Em declarações à agência Lusa, junto à Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia (distrito o Porto), onde esta manhã se concentraram dezenas de professores e pessoal não docente numa manifestação em defesa da escola pública, André Pestana acusou a tutela de estar a atacar o direito à greve ao anunciar serviços mínimos para as escolas a partir de fevereiro.
"É fundamental que o Presidente da República, que deve ser o principal defensor da nossa Constituição, diga de uma vez por todas qual a sua posição clara sobre estes ataques que têm degradado a escola pública e o atentado ao direito à greve", disse André Pestana.
O líder do STOP falou da mobilização que está prevista para sábado em Lisboa, uma "marcha pela escola pública", apontando que esta é uma "resposta" ao "ataque" do Governo ao direito à greve.
A marcha, que o dirigente sindical acredita que juntará milhares de pessoas, desde professores, pessoal não docente, a pais e alunos, terá início no Ministério da Educação (na Avenida Infante Santo) e terminará na Presidência da República.
"O ministro [da Educação], perante esta grande mobilização sem precedentes que está a unir docentes e não docentes, em vez de tentar ceder em aspetos essenciais para acalmar esta luta, em vez de fazer um aumento mínimo salarial -- 120 euros foi a nossa proposta -- está a fazer um ataque ao direito à greve com serviços mínimos a partir de 01 de fevereiro", disse André Pestana.
Argumentando que "este Governo conseguiu atacar e destruir a greve dos enfermeiros, estivadores e motoristas de matérias perigosas" porque, disse, "esses setores ficaram isolados na sociedade", André Pestana apelou à adesão de toda a comunidade educativa e desafiou Marcelo Rebelo de Sousa a tornar pública a sua posição.
"Ainda não tínhamos ido a este poder. Tínhamos ido ao Parlamento e ao Terreiro do Paço e agora vamos à Presidência da República porque é urgente que também o senhor Presidente mostre a sua posição", referiu.
"Esta luta está a incomodar, juntem-se e deem-nos força", acrescentou.
Junto a docentes de várias escolas do distrito do Porto, que empunhavam cartazes com frases como "Justiça! Respeito! Dignidade!", "Escola a lutar, também está a ensinar" ou "Basta! Professores exigem respeito", o líder sindical disse, ainda, compreender os desabafos de encarregados de educação que estão cansados dos constrangimentos que as greves nas escolas têm causado, mas insistiu: "Tem havido muitos pais e muitos alunos a juntarem-se a nós porque percebem a nossa luta".
"Nós, profissionais da educação, pessoal docente e não docente, também somos pais e avós e os nossos filhos e netos também estão a perder aulas. O que as pessoas têm de perceber é que as principais conquistas que se conseguiram no direito laboral -- o limite de horário, a licença parental, etc. -- foram com greves fortíssimas que tiveram de incomodar momentaneamente", descreveu.
André Pestana disse que "até o próprio Presidente da República já tem dado a ideia de que o Governo tem de ceder mesmo em questões sensíveis como a questão do tempo de serviço", algo que "parecia que estava enterrado e que Bruxelas diz que há flexibilidade" e frisou a importância da mobilização para "fazer o ministro ceder".
"Esta luta foi espoletada pelo STOP -- infelizmente os outros sindicatos não quiseram estar do nosso lado -- mas isto não é do STOP nem do André Pestana. É de todos e em defesa da escola pública. A sociedade não está habituada a este tipo de sindicalismo. Já disse isso ao ministro. Quem vai dizer se esta luta pára e quando não vai ser o André Pestana nem os dirigentes. São os milhares de colegas, profissionais de educação, a decidir democraticamente nas escolas", concluiu.
Os professores prosseguem hoje as greves e protestos em curso, após os sindicatos terem saído insatisfeitos das reuniões negociais com o Ministério da Educação na semana passada.
Embora o ministro da Educação, João Costa, tenha feito na sexta-feira um balanço positivo das negociações sobre a contratação e colocação de docentes e apelado ao fim das greves em curso, os sindicatos não desarmaram.
À saída da reunião, o secretário-geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof), Mário Nogueira, disse que irá apresentar esta semana um parecer sobre a proposta negocial do Governo, mas garantiu que as greves que estão a decorrer diariamente por distrito se irão manter.
A greve por distritos, convocada pela Fenprof e por outros sete sindicatos, chega hoje a Castelo Branco, com concentrações agendadas para a capital de distrito, Fundão, Sertã e Covilhã, onde marca presença Mário Nogueira.
O Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP), que anunciou uma nova manifestação em Lisboa em 28 de janeiro, disse sair insatisfeito da reunião negocial por não haver "nenhuma cedência" e manteve a greve nas escolas iniciada em dezembro do ano passado.
Além das greves do STOP e da Fenprof está também a decorrer uma greve parcial convocada pelo Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE).
A greve convocada pelo STOP teve início em 09 de dezembro por tempo indeterminado.
Os profissionais de educação estão em protesto, principalmente, pelo processo de seleção e recrutamento de professores.
Hoje, além da concentração em frente à Câmara Municipal de Gaia, está marcada uma reunião com as comissões de greve do distrito do Porto, bem como uma concentração e cordão humano na rotunda da Boavista, no Porto, num programa que termina com um jantar de apoio à greve.
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