10 de Junho. Os "ramos mortos", o (não) recado de Marcelo e as reações
Depois de um discurso intenso, com "lições da história" e "os desafios que se colocam" para o futuro - como o chefe de Estado assim o descreveu -, os partidos voltaram-se para a mensagem de Marcelo Rebelo de Sousa que assinalou o Dia de Portugal e teceram comentários.
© site da Presidência
País Dia de Portugal
As celebrações oficiais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, no Peso da Régua, distrito de Vila Real, ficaram assinaladas pelo discurso do Presidente da República - onde 'marcaram presença' o que pareciam alguns 'recados' ao Governo e ao ministro João Galamba, com o próprio Marcelo Rebelo de Sousa a ter, posteriormente, negado o paralelismo.
Foi cerca das 11h40 deste sábado que o chefe de Estado começou a falar ao país e aos populares presentes no município que acolheu as festividades. Num discurso em que projetou uma visão histórica, Marcelo realçou que Portugal não pode desistir de "criar mais riqueza, igualdade, mais coesão", considerando que só isso permitirá que Portugal continue a ter a sua "projeção no mundo".
Lembrando a influência do país no mundo e questionou: "De que nos serve termos essa influência mundial, se entre portas sempre tivemos e temos problemas por resolver? Mais pobreza do que riqueza, mais desigualdade do que igualdade, mais razões às vezes para partir do que para ficar?".
"É a nossa vocação de sempre: fazermos pontes, sermos plataforma entre oceanos, continentes, culturas e povos. Outros há, e haverá, que são e serão mais ricos do que nós, mais coesos do que nós, mas com línguas que poucos conhecem, incapazes de compreenderem o mundo, de o tocarem e de o influenciar, mesmo aquele mundo que está mesmo à beira da sua porta", disse.
Marcelo pediu ainda um Portugal "mais forte e mais justo cá dentro" e no que podia ser entendido como um recado ao ministro das Infraestruturas, João Galamba, envolto em polémica, o Presidente afincou: "É preciso cortarmos os ramos mortos, que atingem a árvore toda".
Presidente nega referência a "caso específico"
Embora a associação aconteça devido a um panorama de atual crise política e após várias declarações em que Marcelo enviou 'recados' a membros do Governo, o Presidente, desta vez, negou estar a referir-se a um "caso específico" quando disse ser preciso "cortar os ramos mortos" - acrescentando que essa foi uma "mensagem de futuro".
"Num discurso de 10 de Junho fala-se no país, da sua história, com uma visão histórica. Não se fala da última notícia da manhã, de ontem, de anteontem ou do dia seguinte. Isso fala-se noutras ocasiões. Nesses momentos fundamentais fala-se um pouco das lições da história e nós temos, de vez em quando, de conhecer a nossa história, perceber os desafios que se colocam, as lições dessa historia e aquilo que é fundamental que façamos como um todo", apontou posteriormente, quando questionado pelos jornalistas.
Confrontado especificamente sobre o facto de ter afirmado ser necessário "cortar os ramos mortos que atingem a árvore toda", palavras descritas como "fortes", Marcelo disse que esse é o seu "estilo" e que estas são palavras que se aplicam "em toda a vida das sociedades". "Eu uso muitas vezes palavras fortes, é o meu estilo", sublinhou.
Partidos reagem ao discurso de Marcelo
Depois de um discurso intenso, com "lições da história" e "os desafios que se colocam" para o futuro, como o chefe de Estado assim o descreveu, os partidos voltaram-se para a mensagem que assinalou o Dia de Portugal e teceram comentários.
O líder do Partido Social Democrata (PSD) foi um dos primeiros a reagir ao discurso de Marcelo, corroborando as suas palavras e referindo que acredita que o país será capaz de "gerar mais oportunidades", criar "mais riqueza" e fixar os jovens.
"Quero corroborar o que disse o Presidente da República, acredito muito no futuro de Portugal. Tenho esperança de que seremos capazes de gerar mais oportunidades, de criar mais riqueza e fixar os nossos jovens", afirmou Luís Montenegro, que disse querer falar apenas dos "temas muito importantes" do país.
Por sua vez, o presidente da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, defendeu que "mais do que uma poda", o país precisa "de uma árvore nova".
Rui Rocha interpretou as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa entendendo os "ramos que é preciso cortar como ministros", na "metáfora que o senhor Presidente da República quis fazer", questionando, além da permanência no Governo do ministro das Infraestruturas, João Galamba, também a da ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, ou do ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.
Já o dirigente do Partido Socialista, Porfírio Silva, saudou a mensagem de "mobilização, unidade, persistência e continuidade" do Presidente da República.
"O senhor Presidente da República, não se referindo às questões circunstanciais, mas referindo-se ao longo prazo, referindo-se ao essencial, àquilo que faz com que todos nos sintamos orgulhosos de ser portugueses, transmitiu a mensagem importante, que sempre uma mensagem importante para um país enfrentar aquilo que tem que fazer", considerou.
O líder do Chega elogiou o discurso do Presidente da República e apelou ao Governo que corte "os ramos infetados". André Ventura insistiu na existência de uma alternativa à direita.
"O Chega reconhece-se na mensagem do senhor Presidente da República e volta a apelar ao Governo que, neste momento, seja capaz de fazer não só as reformas de que o país precisa, mas de cortar os ramos infetados, degradados, destrutivos, que o país tem que cortar", defendeu André Ventura, num vídeo enviado às redações.
O líder do CDS-PP também elogiou o discurso do chefe de Estado, mas defendeu que "já não basta apenas cortar alguns ramos mortos, porque a árvore já está seca", criticando o executivo socialista.
"O CDS-PP concorda com o senhor Presidente da República quando afirma que Portugal é mais pobreza do que riqueza, mais desigualdade do que igualdade, mais razões para partir, às vezes, do que para ficar. E a liberdade, a saúde, a educação e a Segurança Social são cada vez mais retratos de um país profundamente insatisfeito com a governação socialista", lê-se numa mensagem enviada à imprensa por Nuno Melo.
Recorde-se que as comemorações do Dia de Portugal, de Camões das Comunidades Portuguesas terminaram, no sábado, no Peso da Régua com a tradicional cerimónia militar do 10 de Junho, depois de terem passado pela África do Sul.
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