Mais de 100 padres suspeitos de abuso sexual de menores continuam a exercer funções, segundo revelou o coordenador da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica, Pedro Strecht.
“Há um número aproximado [de padres acusados] e será claramente superior a uma centena”, disse o responsável em entrevista à SIC Notícias, na noite de segunda-feira.
O psiquiatra avançou ainda que a comissão está a preparar uma lista de acusados que ainda estão no ativo para enviar à Igreja Católica e ao Ministério Público, de forma a que os padres em causa sejam afastados ou proibidos de interagir com menores enquanto decorre a investigação.
Segundo indicou a comissão no relatório final sobre os abusos na Igreja, apresentado ontem, “as punições aplicadas foram diversas: envio para retiros espirituais, destituição de funções, transferência de paróquia, permanência na mesma sob vigilância, redução ao estado laical”, mas “apenas numa minoria houve julgamento nos tribunais civis”.
Fernando Sousa e Silva foi um dos padres acusados de abusos sexuais na vila de Joana, em Vila Nova de Famalicão, mas à SIC Notícias garante estar a ser vítima de uma “injustiça” e uma “calúnia”.
O clérigo mostrou-se reticente em prestar declarações porque, apesar de não estar “proibido” em falar sobre o assunto, foi “recomendado” a não fazê-lo. No entanto, garantiu que a acusação é “uma injustiça, uma calúnia e a seu tempo as coisas vão parecer claras”.
O caso, recorde-se, tornou-se conhecido em setembro de 2022, após o jornal Nascer do Sol ter publicado uma reportagem sobre “os abusos sexuais de menores praticados em Joane durante décadas por um sacerdote, o cónego Fernado Sousa e Silva”.
Já em outubro, o jornal Inevitável deu conta de relatos de abusos sexuais por parte de Fernando Sousa e Silva, em Joane, alegadamente cometidos ao longo de décadas, sobretudo no confessionário.
Dias mais tarde, a Arquidiocese de Braga pediu "perdão" pelos alegados abusos sexuais imputados ao cónego e adiantou que em julho de 2022 foram impostas "medidas disciplinares" ao sacerdote.
Sublinhe-se que a Comissão Independente anunciou ontem que validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas na ordem das 4.815. Dos 512 testemunhos validados, 25 foram enviados para o Ministério Público.
A Comissão revelou ainda que a maioria dos abusadores eram homens e maioritariamente padres.
Leia Também: Mudança legislativa sobre abusos sexuais de crianças até "meio do ano"