Numa entrevista recente a Francisco Pinto Balsemão, no "podcast" Deixar o Mundo Melhor, António Costa disse que só em outubro de 2026 é que decidirá o que fazer quando cessar funções na liderança do Governo, mas não descartou uma nova candidatura à liderança do PS no congresso socialista de 2025.
Hoje, no debate sobre política geral no parlamento, foi desafiado pelo vice-presidente da bancada do PSD Ricardo Baptista Leite a dizer que país é que queria deixar aos seus filhos e netos.
"O país que gostaria de deixar aos meus filhos e netos é o país em 2026 [data do final da legislatura], e o país que os meus filhos e netos possam continuar a construir. Porque um país nunca é uma obra inacabada, e felizmente os meus filhos e netos vão ter a liberdade de poderem a continuar a construir o país além de mim. Espero que também o senhor deputado, os seus filhos e netos, todos possam também continuar a construir o país que é de todos nós", afirmou.
Nesta segunda ronda, o debate aqueceu na intervenção do PSD, com Costa a acusar Baptista Leite de "falta de rigor nos números" e o deputado do PSD a apontar ao primeiro-ministro "contorcionismo no que toca à verdade".
O deputado do PSD explicou ter pedido, nas suas redes sociais, que os portugueses lhe dissessem que perguntas gostariam de ver colocadas ao primeiro-ministro no debate de hoje.
"Há duas recorrentes. Porque é que o Portugal de António Costa se tornou no país do Salário Mínimo e dos serviços públicos mínimos?", questionou.
Segundo o deputado, em 2015 eram cerca de 500 mil os portugueses que recebiam o Salário Mínimo Nacional (SMN) e hoje serão mais de um milhão, dizendo ainda que em Portugal há cerca de 4,5 milhões de portugueses em situação de pobreza antes de receberem prestações sociais.
"As pessoas estão como o PS e o Governo gostam, cada vez mais dependentes do Estado", criticou, dizendo ainda que nos últimos anos diminuiu o poder de compra dos portugueses.
Na resposta, o primeiro-ministro salientou nesses quatro milhões se incluem até os reformados antes de receberem pensões e deu um exemplo familiar.
"A minha mãe, que tem uma bela pensão, cabe nesse critério e não é pobre. Quando incluímos as pensões baixamos de 40 para 23% o número de pessoas em situação de pobreza", afirmou.
O primeiro-ministro contestou que o país tenha empobrecido, admitindo apenas que, em 2022, devido à inflação, "a generalidade das pessoas" tenha perdido poder de compra,
"Não vivemos num pais de salários mínimos, vivemos num pais em que o Salário Mínimo Nacional cresceu 40%, apesar de os senhores dizerem que com isto íamos chamar o diabo e destruir emprego", frisou Costa.
O primeiro-ministro desafiou ainda o PSD a dizer quanto daria de aumento de SMN se fosse Governo, acusando Baptista Leite de "falta de rigor nos números".
"As pessoas lembram-se quando é que o salário foi cortado 13% e as pensões foram cortadas. Pode torcer os números como quiser, como já torceu na pandemia, mas há limites para a verdade, não consigo explicar de forma mais clara", disse.
O deputado do PSD contrapôs que não conseguia competir com o primeiro-ministro no "contorcionismo no que toca à verdade", e sem responder sobre o SMN, fez questão de dar resposta a uma questão anteriormente colocada pelo primeiro-ministro: o que fariam os sociais-democratas em relação à TAP.
"O PSD nunca teria nacionalizado a TAP em 2016, esta é a resposta, se o PSD tivesse sido Governo depois de ganhar eleições hoje não teríamos enterrado 3,2 mil milhões de euros públicos na TAP, a dra. Alexandra Reis não teria saído com 500 mil euros dos nossos impostos no bolso", criticou.
O líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, ainda pediu a palavra no final deste período de debate, para frisar que foi um Governo PS que, em 2008, congelou o SMN e um do PSD que em 2015 o descongelou.
Antes, os deputados do PS Luís Soares e Mara Lagriminha defenderam a boa execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) por parte do atual Governo e acusaram a direita de "fetiche" nas críticas sobre a utilização destas verbas.
O primeiro-ministro reiterou que, tal como o executivo conseguirá executar até final do ano "a totalidade das verbas" do Portugal 2020, também o PRR segue a bom ritmo.
"Muitas pessoas não se deram ao trabalho de estudar como funciona o PRR, até aqui na Assembleia da República. O PRR não financia subsídios, não é essa a lógica. É mesmo para transformar estruturalmente o país no alojamento estudantil, na habitação acessível, nos cuidados de saúde primários, na saúde mental", vincou.
[Notícia atualizada às 19h22]
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