O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, falou sobre a invasão russa na Ucrânia, este sábado, no âmbito da Cimeira Ibero-Americana, que se realiza em Santo Domingo, na República Dominicana, considerando que estamos perante uma "guerra global".
"A guerra não é europeia, é global. Uma guerra que resulta de uma invasão por parte de uma potência mundial, de um país vizinho, e que intervêm depois com ajudas diretas ou indiretas todas as principais potências mundiais, é uma guerra global. Uma guerra que provoca os efeitos que provocou e está a provocar esta guerra - económicos, financeiros e sociais - em todos os continentes é uma guerra global. Uma guerra que nasceu de uma violação do direito internacional e de princípios que todos percebemos, mesmo aqueles que têm posições diferentes, que é o princípio da integridade do território e o princípio da soberania do Estado, é uma guerra global", enfatizou o Presidente da República durante o seu discurso, que durou cerca de 15 minutos.
Quem perde com a pandemia são sempre os mais pobres. Quem perde com a guerra são sempre os mais pobres
Marcelo Rebelo de Sousa realçou ainda que esta guerra "é histórica" porque, aliada à pandemia de Covid-19, provocou "uma aceleração da inflação, problemas no custo da energia e dos alimentos", além de trazer "sofrimento para os povos mais pobres".
"Quem perde com a pandemia são sempre os mais pobres. Quem perde com a guerra são sempre os mais pobres. Aumentaram as desigualdades no mundo. [A guerra é] histórica porque corresponde ao começo de uma viragem geopolítica no mundo", em que "há potências que continuam globais, há potências que passam a regionais e há novas potências globais", reiterou o Chefe de Estado português.
Marcelo Rebelo de Sousa considerou ainda que o "mundo está a mudar" e essa mudança é "imprevisível", contudo acredita que vai ser "um mundo muito diferente do mundo que nasceu no final do século XX" e 2023 e 2024 "vão ser anos decisivos".
Nesta altura, defendeu, "é mais importante do que nunca reafirmar os grandes princípios" como "o direito internacional, as organizações internacionais, os grandes princípios, aqueles que permitem, como o multilateralismo, ultrapassar o unilateralismo, ultrapassar o protecionismo, ultrapassar o isolamento".
"O mundo ibero-americano, incluindo as Caraíbas, tem um papel único a desempenhar neste mundo que está a mudar. Nós somos muitos. Somos muitas centenas de milhões. Este é um momento de grande responsabilidade para todos nós", reforçou.
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu ainda - no seu discurso feito integralmente em português - que o espaço ibero-americano constitui "uma força de paz no mundo" e tem como tarefa "recuperar o multilateralismo", antevendo que 2023 e 2024 serão "anos decisivos".
"O mundo é multipolar, mas nos últimos tempos deixou de ser multilateral. Temos de recuperar o multilateralismo. E essa é uma tarefa nossa", afirmou.
De recordar que Marcelo Rebelo de Sousa chegou na quarta-feira à noite à capital da República Dominicana, onde na quinta-feira realizou uma visita oficial de um dia, acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.
A comunidade ibero-americana é composta por 22 países, dos quais três europeus, Portugal, Espanha e Andorra, e 19 latino-americanos: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela, México, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Cuba e República Dominicana.
A primeira cimeira desta comunidade realizou-se em 1991, em Guadalajara, no México. Os encontros de chefes de Estado e de Governo repetiram-se, com periodicidade anual, até 2014. Desde então, passaram a ser de dois em dois anos.
Em regra, Portugal tem sido representado nas cimeiras ibero-americanas conjuntamente pelos chefes de Estado e de Governo. O primeiro-ministro e o Presidente da República estiveram juntos e estrearam-se ambos nestes encontros em outubro 2016, na cimeira de Cartagena das Índias, na Colômbia.
Em novembro 2018, Marcelo Rebelo de Sousa participou na 26.ª Cimeira Ibero-Americana, na cidade histórica de Antigua, na Guatemala.
Em abril de 2021, o Presidente da República e o primeiro-ministro estiveram na 27.ª Cimeira Ibero-Americana, em Andorra-a-Velha, Andorra, marcada pela pandemia de covid-19.
[Notícia atualizada às 18h39]
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