Na qualidade de testemunha/ofendido, Cláudio Pereira admitiu porém ter sido o primeiro a agredir o ex-fuzileiro Cláudio Coimbra à saída da discoteca.
O agente da PSP Fábio Guerra, de 26 anos, morreu em 21 de março de 2022, no Hospital de São José, em Lisboa, devido a "graves lesões cerebrais" sofridas na sequência das agressões de que foi alvo no exterior da discoteca Mome, em Alcântara, quando se encontrava fora de serviço.
O Ministério Público (MP) acusou em setembro os ex-fuzileiros Cláudio Coimbra e Vadym Hrynko de um crime de homicídio qualificado, três crimes de ofensas à integridade física qualificadas e um crime de ofensas à integridade física simples no caso que culminou com a morte de Fábio Guerra.
Hoje, no primeiro dia de julgamento no Campus de Justiça, em Lisboa, Cláudio Pereira contou hoje que agrediu Cláudio Coimbra após o ex-fuzileiro, no interior da discoteca, lhe ter dado uma cabeçada na pista de dança e de Vadym lhe ter dado de seguida um murro, também sem motivo aparente.
Tendo sido levado por um segurança para o exterior da discoteca, após sofrer um golpe na testa que lhe cobriu o rosto com sangue, Cláudio Pereira relatou ter ficado à porta do Mome, com mais dois amigos, à espera que agressores saíssem, para lhes "pedir satisfações".
A testemunha disse ainda que, à porta da discoteca, resolveu agredir Cláudio Coimbra porque este começou a "gozar com a situação" da pista de dança, tendo, de imediato, sofrido um murro desferido por Vadym, a que se seguiram outros socos e pontapés na cabeça que o deixaram inconsciente durante alguns minutos. Recuperou a consciência amparado por dois amigos - Pedro Costa e Gonçalo Vieira - que estavam no local.
Por ter estado alguns minutos inconsciente, Cláudio Pereira garantiu não ter presenciado outras agressões, nomeadamente ao polícia à civil Fábio Guerra, tendo tomado conhecimento do que se passara apenas pela conversa dos dois amigos e, mais tarde, pelas sucessivas notícias do caso.
Desta forma, a testemunha disse desconhecer que dentro e fora da discoteca tinham estado agentes da PSP, que nessa noite tinham saído à civil para se divertirem.
A testemunha admitiu ao tribunal, presidido pela juíza Helena Susano, que nessa noite "tinha bebido alguns copos", mas que "não estava nem sóbrio, nem embriagado".
Este ofendido, que depôs por videoconferência ao abrigo do regime de proteção de testemunhas, foi confrontado com vídeos das câmaras no exterior da discoteca, e, em dado momento da sua audição, disse ao tribunal que, à saída do Mome, identificou Cláudio Coimbra como um dos seus agressores no interior da discoteca por ser de "raça negra".
O tribunal ouviu ainda, também por videoconferência, a testemunha Miguel Encarnação, que assistiu às cenas de violência a 20/30 metros da porta da discoteca.
O depoente declarou que "nunca tinha visto ao vivo alguém andar assim à pancada", referindo-se ao arguido Cláudio Coimbra, que veio a saber tratar-se de um campeão amador de boxe.
"Pareceu-me que era uma pessoa que estava à vontade naquela situação. Não era uma guerra de meninos", afirmou a testemunha, precisando que "viu uma pessoa a desferir murros e viu pessoas a cair" em resultado das agressões.
No final do incidente, "ficou uma pessoa estendida no chão", descreveu ainda, aludindo a Fábio Guerra, muito embora na altura não soubesse quem era.
Ambas as testemunhas hoje ouvidas disseram perentoriamente que nunca ouviram ninguém gritar que eram da polícia ou da PSP, tendo Miguel Encarnação ouvido apenas alguém de um grupo envolvido nos incidentes gritar bem alto que era o "Rei do Montijo".
Segundo fontes ligadas ao processo, a pessoa que terá dito essa frase é Clóvis Abreu, o terceiro suspeito da morte de Fábio Guerra e que se encontra desaparecido e fugido às autoridades.
Este julgamento, com tribunal de júri, vai prosseguir na terça-feira com a inquirição de cinco elementos da PSP, quatro homens e uma mulher, que estavam com Fábio Guerra na noite fatídica na discoteca Mome em Lisboa.
Leia Também: Julgamento. Vadym admite soco a Fábio Guerra e Cláudio recorda pontapés