"É muito difícil responder a essa pergunta", disparou Mário Silva, aluno do 2.º ano da Escola Básica dos Carvalhos, Vila Nova de Gaia, quando questionado sobre a sua atividade preferida do programa que está a frequentar, enquanto os pais trabalham e não chegam as férias em família.
"Para mim, são os insufláveis e aquele dia em que aprendemos a fazer bolinhas de sabão", ajudou Beatriz Pinto, do 1.º ano da Escola Senhora do Monte.
São dois dos milhares de alunos que frequentam o Gaia Aprende+, um programa criado há quase 10 anos pela Câmara de Vila Nova de Gaia, distrito do Porto, que "transforma" as instituições particulares de solidariedade social (IPSS) do concelho numa espécie de agência de viagens fundida em empresa de organização de eventos.
"Aqui não se para nem um momento e priorizamos as atividades pedagógicas, mas lembrando sempre as crianças. Embora estejam em ambiente escolar, estão em férias. Transformamos as escolas em polos, com um plano de atividades diversificado. Este projeto dá uma resposta social aos pais o ano inteiro", descreveu, à Lusa, Vítor Ferreira, coordenador do projeto na Olival Social, uma das 10 instituições que aderiu ao programa da câmara.
Dedicado ao pré-escolar e ao 1.º Ciclo, o Gaia Aprende+ distribui-se, este verão, por 28 polos, sendo que cada IPSS pode "gerir" mais do que um polo. As crianças podem frequentar as atividades das 07:30 às 19:00 ao longo de várias semanas entre julho e setembro. Depois, o programa volta ao ativo no Natal e na Páscoa e nas interrupções letivas de semestre.
Ao preço de inscrição -- valores que variam conforme o escalão de cada família -- acresce o pagamento de um seguro para alunos que frequentam o programa pela primeira vez. O valor inclui lanche da manhã e da tarde.
Dada a procura, a Câmara de Vila Nova de Gaia está a testar alguns polos nas escolas EB2/3, para poder, "depois de alguns ajustes, aumentar a capacidade de inscrições".
"O que se está a pensar é numa resposta para os alunos que frequentam o 2.º ciclo", disse à Lusa fonte da autarquia.
Em causa está um projeto iniciado no ano letivo 2014/15 que, embora interrompido com a pandemia da covid-19, já acolheu 35.058 alunos.
A frequência mensal média é de 6.765 alunos durante o ano letivo, 1.890 por semana durante as interrupções letivas e 2.120 por semana nas férias letivas.
Este verão, o programa está a registar um 'boom' de inscrições sobretudo em julho. A Olival Social chegou a ter quase 500 crianças em cada um dos três polos que dinamiza.
"Julgamos que existem três fatores que contribuem para esta subida dos números: a qualidade do projeto, a comparticipação familiar de cariz social que nunca sofreu atualização desde o início do projeto e o momento particular da vida nacional em que a inflação representa uma ameaça para o rendimento familiar" descreveu, em resposta escrita à Lusa, a autarquia.
Vítor Ferreira acrescenta um quarto fator: o passa a palavra entre crianças e encarregados de educação que se conhecem ali e às vezes se reencontram na escola.
Há três anos a liderar esta pasta dentro da Olival Social, Vítor Ferreira já ouviu muitos desabafos e agradecimentos de pais sobre as dificuldades de retaguarda à escola quando esta entra em pausa escolar, mas também ouviu suspiros de filhos quando avistam os pais no portão ao fim do dia: "Já? Oh mãe, amanhã anda mais tarde. Não vês que estou a brincar?!".
Idas à praia e a parques aquáticos, oficinas de trabalhos manuais, culinária e ciência, jogos de conhecimento e jogos tradicionais, caças ao tesouro e muitas outras são as atividades que preenchem as semanas de férias de crianças dos 3 aos 10 anos inscritas no Gaia Aprende+. O programa também dá apoio a irmãos até aos 12 anos.
Andreia Santos, mãe de um menino de 8 anos que frequenta este programa desde o pré-escolar, e de uma menina de 3 que vai entrar na escola em setembro, é uma das "adeptas" do projeto quer pela "segurança" que dá aos pais quer pelo acesso a atividades que as crianças têm.
"É uma boa ajuda à família. Temos os miúdos ocupados e seguros. Não estão sem fazer nada enquanto trabalhamos e as atividades que aqui fazem são lúdicas. Não haveria outra hipótese, porque as nossas férias não são compatíveis com tantas pausas escolares", referiu.
Para quatro semanas de Gaia Aprende+, e sem direito a descontos dado o escalão em que está inserida a família, Andreia pagou 120 euros. À Lusa, contou que recorre ao programa praticamente em todas as pausas letivas até para que os filhos tenham acesso a atividades "giras e educativas a um preço razoável".
"Uma família de quatro gastaria para cima de 50 euros no Zoo de Santo Inácio e o Mário foi com os amigos, nas férias, voltou feliz, aprendeu, brincou e tudo a um preço muito razoável", descreveu a mãe, longe do olhar do filho que, no entanto, pareceu adivinhar a conversa.
"Já sei o que mais gostei de tudo: o passeio ao zoo. Mas é mesmo muito difícil escolher, porque à medida que passa temos ainda mais coisas boas. Também gosto de andar de bicicleta e de quando ensinaram a fazer sais de banho. Gosto de tudo. O importante é brincar. A minha mãe diz que brincar é muito importante", rematou.
A Câmara de Gaia iniciou o projeto com um investimento anual de 450 mil euros. Em 2021/2022 o investimento foi de 2,2 milhões.
Este programa é promovido em articulação "direta" com os agrupamentos de escolas, as juntas/uniões de freguesia e as associações de pais, competindo às instituições de solidariedade social a gestão local.
Leia Também: Festival de música clássica em Guimarães dá palco a alunos afegãos