Estado civil também é tema para destilar ódio nas redes sociais

A ativista que luta contra a imposição de padrões de beleza Catarina Rochinha revela à Lusa que já recebeu mensagens "muito feias", acusando-a de ser "uma pessoa muito triste por ser solteira com 32 anos".

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Lusa
06/03/2023 08:34 ‧ 06/03/2023 por Lusa

País

Crimes de ódio

Catarina Rochinha tem mais de 38 mil seguidores na conta pública de Instagram, uma porta aberta para todos aqueles que querem manifestar ódio de forma fácil e gratuita.

A 'marketeer' de profissão conta à agência Lusa que já recebeu "vários tipos de comentários pouco empáticos e negativos, alguns muito duros, em que se percebe que aquela pessoa não está num sítio bom".

São inúmeras as mensagens de ódio que fazem tocar o telemóvel da Catarina Rochinha, mas a criadora de conteúdos guarda algumas na memória que são difíceis de esquecer.

"Devias ter vergonha do teu corpo. As gordas não deveriam usar biquíni", são alguns dos que mais recebe nas redes sociais.

Contudo, há uma mensagem que lhe chegou ao Instagram, enviada por uma 'personal trainer', que dizia: "a tua gordura visceral está a colocar-te em risco de morte. Se calhar devias morrer já", tendo sido essas as palavras que a deixaram preocupada com a sociedade de hoje em dia, revela, em entrevista, à Lusa.

Catarina Rochinha acredita que estas frases de ódio acontecem pela "falta de empatia, que é a pouca capacidade de nos colocarmos no lugar dos outros, e percebermos que aquilo que está a ser dito tem, de facto, impacto e há pessoas que podem fazer isso de forma premeditada e com o objetivo de magoar alguém, seja por motivos pessoais ou não".

A ativista caracteriza-se como uma pessoa "confiante" e "bem resolvida" com o seu corpo, no entanto, não deixa de admitir que também tem momentos onde a vulnerabilidade vem ao de cima e estas mensagens acabam por afetar e "abrir a capacidade da discussão interna" consigo mesma.

"Comentarem o meu corpo não é uma coisa que me afete, mas se me disserem que devo ser muito infeliz por ter 32 anos e estar sozinha, esta noção de solidão é uma coisa que mexe comigo pela minha personalidade, mas estou resolvida comigo mesma", revela à Lusa.

Para tentar combater os discursos de ódio 'online', Catarina utiliza algumas ferramentas que as redes sociais têm vindo a desenvolver, nomeadamente uma opção do Instagram que restringe os comentários nas publicações das contas que não se segue, tornando o "espetro de comentários muito mais controlado", refere.

"Tenho esta ferramenta ativa não só por mim, como também para as pessoas que seguem a minha página, porque sabem que é um sítio seguro de preconceito, onde se vão sentir bem e que se sintam representadas num sítio onde são aceites", explica à agência Lusa.

O YouTube tem regras de comunidade, uma delas propõe a "remoção, o mais rapidamente possível, do conteúdo que viole as políticas rígidas que proíbem o ódio e o assédio no YouTube, incluindo conteúdo que promova a violência ou o ódio contra indivíduos ou grupos, ou conteúdo que alegue que alguém é mentalmente doente, ou inferior por fazer parte de um grupo protegido", informa a Google Portugal à Lusa.

Segundo o mais recente relatório de transparência divulgado pela Google, mais de 50 milhões de comentários escritos no YouTube foram removidos entre os meses de julho a setembro de 2022 por incitarem ao ódio ou serem abusivos.

Entre os mesmos meses, mais de 156 mil vídeos foram eliminados e mais de 35 mil canais foram excluídos pelos mesmos motivos, isto porque o discurso de ódio não é permitido no YouTube.

É removido "todo o conteúdo que promova a violência ou o ódio contra indivíduos ou grupos", lê-se no relatório.

Catarina Rochinha "abraça" a ideia de que "o amor podia resolver muita coisa na nossa sociedade, se fosse priorizado" e apela para que nunca se deixe que a "diferença seja alvo de algo negativo, porque é isso que realmente nos faz especiais e nos torna especiais", recordando que "a representação da sociedade que nós vemos e consumimos seja nos media, nas revistas, ou nas redes sociais, não é real".

Leia Também: Ativista pelos direitos LGBTQIA+ leu "comentários de verdadeiro horror"

 

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