento de golfinhos
Ao contrário dos seres humanos, os golfinhos geralmente nascem com a cauda primeiro e o cordão umbilical cai durante o parto.
Dependendo da espécie de golfinho, a gestação das fêmeas de golfinho pode durar entre 9 a 17 meses. Quando chega a hora de dar à luz, as fêmeas tendem a juntar-se para ajudar a mãe. Curiosamente, noutras espécies de cetáceos, a mãe tende a isolar-se para dar à luz num ambiente mais calmo e descontraído. Normalmente, as fêmeas dão à luz apenas um bebé a cada 3 a 5 anos
Os golfinhos amamentam, em média, entre um a dois anos, mas já foram observados golfinhos a amamentar até aos quatro anos e meio. Geralmente, os golfinhos bebés dependem totalmente das fêmeas pelo menos nos dois primeiros anos de vida, consoante a espécie.
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