Empreendedora social premiada quer aumentar participação cívica no país
Joana Moreira fez-se voluntária há 16 anos por achar que tinha muitas férias, foi na segunda-feira reconhecida pela rede mundial de empreendedores sociais Ashoka e quer agora resolver o "problema da baixa participação cívica e social" no país.
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Segundo a empreendedora, os números da Comissão Europeia sobre o voluntariado jovem em Portugal, que apontam uma participação inferior a 10%, são irreais por não reconhecer o ativismo, mas, acredita, podem duplicar numa década.
Aos 32 anos, o percurso de voluntariado iniciado aos 16 anos no Olival, em Vila Nova de Gaia, fê-la atuar em bairros sociais, prisões juvenis, centros de acolhimento e de apoio à deficiência e até em contexto internacional, a que associou a formação em Psicologia Clínica na Universidade do Porto, um percurso sem data para parar num país onde o número de voluntários jovens é inferior a 10%, contou à Lusa.
As causas para o desinteresse, disse, são três: o excesso de informação faz com que, muitas vezes, os jovens se sintam perdidos na hora de participar, o facto da Educação para a Cidadania nas escolas não ser uma prioridade na educação e o impacto brutal da pandemia da covid-19, repercutindo-se também ao nível da saúde mental, fazendo com que haja cada vez mais jovens com ansiedade e problemas de relacionamento.
O crescimento dos números em Portugal "não será fácil, nem depende em exclusivo da adesão dos jovens", explicou Joana Moreira, aludindo aos "relatórios da Comissão Europeia (CE) sobre o voluntariado", onde o "ativismo não conta como tal", enquadrando apenas "o voluntariado formal, o que se faz através de uma organização".
Apontada a discordância pela leitura da CE sobre os números do voluntariado jovem, a empreendedora social concorda que o ativismo ambiental que cresce nos jovens portugueses "pode ser uma oportunidade brutal para fazer crescer os números".
Membro desde 2013 do Movimento Transformers, uma organização não-governamental de desenvolvimento sediada no Porto, e cuja visão, lê-se no 'site', é "aumentar o envolvimento das pessoas nas suas comunidades através daquilo que mais gostam de fazer", Joana Moreira assinalou que o foco esteve sempre no "voluntariado e na sua promoção".
Neste contexto, acredita numa evolução positiva do voluntariado jovem: "acredito plenamente que sim. Triplicar é ser um bocadinho ambicioso, até porque há um conjunto de políticas públicas que deviam de mudar para acompanhar este crescimento, mas diria que duplicar facilmente [acontecerá]".
Exemplo disso, anotou, é a alteração promovida pelo Instituto Português do Desporto e da Juventude, que "até então apoiava associações de estudantes e juvenis e agora tem um novo formato que é associações de caráter juvenil, que são todas aquelas que trabalham para os jovens não sendo os dirigentes propriamente jovens".
Dezasseis anos volvidos sobre a decisão que a fez perceber que "se cada pessoa fizer a sua parte, isto faz tudo mais sentido", Joana Moreira tornou-se na segunda-feira, em Espanha, membro da rede mundial de empreendedores sociais reconhecidos pela Ashoka, organização fundada em 1981 nos Estados Unidos.
Distinguida pela "capacidade de liderança, criatividade, empatia e compromisso na resolução de problemas sociais de forma efetiva e inovadora", Joana Moreira passa a integrar a rede de 3.600 inovadores sociais ('Ashoka Fellows') a nível mundial, que trabalham de forma sistémica para provocar mudança no mundo em diversas áreas de atuação: meio ambiente, direitos humanos, saúde, desenvolvimento económico, educação e participação cívica.
Da distinção da Ashoka, disse esperar que seja "fundamental para validar o que têm vindo a fazer no Movimento Transformers" e que, enquanto empreendedora social, a ajude a "resolver o problema da baixa participação cívica e social" no país.
Para tal, frisou querer "aproveitar o facto de o ecossistema do empreendedorismo português estar num ritmo muito mais acelerado do que outros países europeus, porque há políticas públicas nesse sentido, porque há investimento público e comunitário, porque há estruturas, quer de ensino quer governamentais, preocupadas com a inovação do empreendedorismo social".
"Portugal é um sítio extraordinário para se nascer enquanto organização de empreendedorismo social", disse, espelhando o seu otimismo sobre o futuro da atividade no país.
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