Governo dos Açores concorda com moratória à mineração do mar profundo
O secretário regional do Mar e das Pescas dos Açores, Manuel São João, disse hoje concordar com a criação de uma moratória que impeça que se avance com a mineração do mar profundo, em torno das ilhas.
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País Açores
"A mineração do mar profundo nesta região, com os alertas em uníssono da comunidade científica, é incompatível com o que desejamos e defendemos para o maior património dos Açores: o nosso mar", disse o governante, no encerramento de um debate público sobre a mineração marinho, realizado na Horta, por iniciativa da ANP|WWF e da SCIAENA - Associação de Ciências Marinhas e Cooperação.
Para Manuel São João, faz todo o sentido que seja criada uma moratória regional nos Açores, a exemplo do que acontece nas Canárias, que proibia qualquer ação comercial de extração de minerais do fundo do mar no arquipélago, pelo menos até que haja um maior conhecimento científico sobre os impactos dessa mineração.
"Entendemos como adequada uma moratória regional, à semelhança do que tem sucedido com outras regiões, nomeadamente, as Canárias, que além de um limite temporal, faça depender de um grau de conhecimento científico que acautele o ambiente marinho", advertiu o secretário regional do Mar e das Pescas.
O governante lembrou que, mesmo que a exploração de minerais do fundo do mar fosse permitida nos Açores, essa atividade "nem seria controlada pelos Açores", uma vez que a República "retirou" a competência de gestão dos mares dos Açores às autoridades regionais.
Na sua opinião, a mineração do mar profundo deve ser encarada com "redobrada cautela", por não existir extração de minerais "sem perda de biodiversidade" e sem "interferências" nas atividades económicas, designadamente na área das pescas.
"Os Açores, internacionalmente reconhecidos como um oásis para a vida marinha, não podem, no atual estado de conhecimento científico, avançar com qualquer processo que potencie a destruição patrimonial, de forma irreversível", salientou.
Telmo Morato, investigador do instituto Okeanos, ligado à Universidade dos Açores, entende que a eventual mineração do mar profundo da região destruiria a fauna marinha, os corais e a biodiversidade, mas também poderia afetar os cardumes de atuns que atravessam o arquipélago.
"Estas plumas com potencial de toxicidade, derivado à libertação de metais pesados, poderão entrar na cadeia trófica marinha, através do fitoplâncton, e depois ser amplificada, até chegar, por exemplo, aos grandes pelágicos, como os atuns", alertou o investigador da academia açoriana.
Ana Matias, da Associação de Ciências Marinhas, uma das organizadoras do colóquio, entende que os impactos negativos de uma eventual mineração podem ser "muito superiores" e a afetar também a atividade da pesca e mesmo o setor do turismo, através da observação de baleias e golfinhos.
"Estamos a falar de impactos, alguns já estão estudados, mas muitos deles, e sobretudo a sua escala, ainda é muito imprevisível, e isto iria afetar, obviamente, toda a cadeia trófica, e todos os seres vivos que vivem no mar profundo, e também as atividades económicas que dependem do bem-estar do oceano e da passagem pela região de grande migradores, como os cetáceos", observou aquela dirigente associativa.
A ANP|WWF e a Associação de Ciências Marinhas promoveram a realização do debate de hoje para alertar o poder político para a necessidade de se criar uma moratória que impeça a mineração dos mares da região.
As duas associações vão entregar na quarta-feira, na sede da Assembleia Legislativa dos Açores, na cidade da Horta, uma petição subscrita por mais de 380 pessoas, a exigir que os deputados regionais discutam também o assunto.
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