Para José Ornelas, "Jesus não hesita em aplicar a 'tolerância zero' para quem pratica tais atos que devastam as vidas de inocentes".
"A verdade e autenticidade da Igreja tem de se manifestar na forma como acolhe e cuida de quem foi vítima de tais feridas, para assegurar a sua dignidade e o seu futuro, e para procurar, através da sensibilização e formação dos agentes pastorais, que tais dramas não venham a repetir-se".
Este é um dos alertas contidos na Carta Pastoral "Pelo batismo somos Igreja viva e peregrina", lançada hoje pelo bispo de Leiria-Fátima, na qual reconhece que "o sentido de desmotivação e de crise invadiu muitos cristãos, seja por desalento e dúvida, seja pela indiferença e pelo pensar que o normal, na sociedade de hoje, já não é ser crente".
No documento, dirigido aos católicos da diocese, José Ornelas lembra que "situações de escândalo contrárias ao Evangelho, bem como alguns aspetos da proposta de vida da Igreja que não são entendidos, provocam dúvidas e deserção ou, pior ainda, indiferença".
"Em toda a Igreja se sente que este é tempo de mudança e que exige atenção, fidelidade criativa e coragem. Não podemos fechar-nos no medo ou no passado, nem na simples condenação deste mundo que está a nascer, com tantos desafios. A Igreja sempre acompanhou e provocou a mudança e este é um tempo especial para estar presente", escreveu o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) na sua carta pastoral.
Para o prelado, que se encontra em Roma a participar na Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos que hoje começou, "o percurso sinodal em curso (...) quer ser promotor desse tomar a sério o momento histórico" atual.
"Todos nós temos consciência e experiência da radical e profunda mudança em que estamos envolvidos, que atinge toda a humanidade e afeta o planeta em que decorre a nossa vida. Essas transformações têm uma dimensão rápida e global, atingindo todo o mundo em pouco tempo, e nem sempre com efeitos positivos", lembrou José Ornelas.
Advertiu, no entanto, que "embora seja desejável e benéfico em si mesmo, o desenvolvimento científico e tecnológico não dá resposta sustentável e justa aos problemas da humanidade se não for acompanhado de igual desenvolvimento de uma ética responsável e humanizadora, acompanhada de um crescimento espiritual que a sustente".
Na carta, o bispo de Leiria-Fátima deixa ainda o desejo de que o "espírito juvenil" da Igreja vivido na Jornada Mundial da Juventude realizada em Lisboa em agosto não se extinga "com o apagar das luzes da ribalta".
"É importante que, em cada comunidade, os jovens tenham real oportunidade de exprimir a sua forma de viver e de sonhar a fé, de entrar no processo de discernimento e de decisão das comunidades, de sonhar a Igreja (...). É preciso abrir as portas e dar espaço aos jovens e aos outros que estão fora da Igreja, ou que são tentados a sair dela", acrescentou.
O bispo de Leiria-Fátima alertou ainda que "a Igreja não é um clube de boas pessoas que se separa dos outros para se resguardar de maus contágios. Pelo contrário, ela abre as portas para que possa contagiar a sociedade com o fermento da vida, da libertação, da fraternidade do Evangelho".
Neste contexto, reconheceu que a diocese "está a receber ondas, cada vez mais numerosas, de imigrantes", que procuram melhores condições de vida e segurança e dão um importante contributo ao país e à sociedade.
"É um sinal do nosso tempo que não nos pode passar ao lado. Eles constituem um desafio à nossa capacidade de abrir as portas, de acolher, de lhes dar a conhecer o rosto de Cristo e da Igreja, que não discrimina, não explora, mas que acolhe, integra e partilha", sublinhou.
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