A Polícia Judiciária (PJ) está a realizar buscas, na manhã desta terça-feira, nas instalações do Reino do Pineal, em Oliveira do Hospital.
"A Polícia Judiciária, através da Diretoria do Centro, no desenvolvimento das investigações em inquérito do DIAP de Coimbra, está a realizar buscas domiciliárias e não domiciliárias na área do concelho de Oliveira do Hospital, por referência à comunidade autodesignada por 'Reino do Pineal'", revelou a PJ em comunicado.
Segundo a mesma nota, a operação envolve investigadores e peritos da PJ, Autoridades Judiciárias e conta com significativo apoio da GNR, do SEF e com a participação de entidades da Segurança Social e da Saúde.
"Estas diligências visam o esclarecimento do circunstancialismo que determinou a morte de uma criança com cerca de um ano de idade, ocorrida em 2022, bem como factualidade associada", acrescenta a PJ.
A informação de que estariam a decorrer buscas no Reino do Pineal foi inicialmente avançada pelo Jornal de Notícias que adiantou que em causa, além da morte de um bebé, estaria também a possível ilegalidade de alguns elementos da comunidade em Portugal. O Notícias ao Minuto já havia tentado esclarecer estes dados junto da PJ, que remeteu esclarecimentos para mais tarde.
Recorde-se que o Reino do Pineal tornou-se notícia nas últimas semanas, depois de uma denúncia ao Ministério Público (MP) dar conta da morte de um bebé de 14 meses, em 2022.
Ao Notícias ao Minuto, o MP confirmou anteriormente "a existência de um inquérito relacionado com a matéria", acrescentando que o mesmo "encontra-se em investigação na 1.ª secção do DIAP de Coimbra".
O inquérito acabou por ser apenso a um outro, relacionado com a mesma comunidade, e que tinha sido iniciado em fevereiro do ano passado, após a Câmara Municipal de Oliveira do Hospital "ter reportado um conjunto situações".
Em causa estará "a alegada construção de equipamentos de forma irregular", bem como "festas que ali ocorriam e poderão estar relacionadas com tráfico de droga", para além de "eventuais burlas, relacionadas com donativos de membros da comunidade".
À Lusa fonte do MP disse que existia ainda "um processo de promoção e proteção na Família de Menores" relativo a outra criança que "não foi registada pela mãe e está sem identificação de pai". Neste caso, foi espoletada por familiares uma averiguação oficiosa da paternidade.
O bebé que morreu era filho de Água Akbal Pinheiro e Gabriela Luna Pinheiro, os líderes desta congregação espiritual. De acordo com informações confirmadas por fontes ligadas à seita junto da revista Visão, a gravidez de Gabriela não terá sido acompanhada e o parto não terá tido assistência clínica. A criança não teve também qualquer vacina e com um ano continuava apenas a fazer a alimentação via amamentação.
Em declarações ao Notícias ao Minuto, a família Pinheiro disse que "quaisquer alegações de maus-tratos são falsas e injustificadas". Referindo não querer alongar-se sobre o tema da morte, a família Pinheiro revelou ainda que "nasceram três outros bebés na jurisdição" da comunidade e que "as mães e os bebés estão todos saudáveis e bem".
Também o líder da comunidade do Reino do Pineal, o autodenominado Água Akbal Zizi Pinheiro, afastou receios de uma eventual investigação criminal pela morte do bebé. "Diz que estamos em sarilhos e que vamos enfrentar uma investigação criminal. Não temos medo, porque estamos a fazer o trabalho de Deus. Estamos a viver a nossa vida legalmente e pacificamente. Não temos contratos com empresas ou corporações. Somos um povo pacífico", afirmou, em declarações à SIC Notícias.
O líder espiritual disse que a criança que morreu tinha uma doença nos rins e no fígado, levando a família - que não registou o nascimento da criança junto das respetivas entidades portuguesas - a procurar "ajuda médica particular", sem sucesso. Acrescentou ainda que "todos os meses morrem milhares de bebés nos hospitais".
Quando questionado sobre o porquê de nem o nascimento, nem o óbito da criança terem sido reportados às autoridades portuguesas, Água Akbal Zizi Pinheiro referiu apenas que a comunidade "não tem contratos com o Estado português", nem "com nenhuma corporação portuguesa".
Note-se que as suspeitas em torno do Reino do Pineal foram primeiramente levantadas pela revista Visão, que escreveu sobre "A misteriosa seita que se instalou no Interior e quer formar um Estado soberano dentro de Portugal".
Nessa reportagem, a revista relatou que a seita - da qual fazem agora parte entre 40 a 100 membros - é liderada por um antigo 'chef' de cozinha estrangeiro que pretende formar ali, tal como indica o próprio título, um reino soberano.
[Notícia atualizada às 11h26]
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