Cheias em Lisboa. Quando Câmara acionou protocolo, era "tarde demais"
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa refletiu sobre a chuva intensa que deixou Lisboa debaixo de água, assegurando que, caso os túneis de drenagem já estivessem construídos, o fenómeno "não teria acontecido".
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País Lisboa
Tecendo agradecimentos aos funcionários da autarquia pelo trabalho realizado no rescaldo das chuvas intensas que assolaram a capital, na quarta-feira, o presidente da Câmara de Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, revelou ter mandado encerrar os túneis da cidade, para que os condutores não sejam surpreendidos nesta noite de quinta-feira, numa altura em que o distrito de Lisboa está em alerta laranja devido ao mau tempo. Adiantou, além disso, que quando a autarquia acionou este protocolo na noite de ontem, já era “tarde demais”.
"Já mandámos fechar os túneis hoje [quinta-feira] e aconselhamos as pessoas a não saírem esta noite", apontou, em entrevista à SIC Notícias, assegurando que a Câmara seguiu “o protocolo”.
“Tivemos um evento completamente extremo. Em uma hora, choveram 44 mm, que é uma brutalidade”, pelo que, naquele momento, “foi tarde demais”.
“Quando a polícia municipal chegou, em minutos os túneis já estavam cheios”, complementou, apelando, por isso, para que os cidadãos não arrisquem a circulação em túneis neste tipo de situações.
O responsável ressalvou que a CML avisou todas as Juntas de Freguesia, por volta do meio-dia, que “era possível que isto acontecesse”, assegurando que os serviços da Câmara “estiveram a limpar todas as sarjetas”.
“Há 40 anos que isto acontece, e acontece mesmo limpando as sarjetas”, disse, recordando que “Lisboa foi construída em cima de rios. Alcântara era uma ribeira, a Avenida da Liberdade era uma ribeira”, elencou, sendo que “não foi estruturalmente pensado como é que iríamos buscar a água da chuva e a poderíamos levar até ao rio sem estas cheias”, esclareceu.
Moedas foi mais longe, explicando que em Lisboa “tudo conflui”, uma vez que a água desce desde os dois pontos altos – Monsanto e Chelas – até à parte baixa da cidade. Assim, sem um sistema de drenagem adequado, a capital está mais sujeita a inundações. O plano para resolver este problema passa por construir dois túneis: se o primeiro liga Monsanto a Santa Apolónia, o segundo escoará a água entre Chelas e o Beato.
“É triste ter demorado 20 anos. Foi o professor Carmona Rodrigues que iniciou esta ideia, que foi reformulada. Mas, quando chegámos, não havia projetos de execução […] e tudo isso conseguimos fazer no tempo recorde de um ano, para conseguir, em março, fazer este grande coletor”, disse, complementando que “vamos conseguir que a água entre neste túnel e não vá para Alcântara”.
“Aquilo que aconteceu ontem não teria acontecido [se os túneis estivessem montados]”, afirmou.
Apesar de a tuneladora já estar em Portugal, ainda está a ser montada, devido à sua dimensão. É por isso que, segundo Moedas, a obra só terá início em março de 2023, estando previsto que esteja terminada em 2025. Contudo, é um projeto que dará “muito trabalho”, condicionando o trânsito em vários pontos da cidade. A água recolhida pelos túneis será, depois, usada para lavar as ruas e regar os espaços verdes, para criar “uma cidade mais sustentável”.
Face ao mau tempo, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, convocou, esta quinta-feira, uma reunião com os municípios mais afetados pelas chuvas que assolaram a Área Metropolitana de Lisboa na noite de quarta-feira, não só para avaliar as consequências das inundações provocadas pela chuva, como também para a possível necessidade de apoios. O encontro terá lugar na sexta-feira, às 11h30, no edifício sede da Área Metropolitana de Lisboa.
Moedas assegurou que "a Câmara Municipal fará a sua parte", mas não pode estar "sozinha". A autarquia vai, assim, pedir ajuda.
De notar que, na noite de quarta-feira para quinta-feira, a Área Metropolitana de Lisboa foi atingida por chuvas intensas, registando-se várias ocorrências relativas a inundações em vários pontos, particularmente na zona de Alcântara, em Lisboa, e de Algés, em Oeiras. Foram ainda registados casos de realojamentos na Amadora e em Odivelas, assim como uma vítima mortal, em Algés.
Face a esta conjetura, a Câmara Municipal de Lisboa apelou, à semelhança do que fez na noite passada, para que os cidadãos permaneçam em casa, "exceto em situações de absoluta necessidade".
Recorde-se que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) tinha elevado, nos distritos de Lisboa, Leiria, Setúbal, Santarém e Faro, os avisos de amarelo para laranja, a partir das 00h00 de sexta-feira, devido ao mau tempo. Contudo, o alerta foi antecipado para as 19h52, em Lisboa, Setúbal e Leiria.
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