Uma mulher descobriu, semanas depois de dar à luz no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, que os profissionais de saúde responsáveis pelo parto lhe tinham deixado uma compressa "superior a uma bola de golfe" na vagina, por esquecimento.
O caso é revelado pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS), esta terça-feira, numa das várias deliberações feitas por esta entidade durante o primeiro trimestre de 2023.
De acordo com a ERS, a utente queixa-se de ter sentido "bastante desconforto" no pós-parto, algo que pensava estar relacionado com os "pontos", pelo que foi tomando os analgésicos, que lhe tinham sido receitados, "de forma ininterrupta", durante duas semanas.
Passados 15 dias, o desconforto mantinha-se. A paciente decidiu então marcar uma consulta com a médica que a acompanhou durante a gravidez, que também exerce funções no Santa Maria.
Alguns dias depois, a mulher foi vista pela ginecologista que, ao observar-lhe o períneo, encontrou, "surpreendentemente", uma compressa "do tamanho um pouco superior a uma bola de golfe" na vagina.
Após analisar os elementos apurados no decurso da instrução dos autos, a ERS concluiu que a conduta dos profissionais do Santa Maria foi, neste caso, "negligente e desrespeitadora".
Além disso, segundo a mesma deliberação, o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, ao qual pertence o Hospital de Santa Maria, "não esclareceu", quando questionado, "em que moldes é que é efetuada a 'revisão vaginal após o parto', nem tão pouco resulta dos autos que essa prática esteja vertida em procedimentos e regras escritas".
Perante isto, a ERS emitiu uma "instrução" ao CHULN no sentido de garantir o respeito pelos "direitos e interesses legítimos dos utentes, nomeadamente, o direito aos cuidados adequados, tecnicamente mais corretos, com humanidade e prontidão".
Além disso, a ERS sublinha que é necessário que o CHULN adote "procedimentos aptos a garantir que todos os instrumentos e/ou compressas" utilizados no decurso do trabalho de parto "são corretamente removidos, assegurando, a todo o momento, a qualidade e a segurança dos cuidados de saúde prestados".
Por fim, realça a ERS que as unidades hospitalares devem cumprir, em permanência, as regras da notificação de incidentes e eventos adversos, adotando procedimentos e/ou normas internas para a identificação, registo e comunicação de erros.
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