José Ornelas sobre uniões homossexuais: "Jesus nunca recusou ninguém"
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, lembra que "Jesus nunca recusou ninguém", a propósito de questões vistas como fraturantes no seio da Igreja, como as uniões homossexuais ou casais em segunda união.
© Lusa
País Bispo José Ornelas
Eleito para um segundo mandato na liderança do órgão de cúpula do episcopado português já neste mês de abril, José Ornelas, em entrevista conjunta à agência Lusa e à agência Ecclesia, abordou a síntese da CEP para a fase continental do Sínodo dos Bispos, que está a decorrer até 2024, para sublinhar que "o próprio Papa colocou à Igreja estes temas, dizendo, antes de mais, que essas pessoas precisam de ser acolhidas".
"Jesus nunca recusou ninguém por nenhuma dessas questões. Para já, essas coisas nem se punham, nesse tempo, nessa linguagem. Mas, hoje temos questões novas, e o Papa Francisco diz: 'não busquem simplesmente soluções do passado para problemas de hoje. Não vai dar certo'", sublinha o também bispo de Leiria-Fátima, acrescentando que há questões destas que não se podem ignorar.
Segundo a síntese da Igreja portuguesa, apresentada em 07 de fevereiro, em Praga, "há alguma dificuldade em acolher todos de igual forma e em aceitar a diversidade no seio da Igreja (casais em segunda união, pessoas com atração pelo mesmo sexo ou em uniões homossexuais), em valorizar a fragilidade, nomeadamente das pessoas com deficiência, e em compreender o que se entende por 'acolhimento'".
"Há, ainda, tensões diversas em temas ditos fraturantes, tais como: o acesso das mulheres ao sacramento da ordem; a ordenação de homens casados; a identidade sexual e de género; a educação para a afetividade e sexualidade; e o celibato dos padres", acrescentava o documento.
Hoje, José Ornelas questiona: "quando nós sabemos que uma grande parte dos casais, também dos matrimónios que se fazem na igreja, acabam em separação, então essas pessoas são simplesmente postas fora?"
"Portanto, e [tendo em conta] os caminhos que o próprio Papa Francisco foi abrindo nesse sentido, as questões do matrimónio, precisam de ser repensadas e ajustadas, mas não é simplesmente uma questão de Direito. Aí trata-se, sobretudo, de uma abertura para com as pessoas, ajudar a fazer um caminho de verdade, discernimento sobre a sua própria vida", afirma o prelado.
Segundo José Ornelas, "a Igreja não é uma Igreja só de gente perfeita. É de gente que, às vezes, vive situações para as quais uma solução simplesmente normal não chega. Então, tem de se fazer aquilo que aconteceu no Evangelho. Tiveram de 'descapotar' a casa para que um doente chegasse à beira de Jesus. E isto é importante".
"É encontrar soluções novas. E para essas soluções novas é preciso desestruturar algumas coisas. Isto para mim é muito claro", diz.
Já a ordenação de padres casados é uma das questões que "estão em franca discussão", reconhece o bispo, acrescentando que "não é novidade nenhuma. A Igreja Greco Católica do leste europeu, por exemplo, tem padres casados e alguns vivem aqui entre nós, com a sua família e estão ativamente no ministério. E, para eles, causa uma estranheza porque é que a Igreja latina, a partir do Concílio de Trento [1545 a 1563], acabou com os padres casados".
"Portanto, isso é uma questão disciplinar. Ainda há dias o Papa voltou a dizer isto, é uma questão disciplinar. Não é uma questão nem dogmática nem coisa nenhuma, é uma questão que, porém, deve ser discutida e aceite e, digamos, implementada pela Igreja no seu todo e não simplesmente por cada um", diz José Ornelas.
A ordenação de mulheres é, para o presidente da CEP, também "um tema que está em cima da mesa. Não se põe ao mesmo nível dos outros, é mais complexo e, sobretudo, mais do que a complexidade, em termos culturais é algo de diferente. E nós não temos de olhar simplesmente para a Igreja na Europa, mas temos de olhar para a Igreja que está em todo o mundo, em diferentes culturas. Se se chegar a essa conclusão [de ordenar mulheres], a Igreja deve ser preparada para tal e deve fazer o seu caminho".
O mesmo é defendido em relação a outras questões ditas fraturantes.
"Não é simplesmente uma questão de moda. É uma questão de ir ao encontro de uma sociedade que mudou, de uma cultura que está mudando e, portanto, encontrar linguagem, caminhos novos para ir ao encontro dessa cultura", sublinha.
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