O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, comentou, no domingo, a seita do Reino do Pineal, em Oliveira do Hospital, lamentando que o caso seja "tratado com leveza".
Segundo o autarca, em declarações na CNN Portugal, o problema desta seita "não está em irem à Câmara de Oliveira do Hospital pedirem independência [de Portugal], o problema existe quando sabemos que houve uma criança que morreu, com poucos meses, que foi cremada por aquela comunidade e que as cinzas foram atiradas ao rio".
"Há ali profanação de cadáver, que é um crime e há, muito provavelmente, negligência e abandono, que atinge outras crianças", frisa Rui Rio, recordando que "vemos o líder da comunidade com comportamentos que, no mínimo, devem ser investigados e tratados com cuidado".
"Eu acho que se fosse um casal qualquer que vivesse em Lisboa ou no Porto, que tivesse resolvido incinerar o corpo de uma criança e decidido atirar as cinzas ao mar, seguramente já estaria preso mas como é uma comunidade, entendeu-se, para já, nada fazer", elabora o autarca do Porto.
Questionado sobre o fato de ser um terreno privado, não podendo a polícia invadi-lo, Rui Moreira recorda as buscas realizadas na casa do ex-presidente do PSD, Rui Rio. "Nós vimos a polícia a invadir a casa de Rui Rio, por isso não percebo porque é que o facto de ser uma quinta privada há de impedir que haja uma intervenção musculada".
"A minha maior preocupação não são os adultos que podem aderir a esta seita, o que me preocupa são as crianças e o que me parece é que por ser uma comunidade, estamos a tratar este assunto com uma leveza que não trataríamos se fosse alguém da sua ou da minha família", frisa.
Recorde-se que o líder do Reino do Pineal, Água Akbal Zizi Pinheiro, esclareceu que 100% dos nascimentos ocorridos na seita tiveram sucesso, tendo, para além de Samsara (o bebé que morreu em abril de 2022), nascido outras quatro crianças, que se encontram "saudáveis e felizes".
A própria comunidade já tinha dito ao Notícias ao Minuto que respeita "os métodos de nascimento mais naturais e mais seguros, de acordo com a natureza e sem intervenções desnecessárias", asseverando que "com a ajuda de especialistas experientes", a taxa de sucesso da comunidade "para um parto saudável é de 100%, sem quaisquer complicações".
Os membros do Pineal argumentaram ainda que "quaisquer alegações de maus-tratos são falsas e injustificadas", e que a mãe da criança se mantém na comunidade, "ainda de luto pela sua morte". O corpo da criança foi cremado, num funeral que incluiu "cânticos cerimoniais e uma reunião dos membros para testemunhar a cremação e o enterro dos entes queridos na infeliz ocasião em que a morte possa ocorrer".
Ao Notícias ao Minuto, o Ministério Público (MP) confirmou "a existência de um inquérito relacionado com a matéria", acrescentando que o mesmo "encontra-se em investigação na 1.ª secção do DIAP de Coimbra".
A Polícia Judiciária salientou também que iria investigar as circunstâncias da morte de uma criança, que terá ocorrido, há cerca de um ano, no seio de uma comunidade que se instalou no concelho de Oliveira do Hospital.
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