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2022/Outubro. Testemunhos de abusos na Igreja abalam até a Presidência

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica recebeu 424 testemunhos desde que começou a trabalhar no início de 2022 até outubro, mas o número de vítimas é bastante superior.

2022/Outubro. Testemunhos de abusos na Igreja abalam até a Presidência
Notícias ao Minuto

10:33 - 18/12/22 por Lusa

País Revisão do ano

O coordenador da comissão independente, Pedro Strecht, admitiu que a maior parte dos crimes reportados já prescreveu e explicou que "os abusos compreendem todas as formas descritas na lei portuguesa".

Até outubro tinham sido comunicados ao Ministério Público 17 casos, estando em avaliação "mais 30 situações em estudo para idêntico procedimento" na justiça.

A última atualização pública feita pela equipa liderada por Pedro Strecht ocorreu na sequência de várias notícias, em outubro, sobre possíveis ligações de membros da hierarquia da Igreja Católica portuguesa a alegados encobrimentos de casos de abuso sexual.

O pedopsiquiatra recusou comentar essas situações e garantiu que "não sentiu qualquer limitação ou entrave à independência, nomeadamente por parte de qualquer membro daquela hierarquia".

Apesar da "tolerância zero" aos abusos decretada pelo Papa Francisco, Pedro Strecht também vincou que "há um setor da Igreja Católica que quer manter os segredos" e que se tornou "muito claro que houve encobrimento da hierarquia católica em Portugal", apelando à instituição para "vencer o medo" e recusar "a ocultação da ocultação".

Em causa estavam alegados encobrimentos dos crimes, nomeadamente por parte do cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, e do bispo de Leiria-Fátima e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas.

Estes casos acabaram por ganhar impacto político quando o Presidente da República considerou que os mais de 400 testemunhos não eram um número "particularmente elevado". Marcelo Rebelo de Sousa foi muito criticado e praticamente só o primeiro-ministro, António Costa, saiu em defesa do chefe de Estado, que, após dois dias de sucessivas explicações, acabou por se desculpar perante as vítimas.

Além de Pedro Strecht, fazem ainda parte da comissão Álvaro Laborinho Lúcio, juiz conselheiro jubilado do Supremo Tribunal de Justiça, Ana Nunes de Almeida, socióloga e investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Daniel Sampaio, psiquiatra e professor catedrático jubilado da Faculdade de Medicina de Lisboa, Filipa Tavares, assistente social e terapeuta familiar, e Catarina Vasconcelos, cineasta.

Outros acontecimentos de outubro

Nos Estados Unidos, o Twitter dá o seu acordo para o empresário Elon Musk comprar a rede social por 44 mil milhões de dólares, no dia 04.

Enquanto a guerra continua por terras ucranianas, no desporto, em 05 de outubro, é anunciado que a Ucrânia vai acompanhar Portugal e Espanha numa candidatura conjunta à organização do Mundial2030 de futebol.

E dois dias depois o Prémio Nobel da Paz 2022 é atribuído a Ales Bialiatski, da Bielorrússia, e às organizações de defesa dos direitos humanos Memorial, da Rússia, e Centro de Liberdades Civis, da Ucrânia.

Em mais um balanço do seu trabalho, no dia 11, a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa informa que já recebeu 424 testemunhos.

O Presidente da República afirma não estar surpreendido com as 424 queixas e considera que não é um número "particularmente elevado" comparado com "milhares de casos" noutros países. Dois dias depois, e depois de ter sido criticado por partidos e personalidades, à esquerda e à direita, Marcelo Rebelo de Sousa pede desculpa se ofendeu "uma que seja" das pessoas abusadas, garantindo que não quis desvalorizar o assunto.

Em de 20 outubro, a primeira-ministra britânica, Liz Truss, apresent a demissão ao Rei Carlos III, pondo fim a um governo que estava em funções há 44 dias. É substituída cinco dias depois por Rishi Sunak, que se torna oficialmente chefe do Governo britânico.

E no mesmo dia, os governos de Portugal, França e Espanha alcançam um acordo para acelerar as interconexões ibéricas, abandonando o projeto existente, destinado apenas ao gás, por um outro que prevê um gasoduto marítimo para transportar também hidrogénio 'verde'.

Em Bruxelas, os chefes de Governo e de Estado da União Europeia (UE) concordam em "trabalhar em medidas" para conter os elevados preços da energia, acentuados pela guerra da Ucrânia, anunciou o presidente do Conselho Europeu.

Em Pequim, o líder da China Xi Jinping assegura um terceiro mandato no poder, após ter sido reconduzido por cinco anos como secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC). Uma votação à porta fechada, também no dia 20, e após o encerramento do 20.º Congresso do PCC, em Pequim, confirmou a quebra da tradição política das últimas décadas, nas quais o líder chinês apenas cumpria dois mandatos.

Já quase no final do mês, em 27 de outubro, o Banco Central Europeu (BCE) anuncia uma nova subida de 75 pontos base nas suas taxas de juro para travar a inflação recorde na zona euro. Com esta subida, a terceira consecutiva e a segunda desta dimensão, a principal taxa de refinanciamento do BCE fica em 2%.

No Brasil, no dia 30, após uma disputada campanha eleitoral, o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT, esquerda), Luís Inácio Lula da Silva, é eleito Presidente. Jair Bolsonaro, o atual chefe de Estado brasileiro, perde e demora dias a reconhecer a derrota enquanto, nas ruas, se multiplicam as manifestações contra Lula.

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