Ativistas do Climáximo começam a ser julgados após bloqueios de trânsito
Três jovens ativistas do movimento Climáximo começaram hoje a ser ouvidos no Campus de Justiça pelos crimes de desobediência e atentado à segurança de transporte rodoviário, no que é o primeiro julgamento de manifestantes do movimento ambientalista.
© Reprodução / Climáximo
País Climáximo
As três jovens arguidas, com cerca de 20 anos, foram detidas pelas autoridades numa manifestação em 4 de outubro, quando empunharam durante 20 minutos uma faixa de alerta sobre a emergência climática, bloqueando o trânsito, num protesto não autorizado.
Duas das três arguidas alegaram que eram apenas simpatizantes do movimento, tendo participado em reuniões de trabalho e de esclarecimento, mas Eva Falcato admitiu que integrava o coletivo Climáximo, uma "organização horizontal" onde "todos têm uma opinião" sobre o que fazer para "sensibilizar as pessoas para a emergência ambiental".
Na intervenção inicial, o juiz afirmou que as três arguidas "perceberam os avisos da polícia e recusaram abandonar a via" e que "sabiam que incorriam em desobediência qualificada". A moldura de cada um dos crimes de que as arguidas estão acusadas pode ir até aos cinco anos de prisão.
"Como não nos deixaram ir para a Assembleia da República", como estava previsto na manifestação de 4 de outubro, "encontrámos uma passadeira e sentámo-nos lá", explicou Eva Falcato, que tentou explicar a natureza inorgânica do movimento, rejeitando estar a cumprir ordens.
"O que eu fiz até agora foi organizar eventos", mas o Climáximo é composto por "apoiantes que se reveem nas causas" e "qualquer um pode imprimir as suas camisolas e dizer-se apoiante", explicou a jovem professora de música.
Questionada no julgamento sobre se estava arrependida de ter desobedecido à ordem da polícia, Eva Falcato argumentou: "Estou arrependida, mas ao mesmo tempo estou a tentar perceber o direito à manifestação, porque estamos em crise climática e eu continuo a achar estranho que isto seja crime".
Em causa está o facto de aquela ação específica - ocupar uma passadeira com uma faixa - não estar autorizada, algo que a arguida disse desconhecer ser necessário para uma "concentração de três pessoas", o número de jovens que empunhava a referida faixa.
As outras duas arguidas disseram ser simpatizantes do movimento e reafirmaram estarem muito preocupadas com a emergência climática, lamentando que a ausência de ação do Estado nesta matéria.
Na quarta-feira, os ativistas ambientais do movimento colaram-se, no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, a um avião que iria fazer a ligação entre Lisboa e Porto, numa ação para criticar as emissões de gases com efeito de estufa "absurdas, mortíferas (...) e completamente desnecessárias" destas ligações curtas quando existem alternativas de transporte.
O protesto surgiu na sequência de diversas ações ao longo das últimas semanas, como o bloqueio de várias ruas e estradas, o arremesso de tinta ao ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, bem como ao edifício da FIL e a um quadro de Picasso no Museu de Arte Contemporânea - Centro Cultural de Belém (MAC/CCB), e o preenchimento com cimento dos buracos de um campo de golfe no Lumiar.
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