Golpe militar de Pinochet no Chile? "Foi marcante para a minha geração"

O primeiro-ministro, António Costa, esteve em Santiago do Chile em junho de 2017, ocasião em que recordou a "brutalidade e a crueldade" do golpe militar de Pinochet há 50 anos, que considera ter marcado a sua geração.

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Lusa
08/09/2023 ‧ 08/09/2023 por Lusa

País

António Costa

No âmbito de uma visita oficial que realizou ao Chile, depois de uma passagem pela Argentina, António Costa e o então ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, estiveram no Museu da Memória e dos Direitos Humanos de Santiago.

Além da deslocação ao museu, a então chefe de Estado chilena, Michelle Bachellet, também levou o primeiro-ministro português à sala do Palácio de La Moneda - a sede do Governo - em que o socialista e presidente democraticamente eleito do Chile, Salvador Allende, pôs termo à sua vida no dia 11 de setembro de 1973, antes de ser apanhado pelas tropas do general Augusto Pinochet.

"O golpe de Estado de Augusto Pinochet e a posterior ditadura chilena foram marcantes para a minha geração", declarou António Costa aos jornalistas.

O primeiro-ministro revelou que a primeira manifestação em que participou foi mesmo uma de protesto contra o golpe chileno, logo em 13 de setembro de 1973, mas em Itália, porque Portugal continuava então sob o regime do Estado Novo de Marcello Caetano e Américo Tomás.

"Por mera casualidade, nessa altura, em setembro de 1973, estava de férias com a minha mãe em Milão. Este episódio acabou por ser decisivo para a participação política, para as convicções democráticas e para o amor à liberdade de toda uma geração", sustentou.

António Costa disse ainda que essa visita que realizou em Santiago do Chile, entre os dias 14 e 15 de junho de 2017, o fez regressar "vários anos atrás".

"É importante manter viva a memória, porque [ditadura] nunca mais. Estes anos de brutalidade e crueldade não podem ser esquecidos", frisou então o primeiro-ministro, depois de ter visto vários vídeos com depoimentos de homens e mulheres que resistiram à tortura nas prisões.

Durante a visita que fez ao Museu da Memória, António Costa observou atentamente capas de jornais do período pós-golpe e que refletiam a imposição da censura na imprensa.

O "El Mercurio", o jornal que nessa altura o mais influente do Chile, titulava logo a 12 de setembro de 1973: "Partidos marxistas estão à margem da lei".

Por diferentes secções do museu, o primeiro-ministro consultou documentação variada de uma época caracterizada pelo clima de guerra fria entre os Estados Unidos e a União Soviética - uma conjuntura que a maioria dos historiadores contemporâneos associa diretamente ao golpe ditatorial chileno.

António Costa demorou-se especialmente no setor dedicado à solidariedade internacional de apoio à resistência chilena. E identificou imediatamente alguns dos cartazes que viu expostos naquele museu.

No terceiro e último andar, o museu documenta com vídeos, fotos e cartazes a festa após a derrota de Augusto Pinochet no plebiscito de Outubro de 1988 e o regresso a uma Constituição democrática no ano seguinte, em coincidência com o fim da guerra fria.

Para a desagregação do regime de Pinochet, de acordo com a tese da Comissão da Verdade e Reconciliação chilena, muito contribuiu a vista do Papa João Paulo II ao Chile, em 1987. O Papa recebeu publicamente, contra a vontade do poder vigente, uma delegação de sindicalistas da Central Unitária de Trabalhadores.

Até 05 de outubro de 1988, quando o general ditador perdeu o plebiscito para prosseguir no poder, a Comissão de Verdade e Reconciliação do Chile registou 40 mil cidadãos torturados e cerca de três mil mortos, 60 por cento dos quais nos primeiros meses após o golpe.

Leia Também: Costa no Chile nos 50 anos do golpe que derrubou democracia de Allende

 

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