Ser portador de VIH e ter uma vida sexual segura
Artigo de opinião assinado por Cristina Mora, psicóloga clínica, diretora técnica e vice-presidente da AHSeAS – Associação Humanitária de Saúde e Apoio Social.
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País Artigo de opinião
"Em finais dos anos 80, recordo que comecei a ouvir de amigos e conhecidos: «Fulano está com SIDA». Era uma morte anunciada. Passaria pouco tempo para ouvir dizer que «Fulano morreu».
Ainda durante os anos 90, para mim e para muitos, VIH e SIDA eram a mesma coisa.
Uma grande maioria descobria a infeção numa fase de SIDA, descobria ter VIH quando adoecia. Quem sabia do diagnóstico precocemente, não acreditava em longevidade e muitos, desistiam da vida acreditando que, em breve, não existiria vida para eles. Desistiam dos estudos, reformavam-se cedo, afastavam-se da família e dos amigos (em muitos casos, eram estes que se afastavam deles), desistiam da sua vida sexual.
Em 40 anos de VIH em Portugal, muito mudou:
- A informação fidedigna está mais disponível, quer através da Internet, quer através das várias Organizações Não Governamentais (ONG), espalhadas pelo país, que disponibilizam informação, esclarecimento, formação e também, materiais de prevenção e rastreio da infeção por VIH;
- Hoje é fácil conhecer o estatuto serológico para o VIH, através do rastreio comunitário disponibilizado por muitas das ONG ou laboratorialmente, com prescrição médica. Com o conhecimento e consciência dos comportamentos de risco praticados, é possível ser-se diagnosticado precocemente;
- É inegável a espetacular evolução da terapêutica antirretroviral, que atualmente confere uma qualidade de vida e longevidade das pessoas que vivem com VIH, muito semelhante à da população em geral. Atualmente, VIH e SIDA é a forma mais correta de abordar esta matéria (e não VIH/SIDA). Há uns anos dizíamos: “o VIH é o vírus que provoca a SIDA”, hoje podemos dizer: “O VIH é o Vírus que pode provocar a SIDA”. O diagnóstico precoce da infeção e o cumprimento da medicação, permitem que não se atinja a fase de SIDA;
- A PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) permite proteger as pessoas de contraírem a infeção por VIH;
- Indetetável = Intransmissível (I=I). Evidências científicas demonstram que a toma correta e sem interrupções da medicação antirretroviral, reduz a quantidade de vírus no organismo ao ponto da análise não o detetar (Indetetável). Atingindo e mantendo esta situação, o VIH não se transmite nas relações sexuais (Intransmissível).
Estas evidências proporcionaram uma grande mudança na forma de viver e de conviver com o VIH.
Atualmente, a pessoa que vive com VIH, pode ter uma vida saudável e sendo o sexo a principal via de transmissão do vírus, a evidência I=I permite-lhe vivenciar a sua sexualidade de forma saudável e segura. Assim sendo, importa tomar consciência da importância do tratamento antirretroviral e do seu cumprimento, para atingir e manter a indetetabilidade do vírus no seu organismo.
Viver com VIH, não significa abstinência sexual, de todo. Tão pouco deve pressionar e restringir a vida sexual. Com ou sem VIH, os comportamentos sexuais devem ser vividos de forma consciente e responsável, de forma segura para as pessoas envolvidas. Com parceiro(a) ocasional, o uso de preservativo não deve ser descurado. Com parceiro(a) regular e numa relação de confiança, abdicar do preservativo deve ser apenas após conhecer o estatuto serológico para o VIH e outras IST. A PrEP é ainda uma forma de proteção da infeção por VIH.
Para quem vive com VIH, a diferença passa por cumprir o tratamento para viver sem carga viral detetável.
Sim, é perfeitamente possível viver com VIH e ter uma vida sexual segura.
Importa que todas as pessoas que vivem com VIH e todas as que não vivem com VIH o saibam.
Cabe-me a mim, a si, cabe-nos a tod@s, estar informados e difundir a informação, sem mitos, sem estigma, sem preconceitos."
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