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Invasão russa aumentou coesão na UE e trouxe "maior relevância" à NATO

O presidente do Clube de Lisboa, Francisco Seixas da Costa, defendeu hoje que a invasão russa da Ucrânia gerou "impactos positivos na coesão" na União Europeia (UE) e trouxe "maior relevância" ao papel da NATO.

Invasão russa aumentou coesão na UE e trouxe "maior relevância" à NATO
Notícias ao Minuto

15:23 - 03/03/23 por Lusa

País Francisco Seixas da Costa

Seixas da Costa falava à agência Lusa durante a Conferência Segurança -- Da Europa ao Indo-Pacífico, organizada pelo Clube Lisboa em parceria com a Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA), cujo arranque foi subordinado à guerra na Ucrânia, iniciada com a invasão russa em fevereiro de 2022.

"No tocante à Europa (...) houve aqui um abalo sísmico com a situação na Ucrânia, com impactos na coesão europeia, mas diria no sentido mais positivo, pois a Europa passou a juntar-se mais, e também numa maior relevância do papel da NATO [Organização do Tratado do Atlântico Norte]", afirmou o embaixador.

"Mas, tendo em conta aquilo que se provou ser a importância da NATO na segurança na Europa, com envolvimento maior dos Estados Unidos, ou pelo menos tão relevante quanto o foi no passado, será que se justifica que a evolução da UE se faça no sentido da criação de uma dimensão de defesa e segurança própria?", questionou o presidente do Clube de Lisboa, um centro de reflexão e debates dedicado às questões globais.

Seixas da Costa lembrou que, tendo em conta que a maioria dos países da UE é membro da NATO -- apenas não o são Áustria, Irlanda, Chipre e Malta -- deve ser avaliado se vale a pena criar uma dimensão de segurança europeia ou deixar todo esse esforço para a Aliança Atlântica, sabendo de antemão que os Estados Unidos serão sempre "indispensáveis" ou "inevitáveis".

"Aconteceu na primeira e segunda guerras mundiais e agora no conflito na Ucrânia -- sempre que há uma crise que afeta a segurança europeia, os Estados Unidos vêm a jogo. Serão indispensáveis ou não?", questionou.

Entre os países europeus, adiantou, "há respostas variadas em função da sensibilidade dentro dos países relativamente à relação transatlântica".

Por outro lado, Seixas da Costa considera que também "importa perceber quais são as dimensões de segurança, em particular a que tem vindo a crescer de importância nos últimos anos que é a questão de tudo o que está à volta da China, desde o Índico até ao Pacífico", acrescentou.

Toda esta evolução, prosseguiu o diplomata português, suscitou mais uma nova questão, que é a de tentar perceber se acabou por pôr em risco o multilateralismo.

"Isto é, põe em risco os espaços de discussão das questões em que os países têm, mais ou menos, um peso idêntico? Ou será que o peso das grandes potências - seja os Estados Unidos, a Rússia ou a China - acabará por raptar, no fundo, a ordem mundial e torná-la mais dependente da força do que do diálogo?", questionou o diplomata.

Seixas da Costa destacou, por outro lado, que a invasão russa da Ucrânia trouxe também a necessidade de se debater a questão da energia e do comércio.

"Todos demos conta de que, nesta guerra na Ucrânia, quer o comércio, na questão dos cereais, quer a energia, na questão do petróleo e do gás, acabaram por ser instrumentos desta guerra. Isto levanta problemas sobre a dependência energética sobre a autonomia e a autossuficiência em matéria alimentar, por exemplo, mas também de outras 'commodities'", concluiu.

A conferência, que decorre ao longo do dia de hoje, está dividida em quatro painéis -- Guerra na Europa, Segurança no Indo-Pacífico, Energia e Alimentos como Armas Estratégicas e Entre Multilateralismo e o Poder do Mais Forte - e trouxe a Lisboa cerca de dezena e meia de especialistas europeus, americanos e asiáticos.

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