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Famílias de diferentes origens conhecem-se à volta da mesa

Mais de 150 famílias de diferentes nacionalidades e que até agora não se conheciam sentaram-se, este domingo, à mesa em várias cidades do país, numa viagem à volta do prato, sem sair de casa.

Famílias de diferentes origens conhecem-se à volta da mesa
Notícias ao Minuto

20:19 - 18/11/12 por Lusa

País Almoço

O Miguel nasceu no Reino Unido há 11 anos e voltou para Portugal há pouco mais de um. Ainda não tem amigos, "só colegas", mas, este domingo, fez duas amizades com origens cabo-verdianas, o Pedro e a Alice.

Pouco depois das 13h, a família de Helena Soares, natural da Ilha do Sal, tocou na campainha do apartamento de Cristina Costa, mãe do Miguel, na Torre da Marinha, Seixal, onde a esperava um tabuleiro de bacalhau com natas.

As duas famílias monoparentais não se conheciam, mas começaram hoje, à volta da mesa, uma "relação de amizade", aproveitando a iniciativa "Família do Lado", que o Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI), o município do Seixal e as associações de imigrantes do concelho estão a promover.

A ideia é simples: "Abrir as portas de uma residência para deixar entrar outras culturas, outras famílias, e fomentar o espírito de vizinhança, de solidariedade, de cooperação, que é o que se pretende com este almoço diferente", explica à agência Lusa a vereadora da Câmara do Seixal com a pasta da Acção Social, Corália Loureiro.

Miguel nasceu no Reino Unido e morou "perto de London", que é como diz o nome da capital britânica, até aos dez anos. Conta que tem "muitas saudades de lá", da família e dos amigos que ficaram.

Na Torre da Marinha, onde agora mora com a mãe e com o irmão, "um reguila" de três anos que estava em casa da avó, "ainda não [tem] amigos, só colegas da escola que também ajudam".

O Pedro, seis anos, e a Alice, de quatro, nasceram em Portugal, mas são filhos de mãe cabo-verdiana. O Pedro, que nunca foi à terra da mãe, sofre de autismo, não fala de muita coisa, mas adora música e diz que sabe tocar viola, tambor e piano.

A Alice, mais tímida, só diz, com a cabeça, que tem fome.

Eram quase duas da tarde quando o almoço foi servido: bacalhau com natas, feito por Cristina, acompanhado com vinho verde para as mães e sumo de manga para os filhos, salada e pão para todos. Uma mesa portuguesa.

Cristina, porteira na Câmara do Seixal, conta que foi "das primeiras a aderir ao projecto", até porque já passou por uma experiência de imigração. Diz que gosta de "poder ajudar quem está a passar pelo mesmo" e quer que os filhos tenham "esse espírito" de entreajuda.

Também Helena quis de imediato conhecer uma família portuguesa. Na véspera deste almoço fez "um panelão de cachupa" porque pensava que seria ela a anfitriã. "Fica para a próxima", promete.

No concelho do Seixal, foram mais de 10 as famílias portuguesas que hoje receberam famílias imigrantes e "algumas não o fizeram por dificuldades económicas", explica à Lusa a presidente da Associação Cabo-Verdiana do Seixal, Lídia Duarte, que também participou do almoço.

"Quando nós recebemos alguém em nossa casa queremos sempre dar alguma comodidade, dar o bom e o melhor. Nós alertamos as pessoas para não se preocuparem em fazerem grandes banquetes, porque o importante não é só conhecerem um prato diferente, mas o laço de amizade que vão criar a partir desde dia", resumiu.

A ideia é partilhada pela vereadora Corália Loureiro: "Em momentos tão difíceis como aqueles que estamos a viver, [é importante] sentir que alguém abre a sua porta, que dá esta confiança a outras pessoas, que acolhe".

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