A Polícia de Segurança Pública (PSP) de Faro divulgou, esta segunda-feira, ter detido três adolescentes e identificado outros oito na sequência das agressões a um cidadão estrangeiro, em Olhão, no final de janeiro.
A força de segurança realçou que, "apesar de não haver queixa, a PSP conseguiu identificar a vítima e recebeu o seu testemunho", após ter realizado "diligências de polícias de proximidade junto de comunidades de imigrantes", no dia 2 de fevereiro.
"Houve ainda conhecimento de um outro roubo – a que correspondeu uma 2.ª queixa – a outro cidadão da comunidade nepalesa", ressalvou a nota, a que o Notícias ao Minuto teve acesso.
No dia seguinte, foi possível identificar "todos os intervenientes dessas agressões", tendo as autoridades contado com a informação e os contactos dos polícias do Programa 'Escola Segura', o que levou a que um jovem fosse constituído arguido.
"Das diligências de investigação foi possível sinalizar outras ocorrências violentas associadas ao grupo, a maior parte sem registo de qualquer queixa", complementou o comunicado, adiantando ter-se definido, com o Ministério Público, "a estratégia de investigação criminal que passava pela recolha urgente de prova destas novas ocorrências".
Nessa linha, a operação encetada esta segunda-feira teve como objetivo a detenção de três dos suspeitos "mais ativos do grupo", tendo passado ainda pela "recolha de prova através da realização de seis buscas domiciliárias e outras diligências de investigação".
A força de segurança realçou, assim, ter identificado um total de 11 adolescentes, oito rapazes e três raparigas, com idades entre os 14 e os 16 anos, "que participaram ou presenciaram os atos violentos".
Na verdade, foi possível "relacionar o grupo com oito ocorrências, cinco por roubos e três de agressões, só no mês de janeiro", levadas a cabo por estes jovens "estudantes e residentes na cidade de Olhão".
Vítimas "especialmente vulneráveis" alvo de "extrema violência gratuita"
Os adolescentes comunicavam entre si através de um grupo fechado na rede social Instagram, denominado '8700', procurando escolher "vítimas especialmente vulneráveis, quer em razão da sua naturalidade (comunidades indiana e nepalesa), quer pela sua condição social (de sem abrigo), ou pela idade (vítima de 16 anos)", alicerçando-se "numa extrema violência gratuita e espontânea, especialmente por parte dos três dos jovens com maior ascendência no grupo, hoje detidos".
As autoridades acreditam ainda existirem "também motivações que se prendem com a promoção da sua afirmação nas ruas de Olhão", assim como a um sentimento de pertença ou de integração no grupo, no caso daqueles que acompanharam e presenciaram os atos violentos.
Os suspeitos estão indiciados por cinco crimes de roubo, quatro crimes de ofensa à integridade física qualificada e um crime de dano com violência, que tiveram como alvo, na sua maioria, imigrantes.
"Das oito ocorrências sinalizadas, a PSP só tinha registo de duas delas – um roubo em que a vítima é um jovem de 16 anos português e a desordem num restaurante indiano", assinalou a entidade, sublinhando que "nenhuma das vítimas estrangeiras dos roubos sentiu a confiança necessária para apresentar queixa-crime, o que demonstra bem a sua condição de vulnerabilidade".
A PSP salientou, por isso, que "todos devem ter a confiança necessária para apresentar queixa quando são vítimas de crime, contando sempre com o apoio, a solidariedade e o empenho policial para a salvaguarda dos seus direitos fundamentais", apelando ainda aos cidadãos, particularmente os mais jovens, "para aderirem a uma cultura de inclusão, que promova a paz social, o respeito pelos direitos de todos os cidadãos, não bastando a indiferença perante casos de flagrante abuso".
Grupo “costuma andar por ali”
Recorde-se que um imigrante nepalês foi espancado na noite do dia 25 de janeiro, quando se dirigia até casa. Garantindo desconhecer os motivos por detrás da agressão, o homem adiantou ter ficado sem os 350 euros que tinha consigo, além de ter sido pontapeado, esmurrado e arrastado. Foi também agredido com um pau, tendo um dos agressores tentado, inclusivamente, atear fogo ao seu cabelo.
O homem estaria acompanhado por um colega, que conseguiu escapar ao grupo de cerca de 10 pessoas. Contudo, este viria a encontrar-se com os mesmo jovens dois dias depois, quando roubaram a aliança de casamento à mulher.
Um outro imigrante revelou também que o grupo “costuma andar por ali”, relatando agressões recorrentes no mesmo local. O caso veio à tona depois de vídeos da agressão terem sido divulgados nas redes sociais.
O caso foi amplamente criticado, tendo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, insistido que "não há nada que justifique esse tipo de tratamento desumano, antidemocrático e criminoso, que não pode ser aceite na sociedade portuguesa".
O chefe de Estado terá também encontrado-se com o jovem, "vítima daquele inaceitável comportamento de alguns jovens de Olhão", no restaurante onde este trabalha e onde almoçaram.
[Notícia atualizada às 13h15]
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